Como Liderança Impacta Nordeste e Fellow do programa Vozes que Inspiram, fui uma das Nordestinas no encontro que reuniu jovens mulheres de todo o país em São Paulo. Conheça a visão de jovens excepcionais sobre os desafios e potencialidades em trabalhar com impacto.
Apesar das mulheres liderarem o cenário do impacto social brasileiro, é necessário tomar cuidado para que nós não sejamos tragadas pela máquina da meritocracia.
E, para isso, o senso de comunidade é essencial, principalmente entre mulheres nortistas e nordestinas, que enfrentam a xenofobia em um cenário centralizado no eixo Centro-Sul do país.
Esta reflexão surgiu das minhas experiências do programa Vozes que Inspiram da Vital Voices Global Partnership e Procter & Gamble (P&G), onde ingressei e evolui exponencialmente graças ao contato com redes de mulheres da minha região.
Sobre o programa Vozes que Inspiram
A Vital Voices é uma organização que investe em mulheres líderes que resolvem os maiores desafios do mundo e, em parceria com a P&G, criou o programa Vozes que Inspiram para apoiar jovens mulheres que estão causando um impacto positivo a partir de iniciativas locais sustentáveis e transformadoras na Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Guatemala, México, Panamá e Peru.
E após 4 edições de muitas trocas e aprendizados, decidiram realizar um “roadshow” de impacto reunindo jovens em 6 dos países presentes no programa, incluindo o Brasil. Entre os dias 28 e 29 de Fevereiro, vivenciamos atividades de networking com participantes inspiradoras a sessões individuais de mentoria com executivas da P&G.
Dentre as participantes estavam as jovens Nordestinas:
Isla Santos é do sertão de Sergipe, graduada em Direito e co-fundadora e diretora-presidente da ONG O Berço, dedicada a desenvolver, empoderar e conectar mães adolescentes em situação de vulnerabilidade social.
Janine Feitosa é do Vale do São Francisco em Pernambuco, graduanda em Psicologia e é engajada em causas sociais e ambientais, liderando ações de educação ambiental e emocional com crianças em escolas das comunidades em torno do Rio.
Mariana Nunes é uma jovem ativista da saúde mental e direitos humanos do Recôncavo Baiano. Graduanda em Administração, aos 17 anos fundou a Rede Autoestima-se (Organização Nacional em Saúde Mental e Educação Socioemocional) que mobiliza voluntários e profissionais da psicologia.
Luana de Souza criada na periferia do Coroadinho em São Luís do Maranhão. É graduanda em Arquitetura e Urbanismo e ativista socioambiental. Desde 2020, é articuladora nacional do grupo de ativismo ambiental Engajamundo e trabalha em projetos socioambientais em sua cidade.
Aline Montenegro é de Fortaleza, no Ceará. Graduanda Geofísica, medalhista em olimpíadas científicas e Diretora Geral do ElaSTEMpoder, organização social que visa incentivar a participação de meninas e mulheres em STEAM.
E eu, Sabrina Cabral, direto da periferia de Fortaleza no Ceará. graduanda em Engenharia Civil, ativista pela construção de comunidades sustentáveis do Nordeste e fundadora da Ruma, que trabalha o tema a partir de jovens de comunidades social e ambientalmente vulneráveis da região.
Nordestinas mundo afora
Apesar do que o texto insinua, a aglomeração de mulheres do Norte-Nordeste no cenário de liderança não é um fenômeno incomum, sobretudo em contextos periféricos e rurais.
A partir da minha experiência e das trocas com as outras fellows, alguns dos motivos por trás desse fenômeno são:
- A sensação do “eu também posso”, que surge ao ver os jovens de edições anteriores de programas como o ‘Vozes que Inspiram’ com contextos e realidades próximas à minha;
- O compromisso inconsciente de reconhecer, indicar e potencializar o trabalho de outras mulheres Nordestinas, como forma de devolver à sociedade tudo o que conquistou;
- E, por fim, o motivo mais impactante: a sensação de solidão ao ser a única nos espaços de protagonismo, presente principalmente na mulher negra, LGBTQIA+, PCD, indígena, etc.
Nossas jornadas não se limitam apenas a enfrentar os desafios comuns do empreendedorismo, como a falta de acesso a recursos financeiros e reconhecimento, algo que discutimos bastante entre as fellows e mentoras.
Estamos também na vanguarda do empoderamento feminino e do desenvolvimento social. Através de nossos empreendimentos e projetos, buscamos não apenas o sucesso pessoal, mas também o impacto positivo na vida de outras mulheres e de nossas comunidades como um todo.
E pensando no impacto social no Brasil, isso faz sentido.
De acordo com o relatório “Periferias e Filantropia: As barreiras de acesso aos recursos no Brasil” da iniciativa Pipa em parceria com o Instituto NU, 68% dos trabalhadores da linha de frente de projetos no país são sobretudo mulheres.
Além disso, Norte e Nordeste possuem 54% das organizações de impacto do Brasil e, apesar de ativos em seus territórios, não possuem registro oficial/CNPJ, dificultando ainda mais o acesso aos recursos.
Em última análise, o sucesso das mulheres empreendedoras no Nordeste não é apenas uma questão de igualdade de gênero, mas também uma questão de justiça social, climática e econômica.
Ao promover seu empoderamento e fornecer as ferramentas e recursos necessários para prosperarem, estamos investindo não apenas no crescimento econômico da região, mas também na construção de uma sociedade mais equitativa e inclusiva para todos.
Essas mulheres são verdadeiras líderes de mudança, e é hora de reconhecer e celebrar seu papel crucial no futuro do Nordeste, do Brasil e do mundo.