Impacta Nordeste

Gerenciar a si mesmo: produtividade, equilíbrio e vida com propósito

Sad young African American man dressed in green sweater, sits at desktop, hands with papers, alarm clock, touchpad, notepad with stickes, studies documentation, isolated over pink background

Vivemos em um mundo marcado pela volatilidade, urgências, complexidades, ambiguidades, hiperexposições e múltiplos controles, que muitas vezes violam nossos universos particulares. Em decorrência da pandemia de Covid-19, além dos fatores citados, experimentamos o angustiante distanciamento social e o convívio com inúmeras incertezas em relação à saúde, à economia, ao futuro, à vida. Por isso, mais do que nunca, pensar e viver a “gestão de si mesmo”, passou a ser um imperativo para vida pessoal e profissional de todas as pessoas, independentemente das suas áreas de atuação. 

Fomentar o desenvolvimento, conectar propósitos para gerar impacto positivo na vida de pessoas, organizações, comunidades, clientes, fornecedores e acionistas/investidores, são essas algumas das inúmeras responsabilidades que integram a vida de muitos líderes, gestores de negócios e iniciativas sociais. Mas quem cuida dos profissionais do desenvolvimento, daqueles que pensam e dedicam suas vidas, tentando, e, em alguns casos, resolvendo problemas que impactam as coletividades em diferentes escalas territoriais?

A busca frenética por resultados, produtividade, altas performances, por recompensas e reconhecimentos distorce nossas percepções sobre a realidade, e  impedem-nos de escutar ativamente aos outros e a nós mesmos, de ouvir e seguir as batidas dos nossos corações; de conhecer e tatear as texturas que a mãe-natureza nos oferece; de sentir os aromas que nos transportam a diferentes tempos, de saborear os frutos da terra, e de ver com nitidez a singularidade das pessoas e não exclusivamente suas ocupações profissionais, de reconhecer a potência dos encontros, a beleza e a brevidade da vida.

Todo líder, todo gestor, possui a sua rede de apoio, o seu porto seguro, aquele lugar de escuta e do afeto, onde recarrega as energias, reorienta olhares e posturas, no entanto, algumas reponsabilidades e compromissos são indelegáveis. Manter uma vida equilibrada, cuidar do corpo, da mente, dos relacionamentos, da espiritualidade, devem ser prioridades na vida daqueles que gerenciam tantos projetos, processos, rotinas, tarefas e entregas para diferentes públicos.

E o diamante a cor dos olhos

O dia mente a cor da noite

Os olhos mentem dia e noite a dor da gente.

Fernando Anitelli | O Anjo mais Velho

Apesar da grandeza dos gestos e dos benefícios gerados, não é raro encontrarmos atrás da imagem forte, altiva e “inabalável” das lideranças, pessoas humanas, inseguras, emocionalmente frágeis, frustradas, ansiosas, estressadas, depressivas, esgotadas. Pessoas que cuidam, mas que demandam cuidados! O foco aqui não é discutir as capacidades acadêmicas e competências técnicas, mas refletir sobre como os Líderes, Gestores e Profissionais de modo geral, podem encontrar a justa medida para assegurar uma “vida com qualidade”, com significado, “resultados”, mas “com equilíbrio” (BARBOSA, 2012).

Para Tânia Fischer (2019) a “gestão de si” é o campo da gestão mais complexo e desafiador para os sujeitos, pois compreende a gestão de trajetórias, de carreiras que vão se modificando, que vamos aprendendo a compor, a romper, a criar pontos de rupturas, a criar pontos de conexão e especialmente   pontos de mutação.

Nos últimos tempos, em distanciamento social, com as interações limitadas, sentindo ausências, com medo do desconhecido e em meio a um oceano de incertezas, muitas pessoas repensaram seus padrões de consumo, estilos de vida, mudaram a alimentação, abriram-se ao diálogo, reorientaram seus olhares sobre a ciência e a cultura, reconheceram como a ação humana é tão perversa com a demais formas de vida, buscaram conexão com o sagrado.

Parece que a ficha caiu! Mas até que ponto há predisposição para uma mudança efetiva?

Drucker (1999, p.) nos ensina que os desafios de gerenciar a si mesmo “podem parecer óbvios, até elementares, e as respostas talvez pareçam autoexplicativas a ponto de soarem ingênuas. Mas gerenciar a si mesmo exige que a pessoa faça coisas novas e sem precedentes”.

No livro Como Avaliar Sua Vida, Christensen, Allworth e Dillon (2012) pontuam sobre a importância de planejar a vida em diferentes âmbitos, dando atenção às serendipidades, ou seja, defendem a importância de projetar o futuro, mas deixando espaços para o novo, para o “inesperado agradável”, e sempre alinhado a um propósito nobre e superior! 

Sem propósito a vida pode

tornar-se vazia.

Christensen (2010)

A “manifestação da nossa essência”, a nossa “expressão do amor pela humanidade”, essa é a compreensão de propósito que Kislansky (2017, p.90-91) nos apresenta. Para ele, viver com propósito “é ser fiel a si mesmo, ao que você acredita, à sua essência e às suas raízes, e não ao que os outros querem que vocês sejam ou o que a sociedade sugere como ideal e correto”.

Todo momento de travessia carrega inúmeras oportunidades de descobertas, de crescimento, de desenvolvimento, de evolução, de conexão, de esperançar! Precisamos olhar para dentro, para reinventarmos nossa forma de sermos e estarmos no mundo, considerando, sobretudo, a implacável ação do tempo (que não volta atrás para correções de rumos!).

A vida extraordinária que podemos construir será um reflexo das nossas escolhas diárias. Sejamos donos dos nossos destinos. Honestos, mas não tão duros com nós mesmos. Exercitemos a empatia, mas tenhamos também compaixão e senso de humanidade diante das dores e necessidades alheias. Cuidemos da saúde do corpo e da alma. Aprimoremos os nossos pontos fortes e confiemos cada vez mais em nossas capacidades. Sejamos o que quisermos ser, sem que necessitemos negociar os nossos valores ou que tenhamos que violar os direitos de outrem. Sejamos gratos aos encontros que a vida nos oferecer. Agreguemos valor à existência dos que nos cercam, sem que esqueçamos do que é elementar para o nosso bem-viver.

Vivemos tempos difíceis, não precisamos complicá-los ainda mais!

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TEXTOS:

VÍDEOS:

Tânia Fischer | Polêmicas Contemporâneas #6

Fabricio Cruz é baiano com muito orgulho! Profissional do Desenvolvimento. Sócio-diretor da Atairu – Gestão e Inovação Social. Mestre em Desenvolvimento e Gestão Social (EAUFBA/PDGS). Especialista em Gestão de Projetos (ESALQ/USP) e em Inovação, Sustentabilidade e Gestão de Organizações da Sociedade Civil e do Terceiro Setor (UNIJORGE).

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