Pesquisa do Comitê Gestor da Internet também revela que crianças e adolescentes das regiões Norte e Nordeste possuem menos acesso a infraestrutura de estudos à distância do que pessoas do Sul e do Sudeste
A desigualdade social no Brasil ficou, mais uma vez, escancarada na pesquisa TIC Educação 2022, divulgada pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) no último dia 25 de setembro. Entre as principais revelações do estudo, o mais completo retrato da evolução do uso da Internet por estudantes dos ensinos Fundamental e Médio no país, estão dados que mostram que crianças e adolescentes indígenas e de pele preta têm acesso significativamente menor a infraestrutura tecnológica para estudar em casa, como complemento às aulas presenciais. Enquanto 72% dos estudantes brancos dos ensinos Fundamental e Médio têm computador e internet nos seus domicílios, esse índice cai para 51% entre os pretos e 43% entre os indígenas.
As diferenças, de acordo com a pesquisa, também são marcantes no recorte geográfico. A infraestrutura tecnológica para estudos em casa é uma realidade de 72% dos estudantes da região Sul, 68% do Sudeste, 64% do Centro-Oeste, 50% do Nordeste e apenas 45% do Norte.
Já no quesito acesso à Internet no domicílio, sem considerar a existência ou não de computador para os estudos, o índice de penetração é de 96% nos centros urbanos e de apenas 71% nas áreas rurais.
“A apropriação dos recursos digitais por estudantes e educadores na criação de oportunidades de aprendizagem e na construção de conhecimentos é o que torna a conectividade, de fato, significativa na educação”, diz Alexandre Barbosa, gerente do Cetic.br, órgão vinculado ao Comitê Gestor da Internet.
Programas de conectividade
Em 2021, o Congresso Nacional aprovou a Lei 14.172, de universalização da conectividade no Ensino Básico público, e destinou R$ 3,5 bilhões para que os estados e o Distrito Federal implantem o ensino híbrido como ferramenta educacional para 22 milhões de estudantes de famílias inscritas no CadÚnico, indígenas e quilombolas. A iniciativa parlamentar foi motivada pelo déficit de aprendizagem gerado pelo primeiro ano da pandemia, quando milhões de alunos do sistema público de ensino ficaram meses sem aulas. A estratégia para a recuperação desse déficit, portanto, é a realização de atividades pedagógicas nas casas das crianças e adolescentes, como um complemento às aulas presenciais, com o uso de infraestrutura tecnológica de conexão à internet.
Alguns estados, como Alagoas, Amazonas, Bahia, Espírito Santo e Goiás, concluíram seus processos licitatórios e de tomadas de preço para iniciar, neste segundo semestre, a distribuição de chips gratuitos para mais de 2 milhões de estudantes. Ao mesmo tempo, o Governo Federal, por meio do Programa Internet Brasil, lançado no fim de 2022, pretende fornecer acesso à Internet para 700 mil estudantes de famílias de baixa renda de diversas regiões do país.
Solução Pernambucana
Esses programas, tanto os estaduais como o federal, contrataram o sistema de conectividade gerenciada Conecta+Educação, desenvolvido por uma startup de Pernambuco, a Base Mobile. As diferentes funcionalidades da plataforma apoiam os gestores escolares no controle do uso dos recursos públicos e estimulam os estudantes a realizarem as atividades pedagógicas. O filtro de conteúdo na nuvem, por exemplo, é inviolável e assegura que o pacote de dados móveis seja utilizado apenas para fins educacionais. Já o chip universal, tecnologia aplicada pela primeira vez no setor educacional, permite a troca da operadora de dados móveis de maneira remota, em busca do melhor sinal de internet. Por outro lado, os estudantes contam com trilhas de aprendizado e conteúdos digitais para se sentirem estimulados a realizar suas atividades.
De acordo com Rivaldo Paiva, CEO da BaseMobile, em entrevista para o Portal Empreendedor, “anteriormente, os governos usavam chips convencionais e sistemas de bloqueio instalados nos aparelhos. Com isso, os estudantes podiam facilmente burlar o sistema e usar o pacote de dados custeado pelo poder público para outros fins que não os educacionais”. A tecnologia do chip universal possibilita também ao consumidor trocar facilmente de prestador de serviços, por questões de instabilidade ou perda de sinal, ou mesmo por diferença de preços. “Com isso, dá mais poder aos usuários”, conclui Rivaldo.