Negócio de impacto pioneiro em reformas habitacionais nas periferias inicia nova fase. Instituto, aceleradora e plataforma compõe as soluções desenvolvidas para unir elos da cadeia da construção civil e escalar a oferta de moradia digna para pessoas em situação de vulnerabilidade. (Foto: Igiano Souza (esq.), Marcelo Coelho e Fernando Assad, fundadores da Vivenda / fonte: Vivenda)
Conexões são pontes. E pontes servem para criar acessos. Com a missão de oferecer moradia de qualidade para pessoas de baixa renda, a Vivenda, negócio de impacto social que atua nas periferias de São Paulo há sete anos, inicia uma nova fase. Por meio de sua atuação, a empresa acumulou conhecimento único em pontos chave da cadeia produtiva envolvida na reforma de moradias populares e agora se reposiciona como uma geradora de soluções para que todos, sem exceção, tenham acesso a moradias dignas, seguras e confortáveis.
Nessa nova fase, a Vivenda deixa de ser uma executora de obras e se transforma em uma holding com três iniciativas – um instituto, uma aceleradora e uma plataforma – unindo todos os elos da cadeia da construção civil com o objetivo de ampliar acessos e estabelecer novas relações comerciais, reforçando seu papel como estruturadora deste mercado.
O novo modelo de atuação vai capilarizar as soluções e unir todos os atores envolvidos: os moradores das comunidades, as entidades de crédito ao consumidor, arquitetos sociais, pedreiros, indústrias e lojas de material de construção. Todo o conhecimento acumulado pela empresa ao longo de sua atuação será aplicado para que outras empresas inspiradas na Vivenda possam proporcionar impacto social em suas áreas de atuação, escalando a transformação social através de habitação de qualidade para milhões de brasileiros.
A necessidade por habitação de qualidade é uma demanda existente para mais 165 milhões de brasileiros que moram em comunidades, com um potencial de consumo de R$159 bilhões de reais.
Para atender essa demanda, a Vivenda fertiliza o terreno e equilibra as relações de todo o ecossistema para o acesso a moradias dignas por meio de três pilares: o Instituto Vivenda, que forma e conscientiza arquitetos sociais, e gera obras subsidiadas para os mais vulneráveis; a Vivenda Play, programas periódicos de incubação e aceleração para arquitetos sociais, que têm como objetivo a certificação de novos negócios da causa.
O terceiro pilar é a Nova Vivenda, plataforma de conexões geradora de soluções para o acesso a moradias dignas, atuando em todos os elos da cadeia – a plataforma, oferece quatro produtos: CX Nova Vivenda, consultoria que dá suporte à gestão dos negócios da causa; pacote Casa Nova Vivenda, marketplace que fornece desde o crédito financiado até o acabamento a quem quer reformar; a Eixo Nova Vivenda, uma facilitadora comercial que cuida do relacionamento com a indústria; e a Tech Nova Vivenda, que coloca tecnologias proprietárias a serviço do mercado.
Conversamos com um dos cofundadores e CEO da Vivenda, Marcelo Coelho, sobre o que representa essa nova fase da empresa.
Quais foram os principais aprendizados e desafios da Vivenda até chegar nesse ponto da reformulação?
Marcelo Coelho: Quando começamos a Vivenda mapeamos quatro grandes dores do nosso cliente final, que é o morador de comunidade, e a partir delas montamos um modelo. Nas questões relacionadas à estrutura de financiamento e ao planejamento e assistência técnica da obra, na dor relacionada a material (de construção), logística, qualidade da mão de obra e confiança. Pode-se dizer que os nossos grandes desafios e aprendizados estão conectados a isso.
O primeiro deles, é a estruturação dos mecanismos de financiamento, pois não achamos um banco que topasse financiar nossa ideia e então partirmos para estruturar um mecanismo próprio. Nesse quesito temos enormes aprendizados. O que é montar uma estrutura de financiamento para população em situação de vulnerabilidade, sem garantia? Como é que se conecta isso com investidores do mercado? A partir daí tem uma triangulação de relação com os depósitos locais, a indústria e nós. Uma intermediação super complexa que envolve logística, preço, uma série de coisas que nos dá também aprendizados sólidos.
Do ponto de vista de mão de obra nós precisamos garantir uma estrutura que desse segurança para as duas pontas, morador e pedreiro, já que o pedreiro também está numa situação de vulnerabilidade. Garantia de segurança jurídica e financeira e uma série de coisas para que o profissional permanecesse e criasse um vínculo de confiança com o cliente final.
E por fim o papel do arquiteto no contexto reforma, de obras de comunidades, de casas construídas como uma figura central do planejamento da obra, de garantia da execução no prazo e da qualidade. Isso tudo se tornou um grande aprendizado comercial. Que é como você empacota todas as soluções para essas dores num único modelo e faz isso ser acessível. A palavra acessível é muito importante porque dialoga com a nossa perspectiva de superação do mercado.
Então vocês sistematizaram todo esse conhecimento para chegar nesse momento de reformulação da Vivenda?
Eu acho que teve um movimento estratégico. Quando começamos a envelopar todos os aprendizados que falei, parte deles a gente endereçou, como as ferramentas de tecnologias, para nossa própria operação. Fomos achando padrões e entendendo processos. A outra parte tem a ver com a forma a qual nos relacionamos com nossos stakeholders, de como a gente mapeou e começou a entender que se não conectássemos essas jornadas a dor do cliente final sempre seria resolvida de maneira fragmentada e desestruturada. De posse dessa informação a gente estruturou essas jornadas para que essas experiências se realizem e sejam as experiências do sonho do nosso cliente final.
Desse momento conectado com a pandemia e de uma série de coisas que aconteceram ao longo de 2020, entendemos que o momento estratégico para esse novo contexto era rever o nosso papel. Para executar a obra nós mantivemos o cliente final como centro desse processo e trouxemos o arquiteto da causa para ser o pivô da conexão de todas as outras jornadas.
Esse movimento conceitual se traduziu numa estrutura de organização que tem a ver com a Vivenda agora ser uma holding com três braços de operação: o Instituto Vivenda, que vai trabalhar com a disseminação de conhecimento dentro das universidades, pegar esse arquiteto da causa e puxá-lo para a discussão do propósito e da possibilidade de ele se tornar o profissional nesse contexto de atender a população em situação de vulnerabilidade. O instituto também tem a missão de trabalhar com a obra subsidiada, atendendo aqueles moradores que não tem condição de pagar uma parcela e estão fora da estrutura de financiamento.
Um segundo braço é a Vivenda Play onde a gente pega esse arquiteto, que se interessa em trabalhar com as pessoas em situação de vulnerabilidade, e ele passa por uma jornada de educação empreendedora que o transforma no arquiteto da causa. A partir daí, ele sai pronto para plugar no terceiro eixo, que é a Nova Vivenda, a plataforma que oferece de fato as soluções para os demais stakeholders que estão dentro do processo.
Na Nova Vivenda o primeiro produto é uma consultoria que faz com que os negócios da causa se viabilizem financeiramente, o segundo produto é o Casa Nova Vivenda que é o atendimento das famílias com o crédito para viabilizar a reforma, o terceiro é o Eixo Nova Vivenda que faz conexão com os depósitos de material de construção locais e a indústria e garante os arranjos inovadores para cessão de material para as reformas. E, por fim, temos o quarto produto que é a tecnologia que está focada em soluções e ferramentas para endereçar eficiência nesse mercado.
A Vivenda inspirou diversas outras empresas por todo o Brasil e também aqui no Nordeste. Com relação a nossa região, como vocês enxergam esses negócios inspirados na Vivenda? Vocês vão buscar parcerias com os negócios que estão surgindo aqui?
Quando iniciamos o mapeamento a gente ainda não tinha na cabeça que o arquiteto da causa seria o pivô do processo. Ao começarmos o mapeamento entendemos a complexidade do mercado, que já tinha se estruturado ou estava se estruturando, e chegamos de fato a pensar na possibilidade de rever a nossa abordagem e missão. Se a gente não tivesse enxergado um contexto com esse volume de negócios talvez não tivéssemos conseguido essa virada de chave.
Essa é uma agenda que a gente carregou desde o começo, porque sempre tivemos na cabeça que a estruturação desse mercado dependia de concorrência, no melhor sentido da palavra, então a gente trabalhou para gerar concorrência. Olhando para o Nordeste foi uma surpresa. Eu imaginava, quando a gente começou o mapeamento, que teríamos o Eixo Rio-São Paulo massacrando, começamos a olhar para Salvador, Recife e a mapear um volume de negócios considerabilíssimo e estruturado em rede. Por exemplo, se você olhar para Recife, que é um caso muito especial e onde temos quatro negócios conectados à plataforma Nova Vivenda, todos eles passaram pelos mesmos processos de aceleração no Porto Social e no Porto Digital e isso gerou um ecossistema muito relevante. Quando plugamos esse contexto numa estrutura como a da Vivenda, o potencial de “deslanchamento” é infinitamente maior e mais rápido do que em contextos em que as estruturas estão pulverizadas.
Olhando para o Nordeste foi uma surpresa. Eu imaginava, quando a gente começou o mapeamento, que teríamos o Eixo Rio-São Paulo massacrando, começamos a olhar para Salvador, Recife e a mapear um volume de negócios considerabilíssimo e estruturado em rede (…) Temos de fato um olhar especial para a região e já temos um volume de negócios homologado e com uma quantidade considerável do Nordeste operando na plataforma.
Tem capitais do Nordeste em que o contexto de inovação é muito especial, como Salvador e Recife, eles são os dois que eu conheço mais e que posso falar com mais propriedade. Eles são muito especiais nesse aspecto e isso propicia alavancar as iniciativas muito mais rápido. Então temos de fato um olhar especial para a região e já temos um volume de negócios homologado e com uma quantidade considerável do Nordeste operando na plataforma.
Na Vivenda Play, onde transformamos o arquiteto da causa em negócio da causa, se não me engano a metade da turma é oriunda do Nordeste. Temos pessoas do Ceará, do Maranhão, da Bahia e de uma série de localidades. Eu acredito que isso está de fato ancorado numa vanguarda de inovação muito forte e, obviamente, conectado com o problema do déficit (habitacional) bastante gritante no Nordeste.
Falando mais sobre a questão da habitação no Brasil. O que seria necessário para mudar o perfil de moradia de baixa renda? Vocês acham que é possível, no futuro, o poder público usar a solução que vocês proporcionam para acelerar esse processo de mudança na questão da habitação?
Eu acho que talvez essa seja a questão mais complexa que administramos no mundo da habitação, um tema de interesse público. A relação de negócios sociais, de iniciativa privada versus o direito que os moradores têm de serem atendidos pelo poder público é um tema delicado. O que a gente da Vivenda entende é que existe, basicamente, a necessidade de colocar para conversar todas as abordagens que existem hoje em dia, que começam na política pública e vão parar no trabalho da iniciativa privada. Não vamos conseguir deslanchar, do ponto de vista de solução de déficit (habitacional), se todo mundo não sentar na mesma mesa para conversar. Isso para mim é o ponto de partida.
Especialmente depois da pandemia. Estamos falando de uma questão muito básica, de gente que não tem banheiro e que não pode mais esperar. É preciso um bloco de soluções que tem a ver com tecnologia, financiamento, transparência e segurança para dar conta de qualquer abordagem, seja de subsídio, seja de crédito. Cada centavo empregado na obra da Dona Maria precisa ser rastreado, porque esse mercado precisa de segurança no investimento. Essa é uma questão seríssima e muito relevante.
Não vamos conseguir deslanchar, do ponto de vista de solução de déficit (habitacional), se todo mundo não sentar na mesma mesa para conversar. Isso para mim é o ponto de partida.
Em outro aspecto é preciso que essa estrutura esteja preparada para garantir a capilaridade. Não adianta achar que o canal de distribuição da solução são os canais existentes hoje, porque esses canais existentes são de grandes obras, são feitos para construir casas. Eles conectam grandes empreiteiras e não desenvolveram o aprendizado necessário para atender a demanda pulverizada da Dona Maria.
Precisamos garantir uma estrutura de capilarização que vai conversar com a Dona Maria e ser o fio condutor de toda essa entrega garantindo transparência, segurança e confiabilidade. A política pública precisa estar ancorada dessa maneira como a iniciativa privada também. A Vivenda hoje está nesse “colchãozinho”. Nossa expectativa, obviamente, é preparar todo o contexto para que possamos plugar política pública na plataforma, novos mecanismos de financiamento e o que mais tiver por aí. Hoje a gente trabalha ativamente para montar termos e cooperação técnica com prefeituras, por exemplo, para entender como é que faremos as coisas conversarem.
A iniciativa privada não conseguiu desenvolver um modelo que permita que as pessoas fiquem nas suas comunidades, em melhores residências. O modelo atual cria grandes condomínios distantes dos centros urbanos e suas comunidades. Você acha que é possível melhorar a habitação nessas comunidades ou dentro de uma solução de mercado isso não é possível?
Essa é a razão de existir da Vivenda. É a nossa crença, de que não precisamos romper com os vínculos de identidade que os moradores de comunidades estabelecem e os seus arranjos de relação entre o espaço público e o privado para resolver o problema da moradia no Brasil.
Não precisamos romper com os vínculos de identidade que os moradores de comunidades estabelecem e os seus arranjos de relação entre o espaço público e o privado para resolver o problema da moradia no Brasil.
É um olhar super complexo que depende de leituras do poder público, do ponto de vista de cidade e de planejamento urbano. Existe também a necessidade de entender a viabilidade das pessoas permanecerem no lugar do ponto de vista de risco técnico, por exemplo, e ao mesmo tempo o poder público precisa garantir que chegue para essas comunidades: creche, escola, transporte, etc, e assim de fato elas se desenvolvam. Precisa existir um olhar sistêmico para que cheguemos a conclusão que, sim, essa comunidade e os seus laços de pertencimento possam permanecer.
Você acha que a iniciativa privada tem olhado mais para essa questão? Sabemos que grandes empresas têm se aproximado da Vivenda. Vocês acham que eles estão mudando? Se sim, como vocês estão conseguindo contribuir para essa mudança de visão da iniciativa privada?
Eu acho que a gente consegue ser mais efetivo em grandes players fora do contexto da habitação. Porque dentro do contexto da habitação os grandes players do mercado atendem aquilo que o Minha Casa Minha Vida estruturou do ponto de vista de mercado e os aprendizados todos estão ali. Essas grandes empresas que hoje, eventualmente, são as maiores construtoras do país, são as que atendem o Minha Casa Minha Vida e elas tem um tipo de metodologia pronta para atender esse nicho de mercado. O que a Vivenda está tentando fazer é um pouco do que o Minha Casa Minha Vida fez para esses nichos locais e, ao invés, de partir do princípio de que serão os grandes players que vão ocupar esses lugares no mercado, transformar o arquiteto da causa no pivô da história.
O que a Vivenda está tentando fazer é um pouco do que o Minha Casa Minha Vida fez para esses nichos locais e, ao invés, de partir do princípio de que serão os grandes players que vão ocupar esses lugares no mercado, transformar o arquiteto da causa no pivô da história.
Isso significa “desenvolver” esses fornecedores para se tornarem grandes players. Pensamos na solução do Instituto, com o Vivenda Play e com a Nova Vivenda para que a gente reproduza essa estrutura loucamente. Então a nossa aposta mais do que converter as grandes estruturas do mercado é pegar a rapaziada que está saindo da universidade e está querendo trabalhar com propósito. Vamos transformar eles no nosso grande mercado e assim a gente garante o propósito numa escala maior. Por isso é que essa trilha: instituto, Vivenda Play, plataforma.
Como a pandemia mudou a visão da Vivenda ou ressaltou uma parte do modelo de negócio de vocês? E qual foi o aprendizado?
A pandemia para nós, assim como para todo mundo, obviamente, está sendo muito dura. Passamos alguns meses sem operação para garantir a saúde dos nossos colaboradores e dos moradores. Tivemos que desenvolver estratégias internas para continuar remunerando nossa mão de obra e nossos colaboradores, enquanto os trabalhos estavam suspensos. Foi muito difícil, mas eu acho que a gente desenvolveu ao longo dos nossos sete anos uma capacidade de reinvenção, especialmente em momentos de crise, que do ponto de vista estratégico é o nosso grande tesouro.
Se por um lado a gente viu uma série de questões internas, do ponto de vista da crise, criarem dificuldades para o nosso modelo de operação, também vimos os nossos clientes perderem renda e terem dificuldade para trabalhar. Por outro, esse cidadão foi sendo obrigado a empreender, porque ele precisava de alguma fonte de subsistência. Ele está fazendo isso dentro de casa e quanto mais ele fica dentro de casa mais necessidade enxerga de ter a sua moradia melhorada.
Aí é um negócio de luz e sombra. O tempo todo, uma oportunidade, um desafio, uma oportunidade, um desafio. Também entendemos, muito rapidamente, que o contexto ia demorar muito para melhorar e se a gente quisesse escalar a nossa solução não ia ser no modelo tradicional. Então a pandemia acelerou muito esse processo, especialmente, da digitalização da operação e do desenvolvimento de soluções. Quando você faz a leitura sistemática e constante da crise, a chance de você sair dela mais rápido e mais fortalecido é imensamente maior. Porque você cria estratégias para não deixar de investir durante a crise e quando ela der uma segurada você estará pronto para atender a solução. Então acho que isso para nós está sendo um aprendizado muito sólido e forte.
*Com informações da assessoria de imprensa da Vivenda.