Apelidado de Certificado de Recebíveis de Investimento de Impacto Ambiental e Social – o CRIIAS é um instrumento que se propõe a ser uma forma inovadora de dar crédito de longo prazo para empresas de pequeno e médio porte com foco em geração de impacto positivo. A proposta é beneficiar empreendedores sociais que hoje não são atendidos pelo mercado tradicional de capitais. A primeira série do Certificado de Recebíveis captou R$ 9 milhões.
A Artemisia e o Grupo Gaia anunciaram, nesta segunda-feira (21/8), uma parceria inédita para financiar o crescimento de negócios sociais. Juntas, as organizações lançaram um Certificado de Recebíveis de Impacto Ambiental e Social – apelidado de CRIIAS – dedicado a financiar a ampliação de impacto socioambiental positivo por meio de uma forma inovadora que viabiliza a concessão de crédito de longo prazo para negócios com potencial de impacto positivo. O lançamento representa uma nova fonte de recursos para empreendedores sociais ao ofertar acesso a um financiamento via mercado de capitais. A articulação foi conduzida como uma operação de securitização de mercado de capitais, seguindo o rito automático de distribuição de valores mobiliários da Resolução CVM 160 (que estabelece novas regras para as ofertas públicas de investimento no país, buscando dar mais flexibilidade ao processo). A iniciativa consistiu na definição dos lastros – operações de crédito aos negócios sociais – a serem securitizados além da estruturação financeira e jurídica do CR e, também, a distribuição dos certificados de recebíveis para investidores profissionais. A primeira série captou R$ 9 milhões, que estão sendo destinados aos negócios sociais Redação Online, Estante Mágica, Portal Telemedicina e MeuChapa.
Para viabilizar o CRIIAS, a Artemisia atuou no mapeamento e na seleção dos negócios, na condução do processo de due diligence de crédito, na confecção do relatório de investimento, no apoio, na estruturação financeira do instrumento e dos lastros – além do suporte à captação de investidores no processo de roadshow. A organização será responsável, nos próximos anos, pela gestão de portfólio, apoiando os negócios investidos e acompanhando tanto o impacto gerado quanto a performance financeira ao longo do período do investimento. O Grupo Gaia, por sua vez, liderou o comitê de investimentos do CRIIAS, atuou na estruturação, emissão e distribuição do valor mobiliário. De acordo com as organizações responsáveis pelo CRIIAS, esse é um título de sete anos, com remuneração-alvo de CDI + 2% ao ano ao investidor (fundos de investimento de impacto e pessoas de alta renda); a data de vencimento é 2030.
O anúncio da Artemisia e do Grupo Gaia representa uma novidade no panorama de financiamento de negócios sociais no país. Até então, o mecanismo mais acessível e conhecido aos empreendedores do ecossistema de startups de impacto era o equity – que ainda tem um papel bastante relevante. No entanto, o CRIIAS se junta a outras estruturas de crédito com capital paciente, abrindo uma nova possibilidade para o empreendedor – que não ganha um sócio, mas recebe um investimento no formato de empréstimo para trazer fôlego, agilizar o crescimento e ampliar o impacto positivo do negócio. Na prática, uma forma inovadora de conceder crédito aos empreendedores de impacto, que não são atendidos normalmente pelo mercado de capitais, somente por bancos e com empréstimos com prazos mais curtos e mais caros.
Disseminar uma cultura de incluir o impacto na equação risco versus retorno é fundamental. Na análise de Luciano Gurgel, diretor-executivo da Artemisia, o Brasil vive a segunda onda dos investimentos de impacto. “Na primeira, o equity reinou; hoje, há uma visão crescente sobre a importância da complementaridade entre esse mecanismo e o de dívida quando o assunto é acesso a capital por parte dos negócios sociais. Concretizar essa visão é parte da missão de sermos os construtores de uma egrégora de impacto positivo. A Artemisia fomenta negócios de impacto no Brasil desde 2005 com foco em contribuir com a resolução de problemas sociais e ambientais”, afirma o executivo, acrescentando que o veículo foi desenhado para crescer e expandir o apoio a mais empreendedores. “Longe de ser uma oportunidade, os negócios de impacto são uma necessidade do país. A proposta está alinhada ao conceito de investimento com legado, ou seja, o investidor está aportando capital no mercado de impacto, que potencializará a transformação positiva de soluções criadas por empreendedores sociais que atuam em áreas como saúde, educação, inclusão produtiva, inclusão financeira, geração de renda, entre outras”, finaliza.
Para João Paulo Pacífico, CEO do Grupo Gaia, esse título traz algumas inovações, começando pelo fato de possibilitar que negócios sociais – que individualmente não teriam tamanho para acessar o mercado de capitais –, em conjunto, passem a conseguir participar dessa emissão. “Do lado dos investidores, é uma oportunidade de fomentar o ecossistema de impacto, em uma estrutura robusta e com impacto mensurável. E quem realmente ganha é a sociedade, por conta dos impactos sociais causados por esses negócios”, analisa.
Na visão do CMA, escritório que estruturou a operação, apesar dos desafios jurídicos, trata-se de um verdadeiro marco no financiamento de projetos de impacto no país. Isso porque a operação aproveita todo um novo arcabouço jurídico que foi implementado no Brasil recentemente, como as novas regras da Resolução CVM 160 e a lei que criou os CRs. Essa última representou um avanço significativo nas operações de securitização, ampliando esse mercado para além de operações imobiliárias e no agro, possibilitando estruturas para indústrias como saúde e educação – o que foi feito com os CRIIAS.
Juca Andrade, vice-presidente de Produtos e Clientes da B3, comenta que um produto como o CRIIAS oferece mais uma oportunidade de diversificação para os investidores, ao mesmo tempo que une o olhar financeiro a grandes propósitos. “A B3 tem entre seus compromissos a indução de melhores práticas ESG no mercado de capitais e sempre apoia a disseminação de produtos capazes de gerar impactos positivos para a sociedade”, aponta Andrade.
A expectativa é que as empresas investidas cresçam e ampliem o impacto positivo que geram a partir do apoio dos especialistas e do recurso aportado, dentro de uma lógica do smart money – que combina acesso a recursos e apoio estratégico. Com esses aportes, a estimativa é que essa primeira série do CRIIAS, por meio da atuação das quatro empresas, impacte 5,7 milhões de pessoas nos próximos anos.