Fonte: ECOA/UOL
Imagem: Pablo Saborindo (UOL)
Como qualquer jovem, o baiano Enderson Araújo procurou inúmeras oportunidades de trabalho. No entanto, por ser negro, de origem humilde e morador de comunidade carente na periferia da Bahia, sentiu o tom de preconceito escondido por trás dos inúmeros “nãos” ouvidos durante sua busca por emprego.
Enderson chegou a trabalhar como marceneiro, mecânico, pintor, lavador de carro, cabeleireiro, vendedor de picolés. Aos 16 anos, saiu da casa da sua mãe em Cajazeiras e foi morar com a avó em Sussuarana, onde conseguiu concluir os estudos na Educação de Jovens e Adultos (EJA).
Em 2010, participou do projeto Promovendo Direitos de Jovens onde teve seu primeiro contato com o audiovisual. Lá, aprendeu um pouco mais sobre produção em rádio e técnicas de escrita e com o conhecimento adquirido nas oficinas, reuniu-se com alguns amigos e criou o Mídia Periférica, veículo de comunicação alternativo para dar visibilidade aos moradores de Sussuarana. Segundo Enderson, “os programas sensacionalistas ajudam a disseminar essa versão distorcida e irresponsável das favelas em todo o Brasil.”
“Meu objetivo era mostrar, por meio dos olhares que vinham de dentro da comunidade que Sussuarana e as ‘quebradas’ próximas não se resumiam à bandidagem e ao tráfico”, explica Enderson. No início, eram produzidos vídeos simples com imagens da comunidade captadas pelos próprios moradores e, posteriormente, compartilhados nas redes sociais.
Não demorou muito para que o projeto ganhasse visibilidade nacional. Hoje, a Mídia Periférica integra a Rede Nacional de Jovens Comunicadores (Renajoc). Além disso, Enderson participa também de debates e seminários sobre comunicação e desigualdade.
Em 2014, criou o jornal impresso do Mídia Periférica com ajuda dos amigos e membros da comunidade. Para Enderson, “Era importante que o jornal fosse produzido sob as lentes dos moradores, pois só assim deixaríamos de reforçar as más notícias que a grande mídia compartilha.”
Com o crescimento do Facebook no Brasil, Enderson passou a compartilhar as fotografias registradas pelos moradores de diversas comunidades como Boca do Rio, Lobato e Castelo Branco como imagem de capa na rede social.
A iniciativa ganhou o nome de “Postais das Periferias”, amplamente divulgada na imprensa brasileira na época e que, segundo Enderson, foi criada para valorizar as comunidades baianas e mostrar para o restante do país o que elas tem a oferecer de melhor.
Suas ações do Mídia Periférica ajudaram a possibilitar o contato com jornalistas de todo o Brasil, além de personalidades, como o atacante do Flamengo Gabigol, que doou um uniforme oficial autografado para o projeto.
Enderson, então, teve a ideia de rifar o item. Porém, em vez de pedir dinheiro aos moradores, pediu caixas de chocolates. Ao todo, Enderson conseguiu 450 caixas que foram distribuídas entre as crianças de Sussuarana.
O Brasil possui milhares de comunidades carentes desconhecidas e esquecidas pela população e a criação do Mídia Periférica é uma iniciativa inspiradora e poderosa para dar maior voz a estas pessoas e, assim, ajuda a desconstruir a visão errônea da periferia que é exposta diariamente nos veículos de mídia.