Opinião

Manifesto: os desafios da transformação digital para a base da pirâmide

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A pandemia tem gênero, cor e classe social!

Não houve uma transformação digital ainda, mas sim uma digitalização de tarefas e atividades. Vivemos a sociedade do cansaço, condicionados a produzir, sermos vistos e aceitos no ciberespaço.

Temos que engajar: engajar pais, alunos, professores, mas como estamos psicologicamente para nos engajar? É um celular para toda a casa, uma casa para um único celular só com dados móveis, um grupão de whatsapp com 30 alunos em que só 5 se engajam. É desanimador!

É uma mãe com trabalho, casa e tarefas escolares para conciliar. Como eu vou comprar um chip ou ter acesso se não tenho nem o que comer em casa? Indagam muitos dos meus alunos.

A juventude que é silenciada. Estamos sem voz, sem renda, sem espaço. Mais de 700 famílias passam fome em minha cidade e aqui a internet é à rádio, se chover cai o acesso, por qualquer coisa cai o acesso, já viu isso? Relata Gilvan, educador social na cidade de Itapiúna (CE).

O jovem quer renda, quer migrar para os grandes centros, para centros já abarrotados de gente, onde ele não tem acesso a trabalho e renda dignos. Como a juventude pode sonhar se a gente já cresce lutando e silenciada? Precisamos de oportunidades reais para as nossas juventudes.

O empreendedorismo não é pop! Não é uma questão de esforço, a crise não fortalece muitos. O instagram me gera gatilhos, às vezes não consigo dormir. Eu iniciei um negócio digital durante a pandemia e toda vez que via algo daqueles perfis de empreendedorismo me vinha em mente se estava fazendo aquilo certinho. Será que fiz certinho para dar certo? Ledo engano! O empreendedorismo não é fácil, o digital muito menos, diz Monaliza, pequena empreendedora de Pacajus (CE).

Como é perigoso estar no mundo digital sem saber dos perigos. O quão importante é a educação digital. Jovens estão acreditando no que veem nas mídias, em corpos e vidas perfeitas. Para 64% deles, a virtualização nunca foi discutida na escola. “Me tornei ativista social porque topei em um link em uma rede social, uso a tecnologia digital de forma construtiva, mas não aprendi isso na escola” diz Sabrina, jovem estudante universitária no Ceará.

“A gente fala muito de digitalização, transformação digital, mas temos um grande número de pessoas que não conseguem acessar esse mundo ou tem um acesso limitado.”

É importante discutir as dificuldades e tentar achar maneiras de vencê-las, não fingir que essas dificuldades não existem e ressaltar apenas o lado bom, alerta Fabiana, empreendedora social de Juazeiro (BA). A gente fala muito de digitalização, transformação digital, mas temos um grande número de pessoas que não conseguem acessar esse mundo ou tem um acesso limitado. O importante é como usar a tecnologia para promover espaços de oportunidades, desenvolvimento integral e de implementação de políticas públicas para a redução da violência.

Temos uma precarização do trabalho pela tecnologia e por múltiplos fatores. Faltam políticas públicas de acesso e geração de trabalho e renda. Precisamos pensar na inclusão produtiva dos idosos também. Valorizar a economia solidária e criativa, dar acesso a crédito facilitado para os mais pobres e fazer essa esfera ser mais inclusiva.

Enquanto essa inclusão não vem e esse debate e soluções não ganham forma, muitos seguem se “ajeitando”, se “arrumando” com a transformação digital. Mas nós, enquanto negócio social, vamos seguir trabalhando para a inclusão digital ser também um processo de aprendizado e educação para quem ainda não se sente incluso e dentro da nova economia.

Educar é preciso!

Quer fazer parte desse movimento? Inscreva-se na comunidade Social Brasilis e conheça nossas ações e programas educacionais.

Manifesto elaborado em roda de conversa virtual com 28 participantes entre professores, estudantes, pesquisadores, pais de alunos, ativistas e representantes da sociedade civil em abril de 2021.

*Foto por YouVersion em Unsplash

Manu Oliveira. Educadora e empreendedora social no Social Brasilis, negócio social que atua sobre a educação 4.0 e cultura digital para a base da pirâmide.