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Rede Cria potencializa comunidade em Fortaleza por meio da economia criativa

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Com projetos que colaboram para fomentar as habilidades criativas de crianças e mulheres, a Rede Cria promove a educação, o acesso à diversidade artística e cultural, a cidadania, a defesa e preservação do patrimônio imaterial do povo cearense. Conversamos com Vivi Façanha, coordenadora da Rede Cria, sobre as estratégias da organização para promover transformação social nas comunidades em que atuam.

*Foto de capa: Prática de fotografia na comunidade da Graviola ministrada por Nágila Gonçalves (Sal Files)

Imagine um espaço de fortalecimento solidário e criativo, e que a partir da identidade da cultura local, desenvolve meios de gerar renda por meio de boas ideias, potencialidades e características próprias, transformando a realidade socioeconômica da comunidade, com atividades em áreas como cultura, artes e entretenimento.

Parece utópico, mas esse espaço existe na comunidade da Graviola, Praia de Iracema, em Fortaleza. A Rede Cria realiza esse papel junto ao território oferecendo capacitação e formação de habilidades artesanais e criativas, fomentando a produção coletiva e cooperativa, valorizando a cultura e as tradições locais, e assim proporciona um espaço de empoderamento econômico e inclusão social.

A organização foi fundada em 2019 pela gestora de projetos Vivi Façanha e a produtora cultural Fabrícia Gois. A empresa segue duas linhas de atuação: Cultura e Infância, focados na educação patrimonial através da arte e suas relações de memória e afeto com seus territórios; e a Economia Criativa, trabalhando para empoderar mulheres em todas as esferas da sociedade, oferecendo programas de treinamento, mentorias e recursos para promover a participação ativa das mulheres na economia e na tomada de decisões.

O Governo do Ceará reconhece que a economia solidária se apresenta como alternativa inovadora de geração de trabalho e renda através da instituição da Política Estadual de Fomento à Economia Solidária (Pefes), a partir da sanção da Lei nº 17.916 pelo ex-governador Camilo Santana. 

“A economia solidária está alicerçada no conjunto de atividades econômicas, como distribuição, consumo, poupança, tudo por autogestão, cuja característica mais forte é a palavra comunidade. É dentro dela que surgirá o aspecto associativista e cooperativista”, observa o economista e membro do Conselho Regional de Economia do Ceará (Corecon-CE), Davi Azim.

Assim, a Rede Cria não só capacita seus participantes com habilidades práticas, mas também proporciona uma mentalidade de cooperação e solidariedade, essencial para a construção de uma comunidade mais justa e sustentável. Para falar mais sobre o assunto, a Impacta Nordeste conversou com Vivi Façanha, gestora de projetos e coordenadora da Rede Cria. Confira a entrevista. 

Como surgiu e quais são os projetos que a Rede Cria?

A Rede Cria surge em 2019 muito dessa vontade de contribuir para que diversas potências criativas dentro dos territórios da cidade, que muitas vezes são invisibilizadas, possam ter oportunidade de serem protagonistas. Ela surge nessa perspectiva de ser uma incubadora criativa e trabalhar com essas pessoas através dos seus anseios, ouvindo e percebendo o que elas precisam, e a partir disso realizar formações, dar suporte e de consultorias para impulsioná-las. 

Estamos há 5 anos realizando esse trabalho, com mais de 12 projetos em Fortaleza, Caucaia e Pacatuba, que impactaram mais de 4.200 pessoas. Hoje estamos com dois programas ativos: um ligado a economia solidária, com projetos de artesanato e gastronomia, e outro com cultura e infância, através da educação patrimonial e da arte. Essas atividades já acontecem há 4 anos na comunidade da Graviola, na Praia de Iracema, Fortaleza. 

Como a Rede Cria fomenta a economia solidária? Quais impactos essa abordagem proporciona?

Nós temos dois projetos que acontecem há quatro anos: o Artesanato em Rede e Mulheres do Mar. Começamos com um grupo pequeno de artesãs na comunidade da Graviola, na Praia de Iracema, em Fortaleza, como uma demanda delas para potencializar esse trabalho.

Laboratório de criação do projeto Artesanato em Rede (Foto: Rede Cria)

Nós criamos juntamente com essas mulheres a Rede Graviola, que é uma rede criativa que leva o nome da comunidade. No âmbito dessa rede, criamos três coleções de moda com peças feitas por elas, sempre dando esse suporte, oferecendo consultorias com designers de produtos, de marketing, de gestão de negócios, para que essa marca (a Rede Graviola) possa estar inserida no mercado criativo de Fortaleza. Então, o objetivo é que essa marca possa gerar renda para essas mulheres, para empoderá-las, e assim contribuir para a redução das desigualdades de gênero.

Esse projeto modificou a vida dessas mulheres, é muito impactante. Muitas delas hoje já têm outras parcerias, porque a gente veio, dentro dessa perspectiva de fomentar parcerias. Nós criamos parcerias com outras marcas colaborativas aqui de Fortaleza, para que essas mulheres pudessem vender, comercializar essas peças, para abrir um canal de venda para elas, se empoderar cada vez mais e assim fazer a marca Graviola crescer. 

Como a Rede Cria apoia o empreendedorismo feminino e a geração de renda?

Outro projeto que a gente realiza dentro desse programa, é o Gastronomia em Rede, que está na sua segunda edição e que fomenta o empreendedorismo feminino. Nós trabalhamos também com mulheres da comunidade da Graviola que comercializam pratos de forma informal. Elas passaram por um grande ciclo de formação, onde elas puderam compreender outras técnicas de produção gastronômicas.

Circuito Gastronomia em Rede (Foto: Rede Cria)

Ao final do projeto, fizemos um circuito gastronômico em parceria com grandes restaurantes da cidade. Elas produziram um menu gastronômico, aumentaram as suas vendas e participaram de feiras criativas na cidade.  

É muito legal a gente ver o impacto desse projeto na vida dessas mulheres, que contribui fazendo essa conexão entre elas e essas feiras, dando também oportunidades para que elas possam, cada vez mais, expandir a sua potência criativa.

Como a educação patrimonial para infância se entrelaça com a produção artística?

Nós temos outro programa ligado à cultura e infância e os projetos são muito ligados à questão do protagonismo infantil. Um deles é o projeto “Se essa casa fosse minha”, que começou em 2019 e agora está na sua terceira edição. A gente trabalha com as crianças da comunidade da Graviola com o objetivo de que elas possam retratar, através da arte, essa relação de memória e afeto com esses territórios em que vivem.

Nesse projeto nós utilizamos muitos recursos das artes visuais, como o desenho, a pintura, a fotografia, o lambe lambe e os quadrinhos; mostrando pelo olhar delas o lugar de afeto onde moram. 

Fotógrafa Beatriz Souza na comunidade da Graviola (Foto: Sal Files)

Já no projeto “Em cada canto uma narrativa”, doze crianças participaram de vivências criativas que as estimularam a desenvolver seu imaginário criativo com o objetivo de criar suas próprias contações de histórias. Elas contaram essas histórias no palco principal do Teatro José de Alencar. 

Porque essas ações são realizadas na comunidade da Graviola, na Praia de Iracema?

Eu sou moradora aqui da Praia de Iracema há mais de 20 anos. E aí sempre me incomodou muito essa contradição socioeconômica que existe dentro desse bairro. A Praia de Iracema é o bairro que tem um dos maiores IDH de Fortaleza. Entretanto, existem as comunidades, como a da Graviola, em que os moradores não têm acesso aos espaços que o bairro oferece. 

A Rede Cria vem dentro dessa perspectiva, de como podemos contribuir para que essas pessoas possam ocupar esses espaços. Também, essa é uma das ações que nós realizamos através de visitas a esse espaço, visitas às exposições, visitas a todos esses equipamentos culturais que existem ao redor da comunidade.

Comunidade da Graviola (Foto: Sal Files)

A Graviola é um lugar que tem uma potência criativa gigantesca, um lugar de pessoas incríveis e muito criativas. A Rede trabalha nesse território muito a partir dessa vontade de atuar junto nesse lugar de afeto.

Quais os desejos para a Rede Cria daqui a 5 anos? 

Lá na comunidade temos um espaço cedido pela Paróquia de Santa Luzia, mas precisamos ter uma sede própria. É muito difícil ainda, porque uma sede requer um investimento maior. Estamos nos planejando e esperamos que, em cinco anos, teremos a nossa sede, e que ela fique aqui na Praia de Iracema. Queremos continuar trabalhando com essas mulheres e também ampliar os projetos para outras comunidades de Fortaleza.

Sempre trabalhando dentro dessa linha de memória de afeto, dentro dessa perspectiva de incubação, com essa pegada de estar lá contribuindo com essa galera para que elas possam crescer e mostrar essa potência criativa. Essa é a Rede Cria é isso que a gente faz. É isso que a gente quer fazer daqui a cinco anos, mais e melhor, impactando mais pessoas.