Opinião

O surgimento e a importância do ESG: uma jornada de transformação

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Mais do que apenas uma tendência de negócios, o ESG representa uma mudança de paradigma em relação à forma como as empresas e a sociedade como um todo entendem e abordam o desenvolvimento sustentável.

Por Rafael Vaisman

Nos últimos anos, temos testemunhado uma crescente conscientização em relação à importância do ESG – Ambiental, Social e Governança – no mundo dos negócios e além. Como especialista global no tema que transcende sustentabilidade, tenho buscado dados de fontes em artigos e relatórios de governos para entendermos melhor essa tendência e seu impacto no cenário empresarial.

De acordo com o renomado autor e acadêmico Michael Porter, “O ESG está se tornando um fator fundamental na criação de valor sustentável para empresas e investidores. Não se trata apenas de fazer o que é certo em termos sociais e ambientais, mas também de maximizar o retorno financeiro a longo prazo.”

Minha jornada profissional me levou a trabalhar em diversos países, incluindo Canadá, EUA, México, Suécia, entre outros. Não apenas como acadêmico, mas também como consultor de Arranjos Produtivos Locais (API) e pesquisador. No entanto, desde 2013, estou no Brasil, mergulhado diretamente no empreendedorismo socioambiental.

Segundo o artigo de Simon Zadek, co-fundador da Rede de Inovação Social (Social Innovation Exchange), “O ESG é essencial para promover a resiliência e a competitividade das empresas no século XXI. Empresas que adotam uma abordagem holística e integrada para lidar com questões ambientais, sociais e de governança têm uma vantagem significativa no mercado.”

Ao longo dos anos, venho desenhando modelos de negócios aliados à inclusão através de tecnologias sociais, com foco em economia circular e regenerativa. Fundei três empresas – a EcoHus, a We Stand e, mais recentemente, a CarbonoB – todas com o objetivo de promover uma abordagem sustentável aos negócios e à sociedade.

Como colunista e líder de jornadas ESG em eventos, minha missão é trazer o público da indústria para dialogar com visitantes e participantes de eventos, além de produtores de feiras de negócios. Acredito firmemente que só podemos mudar o mundo se unirmos todos em torno dessa causa comum.

Segundo o artigo de Aron Cramer, CEO da consultoria ambiental BSR, “O ESG está se tornando uma parte central da estratégia corporativa em todo o mundo. Empresas que ignoram essas considerações correm o risco de ficar para trás e enfrentar consequências financeiras e reputacionais significativas.”

A história do ESG remonta a décadas atrás, quando as preocupações com questões ambientais e sociais começaram a emergir como pontos cruciais na agenda global. No entanto, foi apenas nas últimas duas décadas que essas preocupações se solidificaram e foram formalizadas em um conceito unificado.

Na virada do século XXI, as empresas começaram a perceber que seu desempenho não poderia ser medido apenas em termos de lucro financeiro. Questões ambientais, como mudanças climáticas, escassez de recursos naturais e poluição, começaram a afetar diretamente as operações e reputação das empresas. Da mesma forma, questões sociais, como desigualdade de gênero, diversidade e inclusão, e direitos humanos, ganharam destaque na sociedade e nos mercados.

Foi nesse contexto que o conceito de ESG começou a ganhar força. Inicialmente, as empresas reconheceram a importância de integrar considerações ambientais, sociais e de governança em suas operações como parte de uma abordagem holística para criar valor a longo prazo. Gradualmente, investidores, reguladores e consumidores também passaram a exigir maior transparência e responsabilidade nessas áreas.

O surgimento de várias crises globais, como a crise financeira de 2008 e a pandemia de COVID-19, amplificou ainda mais a necessidade de um enfoque mais amplo e sustentável nos negócios. Esses eventos destacaram as interconexões entre questões ambientais, sociais e econômicas, e reforçaram a ideia de que empresas sustentáveis são mais resilientes a choques externos e têm um desempenho financeiro melhor a longo prazo.

Hoje, o ESG se tornou uma parte essencial do discurso corporativo e uma métrica fundamental para avaliar o desempenho e a reputação das empresas. No entanto, mais do que apenas uma tendência de negócios, o ESG representa uma mudança de paradigma em relação à forma como as empresas e a sociedade como um todo entendem e abordam o desenvolvimento sustentável.

Mas alcançar os objetivos do ESG não é tarefa fácil. Requer um esforço colaborativo e multidisciplinar que vai além dos limites das empresas individuais. É aqui que entra a importância de uma abordagem coletiva e de equipe para a implementação eficaz do ESG.

“Não se trata apenas de adotar políticas e práticas sustentáveis, mas de integrar esses princípios em todas as áreas de negócios, desde operações e cadeia de suprimentos até comunicação e engajamento com partes interessadas.”

Não se trata apenas de adotar políticas e práticas sustentáveis, mas de integrar esses princípios em todas as áreas de negócios, desde operações e cadeia de suprimentos até comunicação e engajamento com partes interessadas. Isso exige expertise e colaboração de profissionais de diversas áreas, incluindo especialistas em sustentabilidade, jurídico, finanças, recursos humanos e comunicação.

Em última análise, o objetivo do ESG não é apenas criar valor para as empresas, mas também para a sociedade como um todo. É sobre construir um futuro mais justo, equitativo e sustentável para todos. Para alcançar esse objetivo, precisamos reconhecer que o ESG não pode ser alcançado isoladamente, mas sim através de um esforço conjunto e colaborativo que transcende fronteiras e setores.

Nesse contexto, é essencial destacar a importância das iniciativas legislativas que promovem a adoção de práticas ESG pelas empresas. Um exemplo notável é o projeto de lei 4.363/2021, que está em tramitação no Senado Federal brasileiro. Esta legislação visa instituir o Selo Nacional ASG, conferido às empresas que investem em ações e projetos de motivação ambiental, social e de governança.

De acordo com esta proposta legislativa, a motivação ambiental, social e de governança é caracterizada por ações que integram fatores sociais, ambientais e de governança nos processos de investimento. Isso inclui boas práticas com colaboradores, clientes e fornecedores, políticas de inclusão e diversidade, programas de responsabilidade social corporativa, uso adequado de recursos naturais, entre outros.

A aprovação deste projeto de lei seria um marco importante na promoção da cultura ESG no Brasil, incentivando as empresas a adotarem práticas mais sustentáveis e responsáveis. Isso demonstra como o ESG não é apenas uma tendência de negócios, mas sim uma mudança estrutural na forma como as organizações operam e se relacionam com o mundo ao seu redor.

Em suma, o surgimento e a crescente importância do ESG representam uma transformação fundamental na maneira como as empresas e a sociedade percebem e abordam o desenvolvimento sustentável. É um movimento que exige colaboração, transparência e compromisso de todas as partes interessadas, visando construir um futuro mais resiliente e equitativo para todos.

Rafael Vaisman é um empreendedor com mais de uma década de experiência no ramo de eventos. Desde 2013, liderou iniciativas inovadoras, incluindo a Ecohus, uma empresa especializada em projetos ecológicos. Atualmente, Rafael é o CEO da CarbonoB & We Stand, uma nova geração de biocréditos, e uma plataforma líder em soluções ESG para eventos. Com sua formação acadêmica, incluindo dois mestrados na Suécia e experiência internacional em organizações como o Banco Mundial, ISS, Fundo de Desenvolvimento do Canadá e Nova Zelândia, se tornou um especialista global em sustentabilidade e inovação. Rafael também é palestrante internacional, compartilhando seu conhecimento e experiência em todo o mundo.