Algumas organizações têm sido pioneiras no fomento aos negócios de impacto social no Nordeste. É o caso do SEBRAE, que no Rio Grande do Norte, está cumprindo um papel fundamental na disseminação do conceito e no incentivo a novos negócios através do Impacta RN, um programa de pré-aceleração criado para apoiar os empreendedores de negócios de impacto social ou ambiental para que se desenvolvam e ampliem o resultado de suas ações.
Com a ajuda do SEBRAE, o Rio Grande do Norte foi pioneiro na criação de políticas públicas voltadas para o setor com a implementação da Lei n° 10.483, que institui a política estadual de investimentos e negócios de impacto social, assinada pela governadora Fátima Bezerra, em 02 de abril de 2019, em evento na sede da entidade.
Para saber mais sobre os planos do SEBRAE/RN para esse setor, as conquistas e desafios do Programa Impacta RN nos últimos anos, conversamos com a Mona Paula Nóbrega e o Daniel Dias, gestores do projeto Desenvolvimento de Negócios de Impacto Social do SEBRAE/RN.
Como foi o primeiro contato do SEBRAE RN com os negócios de impacto social?
R: O Sebrae RN atua com o tema desde 2017, quando iniciamos projetos com foco em negócios inclusivos, atuando junto as empresas de Energia Eólica que operam no Rio Grande do Norte. Com a aproximação com outros ecossistemas mais maduros, como Sudeste e Sul, conhecemos iniciativas e empreendedores sociais que geravam lucro e transformação socioambiental. Desde então iniciamos o processo de fomentar o empreendedorismo social e os negócios de impacto em nosso estado, divulgando o tema e apoiando iniciativas que gerem impacto social positivo.
O que mais chamou atenção para esse, relativamente novo, modelo de negócios?
R: Diante dos desafios postos em nosso país e mundo, é urgente um esforço coletivo e sincronizado para resolução de problemas socioambientais. A era da transformação digital nos possibilita identificar soluções mais rápidas e escaláveis, e muitas vezes, a um custo extremamente baixo quando comparado a alguns anos atrás. Os negócios de impacto, alinhados a essas possibilidades, são uma forma promissora de acelerarmos a agenda 2030 envolvendo o empreendedorismo, este sempre foi o melhor caminho para a geração de renda e empoderamento das pessoas, se torna agora o melhor caminho para superarmos enormes problemas socioambientais. O Empreendedorismo que transforma tem propósito e sustentabilidade financeira.
Algum case chamou mais atenção? Por quê?
R: Acreditamos que os melhores casos são aqueles que geram mais impacto. O programa Vivenda traz de maneira muito prática o impacto na vida das pessoas, gera qualidade de vida através da redução das condições insalubres dos moradores da periferia. Os negócios escaláveis também são fantásticos, como é o caso da UP Saúde, que através da tecnologia consegue dar celeridade no atendimento do SUS, reduzindo meses de espera para um procedimento médico a milhares de brasileiros que aguardam atendimento. Podemos citar outros grandes casos, mas deixaremos que o IMPACTA Nordeste compartilhe conosco alguns deles!
Como e quando o SEBRAE RN iniciou a estratégia para incentivar os negócios de impacto no estado?
R: Em 2017 submetemos um projeto ao Sebrae Nacional, que acreditou no potencial do Rio Grande do Norte de fomentar o empreendedorismo social. A estratégia focou fortemente na identificação dos atores do ecossistema local e empoderamento dos mesmos. Levamos a temática dos negócios de impacto para as instituições de ensino superior, através dos cursos de extensão em empreendedorismo social e negócios de impacto e das maratonas de negócios sociais; Investimos e capacitamos as incubadoras do estado de modo que pudessem abrir suas portas paras os negócios sociais, estimulamos o ecossistema das startups com editais de aceleração para novas ideias de negócios, capacitamos todo corpo técnico do Sebrae RN em empreendedorismo social, além da abertura de diálogo com os atores públicos até a promulgação da lei estadual de investimentos e negócios de impacto.
Como foi o processo de criação do programa Impacta RN?
R: Ao analisar o cenário local dos negócios de impacto do Rio Grande do Norte, observamos negócios em diversos estágios de maturidade, uns em fase de ideação outros de venda, mas ambos com necessidades em gestão e viabilidade. Assim o programa impacta nasceu com o objetivo de apoiar empreendedores sociais no Rio Grande do Norte na estruturação de seus negócios de forma profissional e sustentável, para que crescessem e ampliassem seu impacto de forma financeiramente viável. Estruturamos a metodologia com base na nossa atuação e com referência a instituições que já atuam no ecossistema de impacto, como Sense Lab, ICE, Quintessa, Artemisia e tantas outras. Estamos na segunda edição do Programa IMPACTA RN e a cada ano implementamos melhorias nesse processo, adequando nossas soluções de mentorias, consultorias e capacitações às realidades dos negócios, ao ecossistema e as novas tendências do setor 2.5.
De uma forma geral, qual foi a primeira impressão sobre as empresas e empreendedores sociais que conheceram através do programa Impacta RN? Poderia destacar algum case que chamou atenção pelo potencial?
R: As empresas do IMPACTA RN são inspiradoras. Eles possuem em seu modelo de negócio o propósito firme de gerar impacto positivo, seja ambiental ou social. E estão comprometidas na transformação dos seus entornos. Podemos destacar muitas delas nesse sentido, algumas mais maduras no contexto de negócios sociais que outras. A TIDMO que atua na área de serviços, incluindo mulheres em situação de vulnerabilidade social no mercado de trabalho, gerando renda prestando serviços de qualidade por meio de uma plataforma digital. A T3EDU que atua com longevidade – economia prateada (idosos) inserindo-os na era da transformação digital. A Mag Music que leva a possibilidade para surdos-mudos a aprender música através de um instrumento que facilita a aprendizagem em sala. E diversos outros que se destacam pelo propósito como levar educação as classes CDE com qualidade e diferencial, como Cec Baby, Trilha Criativa.
Quais são os maiores desafios para os negócios de impacto no RN e no NE?
R: Os maiores desafios para os negócios de impacto da nossa região é sustentar modelos de negócios viáveis, que de fato gerem lucro para sustentarem seus propósitos. Isso é um desafio para todos os negócios sociais do mundo, entretanto os do RN e Nordeste, não contam com um ecossistema maduro que possa apoia-los nas suas jornadas de desenvolvimento. Temos poucas incubadoras, aceleradoras, investidores e programas estruturantes para dar suporte às iniciativas. Muitos negócios sociais só obtiveram sucesso após receberem diversos investimentos a fundo perdido e terem participado de diversos processos de aceleração e acompanhamentos. É muito comum negócios saírem do Nordeste para tentarem em outras regiões oportunidades de crescimento. Então, resumiria como maior desafio a criação de um ecossistema forte e comprometido com os impactos gerados por esses negócios. Por isso é tão importante a identificação dos atores, sua articulação e a criação de agenda. Acreditamos que o comitê criado com a lei estadual seja um segundo passo para fortalecimento desse ecossistema aqui no RN.
Quais são os erros mais comuns cometidos pelos empreendedores sociais no qual teve contato?
R: Acredito que os erros mais comuns estação relacionados a três itens: PROBLEMA (não se debruçar sobre a problemática mais profundamente; realizando análises superficiais sobre a problemática e restringindo o impacto), MODELAGEM DE NEGÓCIO (desalinhamento entre tese de impacto e modelo de negócio, não identificando nesse processo a interação entre beneficiários e clientes e suas diferentes formas de monetização), MENSURAÇÃO (fragilidade na mensuração dos impactos gerados em seus negócios).
Qual foi a maior vitória do programa Impacta RN?
R: Dar visibilidade aos negócios sociais do RN, mostrando que existe empreendedores sociais comprometidos com os objetivos do desenvolvimento sustentável e capazes de gerar renda e trabalho para eles e para outros. Incluir o RN no ecossistema de impacto brasileiro.
O SEBRAE planeja continuar com esse apoio aos empreendedores sociais? Caso positivo, quais ações estão planejadas?
R: Sim, pretendemos. Além do encerramento dos programas de aceleração e pré aceleração através da realização do Demoday dia 16/10, ainda este ano sediaremos o Fórum de Negócios de Impacto, o Hackathon Social envolvendo 11 instituições de ensino superior e programadores na busca de soluções empreendedoras para problemas socioambientais, um Bootcamp com foco nas comunidades de baixa renda, ações de capacitação em negócios de impacto para agentes públicos, e alguns estudos na área de finanças sociais. Para 2020 a 2023 pensaremos em estratégias de longo prazo na tentativa de consolidar o ecossistema local e fomentar novos negócios.
“Enquanto houver problemas para serem resolvidos teremos oportunidades de negócios para empreendedores sociais, porém velhos problemas exigem soluções inovadoras, este é o desafio!”
Mona Paula Nóbrega – Gestora do projeto Desenvolvimento de Negócios de Impacto Social do SEBRAE/RN
Quais são as oportunidades para os empreendedores sociais na região para os próximos anos?
R: As oportunidades são inúmeras. Costumamos dizer que enquanto houver problemas para serem resolvidos teremos oportunidades de negócios para empreendedores sociais, porém velhos problemas exigem soluções inovadoras, este é o desafio! No Brasil, cresce a cada semestre o volume de recursos destinados ao setor 2.5, esferas públicas e privadas veem disponibilizando editais e mais editais nesse sentido, assim os empreendedores precisam estar preparados para participar, conhecendo cada vez melhor o problema que pretende resolver e a necessidade do seu público-alvo, e obviamente como monetizar essa solução.
Na sua opinião, o que falta para o ecossistema de negócios de impacto crescer no estado e na região?
R: Sinergia e agenda comum. É preciso que todos tenham a mesma visão sobre os negócios sociais e acreditem no modelo proposto por eles. Agrupar todos esses atores e estabelecer papeis que se complementem no apoio ao empreendedor social
Qual recado gostaria de dar aos empreendedores que querem desenvolver produtos e soluções de impacto social?
R: Mergulhem no problema. Vivenciem as dores do outro. Só assim desenvolveram soluções capazes de resolver problemas socioambientais de maneira eficaz. E pensem e repensem sua forma de monetização, mas na prática, pois apenas lá saberão se estão no caminho certo ou não. E estejam conectados aos ecossistemas mais maduros, seja através do Sebrae, através das redes, como o IMPACTA Nordeste ou em programas fora do estado e até do país. Os negócios de impacto não é apenas um novo modelo de negócio, mas a evolução natural dos negócios diante de todos os desafios mundiais.