Negócios de impacto

Programa Zunne encerra primeira rodada de captação com R$ 3,2 milhões para apoiar negócios de impacto no Norte e Nordeste

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167 investidores com causa que emprestaram, em condições acessíveis, R$ 3,2 milhão para 13 negócios de impacto socioambiental do Norte e Nordeste.

*Foto de capa: Da esquerda para direita, Francisco Vicente (Yunus Negócios Sociais Brasil), Ticiana Rolim (Somos Um) e Marcos Pedote (Trê)

O Zunne, programa de investimentos em impacto positivo, levantou R$ 3,2 milhões em sua primeira rodada de captação, encerrada no último mês de novembro, para financiar 13 negócios sociais. O programa foi criado para apoiar e impulsionar negócios cujos produtos ou serviços resolvem problemas sociais e ambientais no Norte e Nordeste do Brasil, ou nos biomas da Amazônia e Caatinga, com prioridade para negócios liderados por mulheres e/ou pessoas pretas e indígenas.

A proposta do programa de fomentar uma nova rota de investimentos que não gire apenas em torno do Sudeste e democratize não só o acesso aos recursos – no caso dos negócios investidos – mas proporcione a oportunidade de mais pessoas tornarem-se investidoras, considerando valores acessíveis para iniciar o investimento – atraiu olhares e recursos de 167 investidores. Destes, 92 investiram até R$ 3 mil no programa através da plataforma de empréstimo coletivo Trê-Mova.

O Programa Zunne utiliza uma abordagem inovadora chamada de Blended Finance (finanças híbridas), quando une-se capital filantrópico e investimento privado. Desta forma, o Zunne contou com R$ 1,5 milhão de capital catalítico (doações) que possibilitaram sustentar a estrutura do programa oferecendo apoio técnico/mentoria aos negócios e a criação de um fundo garantidor de inadimplência próprio do programa.

Nesta primeira rodada de investimento, concluída no mês de novembro, o Zunne mobilizou R$ 4,7 M de capital entre doações de apoio à estrutura do programa e financiamento dos negócios sociais investidos. Para isso, o Programa utilizou uma plataforma de empréstimo coletivo – a Trê MOVA – que permite a vários investidores alocarem recursos diretamente nos negócios que mais se identificarem. Os segmentos e causas dos negócios são muito variados: Moda consciente, turismo sustentável, reformas habitacionais, educação, alimentação orgânica, etc.

“Fechar a primeira rodada de investimento do Zunne para negócios de impacto no Norte e Nordeste é um marco. Estamos mostrando a potência dessas regiões e que, com oportunidade, podemos transformar os desafios sociais em negócios que transformam vidas”, afirma Ticiana Rolim, presidente da Somos Um e uma das idealizadoras do Programa.

“Demos o primeiro passo do Programa Zunne, engajando 167 investidores com causa que emprestaram, em condições acessíveis, R$ 3,2 milhão para 13 negócios de impacto socioambiental. São 167 pessoas vivendo sua primeira experiência de cidadão investidor – busca retorno financeiro no seu investimento ao mesmo tempo que gera impacto positivo visando o bem comum”, explica Marcos Pedote, co-fundador e diretor executivo da Trê Investindo com Causa.

O programa nasceu a partir da percepção que a Somos Um, a Yunus Negócios Sociais e a Trê Investindo com Causa, três organizações de impacto socioambiental positivo, tiveram de enxergar o Norte e o Nordeste como grandes polos empreendedores, apesar de serem as regiões mais pobres do País, e da falta de instrumentos para viabilizar que o dinheiro dos investidores chegue até essas regiões.

De acordo com o 3º Mapa de Negócios de Impacto Socioambiental, estudo realizado pela Pipe.Social, apesar de haver uma equidade de gênero (mulheres estão presentes em 67% dos negócios mapeados e os homens, em 71%), negócios administrados apenas por um time feminino tendem a receber menos recursos financeiros e outros apoios para evoluir na jornada, quando comparados a negócios liderados apenas por um time masculino. Com isso, elas estão menos presentes entre os negócios em fase de escala (25% contra 35%) e são menos aceleradas (20% conseguiram esse apoio contra 32% dos negócios liderados apenas por homens). Quando as empreendedoras são mulheres negras e indígenas esse desafio se torna ainda pior.

“Nós tínhamos um sonho antigo de dar esse primeiro passo consistente de investimento em negócios de impacto nas regiões Norte e Nordeste. E nada melhor do que sonhar junto com parceiros como a Trê e a Somos Um, unir forças e complementaridades, em prol da geração do impacto socioambiental positivo nos territórios. Para nós, mobilizar capital para soluções desses empreendedores do Zunne, em sua grande maioria mulheres, é a realização desse grande sonho idealizado e realizado em conjunto”, comemora Francisco Vicente, diretor de investimento da Yunus Negócios Sociais Brasil.

“O Zunne é um instrumento criado pelas nossas três organizações para viabilizar que o dinheiro chegue no Norte e Nordeste. Justamente para democratizar o acesso aos recursos de investimento, trazer oportunidades para as empreendedoras nortistas e nordestinas. Vamos apoiá-las com mentorias e investimento para que possam prosperar tanto quanto outras regiões e para aquelas que historicamente têm mais dificuldades, possam garantir acesso aos recursos”, explica Ticiana Rolim.

Os dados do Programa Zunne em relação à liderança dos negócios reforçam o apoio à diversidade. Entre os selecionados, 77% têm mulheres na liderança e o mesmo indicador (77%) se refere à quantidade de negócios que são da região Nordeste, seguido por 15% do Norte e 8% do Sudeste.

Os 13 negócios escolhidos pelo Zunne que já receberam recursos por meio da Plataforma Trê-Mova de empréstimo coletivo são:

  • Catarina Mina (Moda consciente – possui liderança feminina – Ceará);
  • Giardinno Buffet (Trabalho digno – possui liderança feminina – Ceará);
  • Muda Meu Mundo (Marketplace B2B – alimentação orgânica);
  • Na’kau (Trabalho digno – alimentação orgânica – Amazonas);
  • Oikos (Moradia digna – Ceará);
  • Poranduba Amazônia (Turismo sustentável – Amazonas);
  • Refazenda (Moda consciente – possui liderança feminina – Pernambuco);
  • Roma Negra (Espaço cultural – possui liderança negra – Bahia);
  • SDW (Sanemento básico – Bahia);
  • Sucré (Empregabilidade feminina – Ceará);
  • Um grau e meio (Conservação ambiental – São Paulo);
  • Yantec (Educação e tecnologia – Alagoas).

Além do apoio financeiro, o Zunne oferece capacitação com especialistas nas áreas jurídica, financeira, de marketing digital e vendas, gestão de negócios e outras; auxílio e orientação na obtenção de acesso a capital em diferentes formatos, conexões com redes de potenciais clientes e parceiros e coleta de dados financeiros e de impacto para mensuração do impacto alcançado.

O Zunne oferece ao investidor retorno de 10% ao ano sobre os aportes (equivalente ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) + premiação), além de fundo garantidor de inadimplência em até 20%. O prazo de carência será de seis meses e o retorno do investimento será em até quatro anos. “Não é um programa de investimentos como os convencionais, que buscam a lucratividade, é uma ação que visa prioritariamente o impacto social”, completa Ticiana.

Os empréstimos ocorrem de forma coletiva e deverão variar entre R$ 100 mil a R$ 500 mil e as taxas de juros sociais girarão em 14,8% ao ano, ou seja, 1,2% ao mês. Os pagamentos poderão ser realizados em até quatro anos, com seis meses de carência.

Com a nova capitalização e a incorporação também de novos aliados estratégicos, a Somos Um, a Yunus Negócios Sociais e a Trê Investindo com Causa já estudam aumentar o tamanho da operação, por meio de maior presença entre negócios liderados por mulheres negras e indígenas e de mais estados no Norte e Nordeste.

Saiba mais sobre o Zunne acessando o site: https://programazunne.com.br/