A inteligência artificial é uma solução tecnológica muito presente em nossas vidas, inclusive quando se refere ao nosso comportamento de consumo, englobando também os produtos e serviços da economia criativa.
Foto de capa: Obi – @pixel6propix em Unsplash
Quando assisti pela primeira vez o filme Exterminador do Futuro, de 1984, dirigido por James Cameron, tive a conclusão que no futuro seríamos dominados pela máquina e que o próprio homem iria criar algo que o destruísse. Por sorte ainda não fomos dominados pela inteligência artificial, mesmo, tendo bastante participação em nossas vidas ainda que não percebemos.
A inteligência artificial influencia em ideias, decisões e comportamentos de consumo trazendo grandes impactos em nossa sociedade contemporânea. A economia criativa também faz parte deste processo e encontra na inteligência artificial um aliado para o consumo de seus produtos, serviços e conteúdos, seja online ou offline.
Neste artigo, pretendo tratar sobre a relação da inteligência artificial e o consumo dos produtos e serviços da economia criativa. Mas antes apresentarei conceitos importantes que irá ajudar compreender melhor o tema proposto no artigo.
O que é Economia Criativa
O termo economia criativa foi mencionado pela primeira vez no livro “The Creative Economy: How People Make Money From Ideas”, de John Howkins sendo no Brasil chamado de “Economia Criativa — Como Ganhar Dinheiro com Ideias Criativas”. Ela é um composto de ações e práticas relacionados à criatividade, cultura ou tecnologia que produzem receita e impacto na economia.
Em miúdos, pode ser uma música de Emicida, um livro da Conceição Evaristo ou o novo filme de Jordan Peale Não! Não Olhe! Tipo quando estou trabalhando ouvindo Oficina G3 no Spotfy ou maratonando a série Advogada Extraordinária na Netflix, tudo isso é fruto da economia criativa.
De acordo com o Sebrae, 3% do PIB brasileiro é representado pela economia criativa, superando países do primeiro mundo como Itália e Espanha.
Apesar do senso comum, a economia criativa não está ligada apenas a produções da área cultural. O conceito é mais extenso e diverso abrangendo, por exemplo, desenvolvimentos de apps que resolvam problemas do cotidiano tal como o aplicativo Trello que utilizo para ajudar organizar minhas tarefas.
Portanto, para economia criativa a criatividade proporciona o valor de um serviço ou produto.
Inteligência Artificial
É uma parte da ciência da computação que se predispõe a criar dispositivos que empreendem atividades que eram apenas especialidades humanas por intermédio de códigos de programação.
Eu utilizo o Google Assistente para uma pesquisa rápida, peço Alexa para ouvir Pitty enquanto estudo e uso meu aplicativo de banco com reconhecimento facial e todos possuem elementos da IA.
Tipos de Inteligência Artificial
Há uma variedade de inteligências artificiais com características distintas, dependendo do algoritmo empregado. Alguns algoritmos são imensamente singulares, como a visão computacional e processamento de linguagem natural (PLN). No entanto, a maioria são fundamentadas em técnicas de machine e deep learning.
Machine learning e Deep learning
As inteligências constituídas em aprendizado de máquina ou machine learning, aplicam redes neurais que atuam como os neurônios humanos. Assim sendo, são capazes de alterar seu comportamento livremente, com base em sua experiência própria. Todo esse conhecimento é oriundo dos algoritimos, relação com informações e dados munidos pelos consumidores da tecnologia. As deep learning são mais complexas que machine Learning, pois analisam os dados e informações com menor tempo. Em função disso, trabalham com competências menos especificas como o reconhecimento facial.
Novo comportamento do consumidor
A revolução das novas tecnologias traz mudanças significativas em mim, em você e a sociedade como um todo. Então o nosso comportamento de consumo também está se transformando em todas as áreas econômicas, e a economia criativa encontra-se igualmente englobada neste contexto atual.
Estamos mais exigentes, acompanhando e nos adaptando com maior rapidez a estes novos cenários. Queremos produtos e serviços que nos engajem e principalmente que seja personalizado aos nossos gostos e preferências.
Estava assistindo ao desenho japonês Yu Gi Oh! e a Netflix recomendou animes, séries baseadas em mangas e filmes asiáticos. Um exemplo nítido de personalização, a partir de um produto consumido na plataforma.
As empresas capazes de oferecer experiências significativas que impactem positivamente seus consumidores saem na frente.
Quais são as principais mudanças no comportamento dos consumidores?
As mudanças na tecnologia trouxeram alterações disruptivas em todos nossos comportamentos de consumo.
Para nos atingir é preciso que as empresas entendam nossas características e, com essa informação, possa nos seduzir.
Vou elencar três características que considero essencial:
1) Somos consumidores conectados
Nós somos indivíduos que resolvem nossas vidas por meio de smartphone.
Eu pesquiso assuntos que me interessam, pergunto ao Google quando tenho dúvida, compro na Shoppee, fico ansioso acompanhado a entrega e ainda reclamo no site do Reclame Aqui quando algo me chateia.
Então as empresas precisam criar um espaço de dialogo através de canais digitais em que nós consumidores podemos conectar com as empresas. Assim estabelecendo relacionamento e conferindo credibilidade à marca.
2) Somos consumidores críticos e seletivos
Com maior acesso à informação, nos tornamos mais críticos e seletivos.
Ao comprar um produto ou serviço eu busquei descrições e avaliações, acabei formando uma opinião prévia, assim, identifiquei os defeitos e qualidades da oferta.
Não apenas permanecemos sujeitos a escolher com base em informações adquiridas pela propaganda, mas conseguimos avaliar um produto ou serviço não só pelo preço, mas também o custo-benefício.
Desta maneira, se comprei online ou na loja física, a questão é que na aquisição, já tinha pesquisado. Nós já temos certeza do que queremos, por que queremos e não desejamos outro produto ou serviço.
3) Somos consumidores ativos
Hoje não temos mais vergonha de reclamar e exigir nossos direitos.
Estamos dispostos a interagir e ofertar valiosos feedbacks positivos e negativos para empresas, pois nossas opiniões serão ditas principalmente nas redes sociais.
Logo, caso eu me sinta insatisfeito, entrarei nos perfis das redes sociais da empresa e publicarei uma avaliação negativa que será consultada por outros potenciais consumidores.
Economia Criativa, consumo e inteligência artificial
Hoje somos uma geração que contamos com dispositivos de inteligência artificial acessíveis no mercado, como smart TVs que contém apps como o Google Assistente. Além das plataformas digitais que coletam nossos dados e comportamentos a todo tempo.
A economia criativa pode tirar proveito dessa revolução tecnológica e trazer novas formas de consumos dos seus produtos e serviços. Nas indústrias criativas encontram-se algoritmos apoiados em redes neurais que já entendem quais filmes vão me agradar ou quais livros eu tenho maior possibilidade de comprar na Amazon, por exemplo.
Eu gosto muito de futebol e acabei assistindo à série documental Tudo ou Nada na Prime Vídeo. No dia seguinte recebo uma notificação no smartphone avisando sobre o jogo da copa do Brasil que o streaming irá transmitir.
As empresas da economia criativa podem recomendar produtos e serviços, a partir dos nossos comportamentos e dados em suas plataformas. Resumindo, a inteligência artificial está substituindo humanos em funções trabalhosas e repititivas através da automação e as empresas da economia criativa estão tirando proveito desta ferramenta.
Tenha certeza que seria impossível examinar, associar e verificar os interesses de milhões de pessoas pelo mundo e ainda oferecer todos os dias novas recomendações. A inteligência artificial analisa comportamentos rotineiramente, pois quanto mais ele aprender sobre o que está bom e o que está ruim para nós, mais podem começar a otimizar.
A minha conta do Spotfy depois de não escutar músicas sertanejas recomendadas pela plataforma, o aplicativo nunca mais indicou este estilo musical.
Personalização gera experiência de valor. Para nós usuários isso significa mais relevância, angariando novas taxas de vendas. Por isso, os nossos dados são o novo petróleo, pois com mais informações organizadas, mais as indústrias criativas podem entender os nossos comportamentos e analisar melhor as experiências disponibilizadas.
O poderio da inteligência artificial na identificação de nossos padrões geram insights relevantes que ajudam a indicar qual a experiência adequada.
E as pequenas empresas ou grupos culturais também podem se beneficiar. Mesmo não tendo o investimento das grandes corporações.
Grupos de mídia como a Metha dona do Instagram, Facebook e WhatsApp, por exemplo, disponibilizam dados relevantes para que essas pequenas empresas e grupos culturais possam direcionar um produto ou conteúdo personalizado utilizando trafego orgânico e pago.
Eu ainda me assusto, mas é cristalino, que este enorme avanço tecnológico, é também uma grande oportunidade para a economia criativa.
Case da música Envolver de Anitta
No dia 24 de março, Anitta entrou na história como a primeira brasileira a estar em primeiro lugar no ranking global do Spotfy.
Mas como ela conseguiu tal feito? Planejamento, organização e soube utilizar a inteligência artificial ao seu favor. Vamos destrinchar.
Primeiro, ela criou uma coreografia que viralizou no TikTok com um challange conhecida como “el passo de Anitta”. Anônimos e famosos tentavam imitar os passos que ajudou evidenciar a música.
Anitta (e sua equipe) sabe que a inteligência artificial do Tiktok privilegia vídeos com músicas e danças para aumentar o alcance e ela sempre compartilhava em suas redes quando alguém imitava.
Na esperança de aparecer nas redes da cantora, muita gente fez vídeos com a música envolver.
O grande diferencial explorado pela equipe de Anitta era a coreografia ser inusitada e com certo grau de dificuldade que consiste em fazer uma prancha e descer lentamente enquanto rebola.
Anitta utilizou o serviço Marqee uma ferramenta de promoção de artistas dentro do Spotfy. Ou seja, quem adquire este serviço do Spotify aparece mais vezes para os usuários da plataforma, principalmente em playlists.
Com seu público engajado, com estratégia perfeita e com ajuda da inteligência artificial, Anitta fez e pelo visto continuará fazendo história.
Conclusão
É nítido que Inteligência artificial é uma realidade em nossas vidas e nos produtos consumimos, por isso trago um questionamento importante:
Os profissionais da economia criativa estão preparados para pensar produtos e serviços com base na inteligência artificial?
“Toda revolução gera um impacto que a indústria precisa ficar atenta. Ganha a empresa que saiba oferecer um produto ou serviço focado nas novas necessidades do cliente” Consultor Ricardo Gazoli.
Jônatas Akillah Pereira, 29 anos, é formado em Publicidade e Propaganda na Universidade Salvador (UNIFACS) desde 2015 e graduando em Bacharelado Interdisciplinar em Artes com enfase em Cinema e Audiovisual na Universidade Federal da Bahia (UFBA). Tem experiências profissionais como social media, marketing político e na área de cinema como editor e produtor. É um apaixonado pela tecnologia, escrita e cinema. Um eterno aprendiz sempre disposto a absorver o que o mundo e as pessoas em sua volta estão dispostos a ensinar. Busca direcionar o seu conhecimento para a luta antirracista.
Jonatas é um dos jovens selecionados no programa Impulsio.ne e faz parte da Rede de Jovens Lideranças de Impacto do Nordeste.