Empresas que resolvem problemas sociais ou ambientais, adotam tecnologias limpas, reduzem ao máximo a geração de resíduos e, ainda assim, estão dentre as que mais lucram nos seus segmentos já são realidade no Brasil e na Bahia. As empresas B são reconhecidas como tendência de mercado e têm como referências nacionais a Natura, a Fazenda da Toca e a baianíssima Sanar. Internacionalmente, a sorveteria Ben & Jerry’s e a argentina Patagonia são algumas das integrantes deste movimento que cresce vertiginosamente.
O relatório da Oxfam – “A distância que nos une: um retrato das desigualdades brasileiras” – publicado em setembro de 2017 concluiu que, no Brasil, 6 brasileiros concentram, juntos, a mesma riqueza que a metade da população brasileira. Sinal de que vivemos um grave problema de concentração de renda. A nível estadual, mais de 2 milhões dos cerca de 3,4 milhões de crianças vivem sob a condição de pobreza na Bahia, segundo estudo divulgado pela Fundação Abrinq. Dados da Rede Clima e do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia mostram que a temperatura média no nordeste brasileiro já subiu cerca de 2°C desde a década de 80 até hoje. Hoje, cerca de ⅓ de tudo o que a gente produz vai para o lixo, um sinal de completa incapacidade humana de acabar com a fome já que, segundo relatório da Organização das Nações Unidas (ONU), 1 pessoa a cada 10 no planeta passou fome no ano passado, totalizando 821,6 milhões de pessoas.
Para estas empresas, conhecer e lamentar os problemas locais e globais não é suficiente. Elas reconhecem a necessidade de sermos propositivos e mostrar que existem soluções viáveis e escaláveis para construirmos uma economia mais justa, inclusiva e sustentável. É por esse motivo que o Sistema B vem criando infraestrutura para que essa mudança, que já está acontecendo, seja maior e mais rápida.
Nos últimos 5 anos, o Sistema B vem identificando, certificando e celebrando os líderes dessa nova economia. Hoje são mais de 2.900 empresas em 70 países, no Brasil, são mais de 150 empresas B, com 4 representantes na Bahia – Amma Chocolate, Sanar, UNIFACS e Obrigado. Essas empresas possuem o objetivo de redefinir o conceito de sucesso nos negócios, considerando não apenas o êxito financeiro, mas também o bem-estar das pessoas, da sociedade e do Planeta. Para serem Empresas B elas precisam atingir o mínimo de 80 pontos na Avaliação de Impacto em 5 dimensões – governança, colaboradores, comunidade, clientes e meio-ambiente. Além disso, a empresa deve assumir compromissos, sendo o maior deles a mudança no seu contrato ou estatuto social, ampliando a responsabilidade dos gestores e colocando no seu objeto social a responsabilidade de gerar impacto socioambiental positivo.
Sabemos que esse impacto positivo ainda acontece em pequena escala, afinal, existem cerca de 125 milhões de empresas no mundo, e sabemos também que, para essa nova economia ser inclusiva, ela precisa ser de todos. Por isso, o movimento do Sistema B criou as Comunidades B, coletivos capazes de incentivar milhões de empreendedores, consumidores, trabalhadores e investidores a apoiarem negócios que são melhores para o mundo. Seja através de melhores condições de trabalho para colaboradores, seja mostrando ao consumidor o seu poder ao fazer melhores escolhas, ou preocupando-se com a melhor qualidade de vida das comunidades e com a regeneração da natureza. As Comunidades B são formadas por empresários, investidores, políticos, formadores de opinião, educadores e atores do mercado e, na Bahia, vêm se reunindo para incentivar e promover ferramentas para que mais pessoas e organizações juntem-se ao movimento.
O nosso objetivo é redefinir o conceito de sucesso na economia baiana, com coesão e confiança, tendo o bem-estar das pessoas, da sociedade e da natureza como indicadores no curto e longo prazo. Porque essa é uma longa jornada. Ela não vai acontecer da noite para o dia. Mas, para seguir a jornada, é imprescindível que todos nós estejamos atentos para o nosso papel dentro dela e nos enxergarmos como agentes dessa mudança. Para a Comunidade B na Bahia, ser B não é uma posição, ser B é uma direção. E nós precisamos de todos para colocar a Bahia e o Nordeste definitivamente no mapa desta nova economia. Conheça, participe, escolha produtos B e faça parte deste movimento!
Laura Gurgel é co-gestora da Comunidade B Bahia e conselheira-diretora da SER uma organização facilitadora da transformação positiva através da criação colaborativa de iniciativas inovadoras que promovem o desenvolvimento local. É membro Alumni da rede de jovens Global Shapers, uma iniciativa do Fórum Econômico Mundial. laura@somos-ser.org