Todos os dias novos empreendedores de impacto se descobrem no país. O momento “eureka” é bom, mas é preciso compreender o real significado dessa transformação.
Fenômeno crescente no campo dos negócios de impacto (especialmente em ecossistemas ainda em “desenvolvimento”) é comum nos depararmos com empreendedores que se descobrem como sendo “de impacto”.
Tinham (têm) um negócio (startup, empresa, etc) e ao serem introduzidos ao conceito de negócios de impacto, prontamente se reconhecem como sendo parte deste movimento. Que bom!
Trata-se de um momento “eureka” de cunho identitário. Um certo rito de passagem, digamos. E o que parece ser um ato banal e de menor importância, é, na verdade, a porta de entrada a um “novo mundo” de oportunidades e conexões.
Daí a brincadeira com a expressão “sair do armário” ou, entrar num novo “armário” como preferir, caro(a) leitor(a).
Se autorreconhecer como sendo um negócio de impacto, implica em algumas mudanças de identidade e, sobretudo, rumo.
De um lado, assumir seu propósito (do fundador e da organização) como sendo algo chave na proposta de valor do negócio. O que antes era algo “desejável”, passa a ser “vital”.
De outro, acessar um novo repertório de ferramentas e conexões – aceleradoras, intermediários, investidores, narrativas, métricas, etc.
Isso reduz a energia necessária para “inventar rodas” que ajudem a gerir e a expandir o negócio, pois, a conexão com outros players e possíveis parceiros traz boas ofertas nestes quesitos.
E quais os ônus que esta autodescoberta traz?
Vejo, ao menos, três:
- Necessidade de destinar tempo e energia para mergulhar mais fundo neste novo tema, compreendê-lo com mais profundidade e identificar possíveis sinergias e apoios que tenham fit com seu negócio. Se isso ocorre num ecossistema ainda em “desenvolvimento”, provavelmente demandará recursos financeiros para participação em eventos, em acelerações em SP (ou outro “centro” mais “desenvolvido” no tema).
Encare isso como investimento e não como despesa. Mas, atenção: como a oferta é crescente, é preciso ter muita clareza do que/onde participar. - Precisa “catequizar” outros neste tema – equipes, parceiros e, especialmente, investidores. Talvez eles também não estejam antenados no assunto e precisarão de estímulo para “saírem do armário” também. Na medida em que o negócio estimula um “microecossistema” ao seu redor, aumentam suas chances de prosperar neste novo movimento.
- Sensação de solidão. Para nós que vivemos e estamos “fora do eixo”, em ecossistemas “em desenvolvimento”, é natural a sensação de “pregar no deserto” e de “solidão” ao não estar na zona sul de SP e ter acesso a ampla oferta de eventos, cafezinhos, conexões. Para este tipo de sentimento, a saída é seguir em frente e, sempre que possível, buscar esse “oxigênio” estando presencialmente em ecossistemas mais “desenvolvidos”. Sempre quando possível, claro.
Sem dúvida a internet também pode nos ajudar (e como!) a reduzir a distância e a disparidade entre esses ecossistemas e a nos deixar mais “por dentro” das novidades e tendências. Mas sempre é bom lembrar que nosso Brasil é gigante, repleto de diversidade regional e, portanto, há espaço para todos(as) neste “movimento”.
Fabio Deboni é engenheiro agrônomo e mestre em recursos florestais pela ESALQ/USP. É gerente-executivo do Instituto Sabin e membro do Conselho do GIFE. Tem participado ativamente do engajamento de institutos e fundações no campo das finanças sociais e negócios de impacto. É escritor de diversos artigos e está lançando seu novo livro – Impacto na Encruzilhada – disponível aqui: https://mymag.com.br/projeto/encruzilhada/