Grupo Raízes nasceu em 2018 na comunidade do Riachão de Areia, localizada à 27 km da sede do município de Taperoá (BA). Em 2021, o negócio de impacto gerou uma receita de 28 mil reais para a comunidade, beneficiando diretamente 11 famílias
Transformar a realidade local através do resgate e valorização de saberes tradicionais, empoderamento e autonomia financeira das mulheres do campo, respeito e cuidado com o meio ambiente, utilização de recursos naturais disponíveis na região e produção e comercialização de produtos artesanais sustentáveis. Esse é o propósito do Grupo Raízes, um coletivo de artesãos que produz peças inspiradas na natureza, com resgate de saberes tradicionais e impacto social.
O Grupo Raízes nasceu em 2018, de forma natural e sem muito planejamento, através da empreendedora social, Isabelly Assunção, baiana e nascida na roça, como ela mesma se define. “Me mudei para a cidade aos 10 anos para dar continuidade aos estudos. Aos 19 anos ingressei no universo empresarial – embora trabalhasse desde os 14, e atuei durante oito anos na área de comunicação interna e gestão de pessoas. Eis que em 2016 fui desligada de forma inesperada, em meio a uma crise empresarial. Essa mudança repentina foi um choque no primeiro momento, pois eu estava na melhor fase da minha carreira profissional, mas também permitiu que eu ingressasse em um processo de autoconhecimento que me trouxe até a comunidade do Riachão de Areia, localizada à 27 km da sede do município de Taperoá (BA)”, disse.
“A escolha de mudar para pertinho da natureza foi provocada pelo desejo de viver uma vida mais simples, conectar-me com minha essência e minhas raízes. Nessa época eu tinha acabado de aprender a técnica do crochê e o fazer manual foi um aliado durante toda essa transição de vida”.
Ela conta que durante esse período seguiu interagindo com a comunidade e conheceu uma realidade muito diferente da que ela conhecia e percebeu que por trás de todos os problemas sociais também existia uma riqueza imensa: as pessoas, suas histórias e saberes tradicionais. “Conforme fui evoluindo como artesã, passei a incentivar o resgate dos fazeres manuais que não eram mais praticados, tampouco valorizados pela própria comunidade, como a produção da esteira de taboa, que ressurgiu depois de quase 30 anos, fruto dessa intervenção. A intenção era contribuir com o desenvolvimento da comunidade, em especial, melhoria de vida das mulheres, mães e agricultoras, ao mesmo tempo em que compartilhava com outras pessoas, via Instagram, um pouco dessa realidade que havia me ensinado tanto”.
Sobre os aprendizados dessa jornada empreendedora, Isabelly conta que foi perceber na prática que pequenas ações provocam grandes transformações. “Compreender e respeitar o tempo de cada processo é essencial para obter melhores resultados, além de ser imprescindível vivenciar a realidade do outro antes de desejar mudá-la”.
Um dos maiores desafios enfrentados pelo Raízes, segundo Isabelly, foi seguir com ânimo e persistência para estimular o resgate do fazer manual na comunidade, mesmo quando os artesãos não acreditavam na própria capacidade e força de seus saberes, seguido da falta de recurso financeiro para investir em ações estratégicas e impulsionar o crescimento do negócio. Em partes, ambos continuam existindo, embora agora em outra proporção e com mais experiência para enfrentá-los.
Em 2021, o Grupo Raízes gerou uma receita de 28 mil reais para a comunidade do Riachão de Areia, beneficiando diretamente 11 famílias. Além da geração de trabalho e renda, o Raízes tem sido uma ponte para compartilhar saberes, promover inclusão social e produtiva, além de elevar a autoestima de mulheres e jovens do campo.
Produtos que carregam histórias
Além da qualidade e detalhes únicos inspirados na natureza, as peças do Grupo Raízes se destacam pelas histórias que carregam. A valorização de quem produz e desperta memórias afetivas em quem os adquire.
Os principais produtos comercializados pelo Grupo são: mandalas de crochê emolduradas em aros de cipó, incensários de vagem de árvores, saboneteira vegetal, cestaria e esteira de taboa – sendo essa última um produto que ressurgiu depois de 30 anos e carrega a ancestralidade e história da comunidade.
Em 2021 a empresa foi incubada na Motirô, plataforma para capacitar empreendedores de impacto desenvolvida pelo Impacta Nordeste e a Verda. Sobre a passagem pela Motirô ela diz que foi um divisor de águas para o grupo, foi o ponto de partida para o início do processo de reestruturação e evolução. “Uma das contribuições mais valiosas da incubação foi provocar o levantamento e análise dos indicadores do nosso negócio, através desses dados, internalizamos o caminho que precisávamos percorrer para construir o futuro que tanto sonhávamos”.
Após o termino da incubação Motirô, o Grupo Raízes foi selecionado para a aceleração LabNIP Norte e Nordeste, promovida pela ANIP. Essa expriência aprofundou ainda mais o desenvolvimento do negócio. Ao final do programa, o Grupo Raízes foi selecionado como um dos negócios destaque, recebendo investimento semente de R$15 mil reais.
O crescimento do Grupo Raízes não parou por ai. Recentemente o negócio de impacto foi selecionado para participar do Programa de Aceleração de Empreendedores de Favelas e Periferias do Brasil e contemplado com um investimento anjo de 120 mil reais. O programa de aceleração foi realizado pelo Investe Favela, holding de investimentos de impacto nas Favelas e Periferias de todo o Brasil.
Sobre a seleção e o investimento que a empresa está recebendo, Isabelly afirma que entender bem o negócio, suas fraquezas e potencialidades, é essencial para utilizar todos os recursos da melhor maneira possível. “Estamos nos dedicando muito aos programas de formação, escalando um degrau por vez, conforme a nossa capacidade de absorção de novos desafios”.
Já sobre o futuro do Grupo Raízes, a empreendedora diz que atualmente os principais desafios e planos são: desenvolver novos produtos e estruturar o processo de produção através do programa de capacitação dos artesãos; firmar parceria com artesãos de outras comunidades de munícipios vizinhos – com foco na ampliação da rede de artesãos e capacidade de produção; e estruturar um canal de vendas – em breve irão abrir uma loja física em Barra Grande-Maraú, um dos principais pontos turísticos do Baixo Sul da Bahia.