Para amenizar os desafios será necessário que os líderes identifiquem oportunidades e tracem ações que sejam viáveis e mensuráveis.
Recentemente saiu o relatório da pesquisa Panorama ESG (2024), da Amcham-Brasil e Humanizadas. A pesquisa foi realizada com lideranças de todo o Brasil. Dos que responderam, 57% ocupam cargos de alta liderança, com a grande maioria dos entrevistados representando médias ou grandes empresas (69%), principalmente em SP (+40%).
No Nordeste, a participação foi novamente menor que 10%. Atuando em Consultoria para MPEs, principalmente no Ceará e na Bahia, vejo na prática em alguns fatores listados, realidades distantes dos pequenos negócios, e talvez essa pouca participação de empresas da região não demonstre a disparidade que ainda existe, quando comparado a empresas de São Paulo, por exemplo.
Os dados apresentados nos dizem muito o quanto ainda precisamos percorrer na região para nos conectarmos com uma nova economia, que amplia a forma de pensar e de fazer negócios, onde além do lucro, a geração de impacto social e ambiental são prioridades, inclusive influenciando fortemente na governança. Essa nova forma de agir direciona o alcance das metas atrelado à geração de valor para todas as partes interessadas.
Eu particularmente sinto que vem crescendo, ainda que a passos lentos, o interesse pelo tema com a busca por momentos de sensibilização ou capacitação, desenvolvimento das lideranças, participação em eventos, benchmarks. Outra forma que tem conectado as pequenas empresas é a implantação de práticas ESG a partir das necessidades ou da orientação de clientes e/ou parceiros.
Voltando à pesquisa, as conclusões apresentam alguns pontos de maior relevância:
1. crescente adesão à agenda ESG – 71% das empresas já estão implementando iniciativas sustentáveis, segundo os líderes que participaram.
2. Importância da Liderança – Os CEOs são reconhecidos por 77% dos entrevistados como essenciais na promoção da agenda ESG.
3. Motivações para adoção ESG – buscar ter impacto mais positivo em questões ambientais e sociais – 78%, fortalecer a reputação no mercado – 77% e fortalecer a relação com os stakeholders – 63%.
4. Desafios e oportunidades – dificuldade na mensuração de indicadores ESG (40%), ausência de uma cultura forte ESG (32%) e falta de recursos financeiros (30%).
5. Progresso nas práticas ESG.
A “Importância da Liderança” está associada ao que venho reforçando: em qualquer projeto, programa ou ação para transformação organizacional é fundamental que a liderança esteja 100% comprometida, em todos os níveis, mas principalmente com o engajamento e patrocínio da alta liderança.
No Capitalismo Consciente, a Liderança está em um dos pilares, e traz como premissa que os líderes são responsáveis por conectar todos a causa da Organização (Propósito), criando valor para os stakeholders e fortalecendo a cultura. Quando a pesquisa mostra que as lideranças são fundamentais para a promoção da agenda ESG reforça que precisamos ter líderes preparados entendendo como deve ser uma jornada de transformação.
Ter lideranças conscientes de seu papel é fundamental, e o pilar da Liderança Consciente traz a oportunidade das organizações terem à frente pessoas que estão cuidando de pessoas com alinhamento aos valores e princípios, com o olhar para o desenvolvimento e para as práticas humanizadas, forte direcionamento para as questões sociais, ambientais e de DE&I, fortalecendo uma cultura de confiança, que favorece diretamente um ambiente de trabalho saudável, ponto de extrema relevância em um mundo onde as organizações tem contribuído para os elevados índices relacionados a saúde mental.
Sem líderes conscientes, a agenda ESG ficará comprometida. O avanço da pauta já tem no caminho desafios suficientes, como a própria pesquisa apresenta, fora outras dificuldades que estão no universo dos pequenos negócios, que ainda estão amadurecendo a pauta.
Para amenizar os desafios será necessário que os líderes identifiquem oportunidades e tracem ações que sejam viáveis e mensuráveis. Não há resultado fácil ou rápido em nenhum processo de transformação organizacional, mas para o menor avanço que seja, será necessário o primeiro passo.
Jana Ricarte é Administradora, Consultora Organizacional na Ricart Consultoria – Gestão, Processos & ESG, Especialista em Liderança Estratégica e em Consultoria em MPEs. Multiplicadora B, Colíder do Capitalismo Consciente Nordeste.