A educação é uma das ferramentas mais eficazes para mudar a vida de jovens em situação de vulnerabilidade. Iniciativas como o Mais Solidário estão ampliando o acesso ao ensino superior para milhares de estudantes de baixa renda no Brasil.
“Educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo.” A frase de Nelson Mandela reflete bem o poder transformador que a educação tem, algo que vivenciei de forma direta. Desde criança, inspirado por tios que frequentavam universidades públicas, sempre sonhei em seguir o mesmo caminho. No entanto, ao concluir o ensino médio, me deparei com uma barreira comum no Brasil: a defasagem do ensino público.
Quando prestei o vestibular da UFBA (Universidade Federal da Bahia), em 2011, que utilizava um processo seletivo de duas fases, não consegui aprovação. O ensino público, sem a estrutura necessária, não me preparou adequadamente. Contudo, uma bolsa de estudos pelo ProUni me abriu as portas para o ensino superior, e essa oportunidade foi decisiva para o meu futuro. A bolsa não apenas me proporcionou o acesso ao conhecimento e à cultura, mas também influenciou diretamente a minha sobrevivência em uma realidade onde muitos jovens negros não têm a mesma chance.
Segundo o Instituto Sou da Paz, em 2019, 59% dos jovens negros mortos por armas de fogo tinham até sete anos de escolaridade. Entre os não negros, essa taxa era de 45%. Muitos dos meus amigos e vizinhos, que também sonhavam com uma vida melhor por meio da educação, não tiveram a mesma sorte e acabaram vítimas da violência. Nesse contexto, a educação foi, para mim, uma linha de segurança, e é esse mesmo princípio que o Mais Solidário busca promover para jovens de baixa renda.
Mais Solidário: democratizando o acesso à educação
O Mais Solidário surgiu com a proposta de oferecer uma solução prática para jovens de baixa renda que enfrentam dificuldades para acessar o ensino superior. A startup conecta esses estudantes a vagas ociosas em instituições privadas, oferecendo bolsas que podem chegar a até 80% de desconto. A ideia central é simples, mas eficaz: aproveitar as vagas que não foram preenchidas para criar novas oportunidades educacionais.
O diferencial do Mais Solidário está na inclusão. O programa não exige a nota do Enem ou outros critérios que tradicionalmente afastam jovens da periferia dos programas de financiamento estudantil, como o Fies e o ProUni. A simplicidade no processo permite que estudantes ingressem em cursos de graduação ou técnicos de forma acessível, sem burocracias excessivas. Além disso, a plataforma oferece opções de cursos presenciais e à distância, adaptando-se à realidade de jovens que enfrentam desafios logísticos e financeiros.
Essa abordagem inclusiva tem sido crucial para ampliar as oportunidades de educação em diversas regiões do Brasil. Ao disponibilizar essas bolsas em áreas remotas e urbanas, o Mais Solidário contribui diretamente para que jovens que antes não tinham perspectiva de continuar seus estudos agora possam traçar um novo caminho, tanto no campo profissional quanto pessoal. O impacto vai além da academia, gerando transformação em suas comunidades.
Mozart Estrela e a transformação social pela educação
O fundador da iniciativa, Mozart Estrela, conhece de perto as dificuldades que os jovens de baixa renda enfrentam para acessar a educação. Ele viveu essas barreiras e quase viu seu sonho de cursar uma faculdade escapar. Sua experiência o motivou a criar o Mais Solidário, com o objetivo de proporcionar o mesmo tipo de oportunidade que ele teve através de bolsas de estudo.
A transformação social que Mozart busca vai além de colocar jovens nas universidades. O impacto das bolsas se reflete na melhoria das condições de vida dos beneficiados e de suas famílias. Muitos dos estudantes atendidos pelo programa são os primeiros de suas famílias a ingressar no ensino superior, e isso abre portas para uma nova realidade, reduzindo os riscos de exclusão social. Estrela reforça que cada diploma conquistado é um passo para mudar a desigualdade que ainda afeta profundamente as periferias brasileiras.
Para Mozart, a educação é a chave para transformar realidades. Ele acredita que, ao permitir que jovens de baixa renda acessem o ensino superior, o Mais Solidário está criando uma geração de profissionais mais qualificados, capazes de quebrar o ciclo de pobreza e exclusão social que ainda persiste em diversas partes do Brasil. Essa visão de longo prazo guia suas ações e impulsiona o crescimento da startup.
O futuro do Mais Solidário
Com mais de 12 mil estudantes impactados até o momento, o Mais Solidário tem planos ambiciosos de crescimento. A meta para 2024 é matricular 20 mil novos alunos, além de expandir para novos estados como Acre, Maranhão e Santa Catarina. Outro foco da startup é o lançamento de uma plataforma de qualificação profissional, com cursos técnicos e de aperfeiçoamento, ampliando o leque de oportunidades para os estudantes.
A startup também está mirando a expansão internacional, com negociações em andamento com instituições da América Latina e da África. A ideia é que o modelo de inclusão educacional do Mais Solidário possa beneficiar jovens em outras regiões com problemas semelhantes de acesso ao ensino superior. Essa estratégia visa transformar a startup em um agente global de impacto social, ampliando ainda mais seu escopo de atuação.
Com esses planos de crescimento e expansão internacional, o Mais Solidário visa se consolidar como um dos principais atores na democratização do ensino superior. O impacto gerado até agora é significativo, mas a ambição de Mozart Estrela e sua equipe é levar a educação acessível a ainda mais jovens, rompendo barreiras e criando novas possibilidades de futuro para quem mais precisa.
A educação é um direito básico, mas ainda inacessível para muitos. Iniciativas como o Mais Solidário buscam quebrar essas barreiras, facilitando o ingresso de jovens de baixa renda no ensino superior. Ao preencher vagas ociosas e oferecer bolsas de estudo, a startup não apenas transforma a vida de estudantes, mas também contribui para a construção de uma sociedade mais justa e inclusiva. O caminho ainda é longo, mas com projetos como esse, mais jovens podem ter a chance de realizar seus sonhos e alcançar uma vida melhor.
Jônatas Akillah Pereira, 29 anos, é formado em Publicidade e Propaganda na Universidade Salvador (UNIFACS) desde 2015 e graduando em Bacharelado Interdisciplinar em Artes com enfase em Cinema e Audiovisual na Universidade Federal da Bahia (UFBA). Tem experiências profissionais como social media, marketing político e na área de cinema como editor e produtor. É um apaixonado pela tecnologia, escrita e cinema. Um eterno aprendiz sempre disposto a absorver o que o mundo e as pessoas em sua volta estão dispostos a ensinar. Busca direcionar o seu conhecimento para a luta antirracista.
Jonatas faz parte da Rede Impacta Nordeste.