Impacta Nordeste

Olhares periféricos: a fotografia como propulsora da inclusão social

A fotografia tem um papel social e político capaz de conscientizar, educar, entender as situações que moldam o mundo em que vivemos. No próximo sábado (19/08) comemoramos o Dia Mundial da Fotografia. Conheça projetos de inclusão social, baseados na utilização da fotografia que visam valorizar a auto estima de comunidades.

*Foto de capa: Iago Barreto Soares

Por muito tempo a favela esteve completamente fora dos debates que movimentaram a cidade. No entanto, essa visão está sendo desconstruída e a favela não deve ser tratada como uma coisa exótica, fora da realidade ou digna de pena. Os seus moradores carregam uma bagagem de força e energia para transformar realidades, marcado pela luta e resistência.

O desejo das pessoas de se verem representadas em sua subjetividade, diversidade, afetos e espírito comunitário; sem mascarar as contradições, injustiças e violências; fez surgir a partir dos anos 2000 um movimento inédito de produção fotográfica e audiovisual sobre e para a periferia, abrindo espaço de valorização do(a) fotógrafo(a) nascido e residente local.

A velocidade e a abrangência das comunicações atuais potencializam essas características da imagem fotográfica em um papel social e político capaz de conscientizar, educar, entender as situações que moldam o mundo em que vivemos e dar acesso a instrumentos para o exercício da cidadania. 

Periferia de Fortaleza (Foto: Sara Café)

Somados a isso, a juventude se empodera da arte fotográfica para contar suas próprias narrativas, buscando gerar um registro histórico e uma consciência social, dando visibilidade aos seus territórios e assim ressignificar as realidades mostrando os cotidianos, os sujeitos, as vivências periféricas e suas expressividades culturais.

Aqui em Fortaleza, temos dezenas de projetos de inclusão social, baseados na utilização da fotografia que visam valorizar a auto estima das comunidades. A partir disso, nascem as iniciativas, os coletivos de fotógrafos e grupos de jovens moradores de diferentes periferias da cidade que têm a maior parte de suas produções centradas em temáticas cotidianas dos espaços onde vivem e ocupam.

O antropólogo e fotógrafo Milton Guran, no artigo “O olhar engajado: inclusão visual e cidadania”, mostra como a natureza polissêmica da imagem fotográfica acentua o seu caráter universal e de inclusão social. 

“Se a fotografia é hoje um atestado de cidadania, ela pode ser associada às políticas de democratização e aos processos de inclusão social. O direito à informação, o direito à representação, o direito à educação visual, enfim, o direito à imagem, estão necessariamente relacionados às políticas de identidades próprias, à redefinição dos sujeitos sociais em termos planetários.” 

E o que vai somar nesse novo olhar sociocultural sobre a cidade são as questões humanas, de como é a sua relação com o território, como você absorve aquela cultura e como dialoga com as pessoas na rua, como você vê a representação do seu universo afetivo e familiar e a sua integração e socialização com a comunidade. 

No próximo sábado (19/08) comemoramos o Dia Mundial da Fotografia. Por isso, listei  algumas iniciativas de ensino da fotografia e 10 indicações de fotógrafos(as) de rua e documental que vale a pena conhecer, prestigiar e acompanhar.

8 iniciativas de ensino e fomento da fotografia

Centros Culturais 

O Centro Cultural Bom Jardim (@centroculturalbomjardim) vinculado à Secretaria da Cultura do Estado do Ceará (Secult) e o Centro Cultural Canindezinho, equipamento cultural da Secretaria Municipal de Juventude e administrada pelo Instituto Juventude Inovação (IJI), são localizados em bairros periféricos de Fortaleza e oferecem serviços gratuitos e abertos ao público nas áreas de esporte, cultura e educação. 

Imagem Território – @imagemterritorio

Produtora cultural formada pelos fotógrafos Gandhi Guimarães (@gandhiguimaraes), Jauh Ferreira (@pretoroxeda) e Gustavo Costa (@laroynego) já realizou diversas rodas de conversa com jovens da periferia e produziu a exposição fotográfica coletiva “Periferia, presente!”. Está com o projeto Canindezinho Fotográfico, apoiado pela Edital das Artes de Fortaleza com cursos de fotografia básica, rodas de conversas e exposições. 

Museu da Fotografia de Fortaleza – @museudafotografiafortaleza

Administrado pelo Instituto Paula e Silvio Frota, com o objetivo de fomentar o conhecimento local, tornar acessível e constante a educação pela fotografia, o Museu conta com acervo próprio, biblioteca para pesquisa, exposição permanente e temporárias, núcleo educativo com diversos cursos, exibição de filmes, oficinas, projetos e workshops gratuitos. 

Museu da Imagem e do Som Chico Albuquerque – @mis_ceara

O equipamento da Secretaria da Cultura do Ceará atua na conservação, digitalização, restauro digital e exposição de acervos imagéticos, sonoros e audiovisuais. Oferece ao público atividades gratuitas e uma vez por mês ocorre a Feira da Fotografia de Fortaleza (@feiradafotografia) idealizada pelo fotógrafo Chico Gomes, com palestras, artigos fotográficos, exposições e troca de experiências.

Rede Cuca – @redecucaoficial

É uma política pública da Prefeitura de Fortaleza, por meio da Secretaria Municipal da Juventude, que objetiva oferecer proteção social e oportunidades às juventudes de 15 a 29 anos, através de uma série de ações e atividades totalmente gratuitas em práticas esportivas, cursos de dança, teatro e música, oficinas e cursos de formação nas áreas de tecnologia, linguagens, ciência e educomunicação. 

Porto Iracema das Artes – @portoiracemadasartes

É uma escola de formação e criação em artes, instituição da Secretaria da Cultura do Ceará (Secult), gerida em parceria com o Instituto Dragão do Mar (IDM), é referência no país e completa 10 anos neste mês de agosto. A Escola está hoje em 49 municípios do estado, com cursos de formação básica gratuita em Artes Cênicas, Artes Visuais e Audiovisual; Laboratórios de Criação e formação técnica em Dança. 

Rastilho Espaço Criativo – @rastilhogalpao

Um antigo galpão no centro de Fortaleza se tornou referência no ensino da fotografia e audiovisual. Com uma proposta inovadora, o Rastilho Espaço Criativo criado pelo produtor cultural Bruno Ko (@brunoko) e o fotógrafo George Lucas (@ogeorgelucas), conta com estúdio fotográfico e produtora audiovisual, cursos rápidos de iniciação ao avançado em fotografia, oficina de fotografia de rua, professores atuantes no mercado e com várias programações gratuitas de palestras e exposições. 

Sol para Mulheres@solparamulheres 

Coletivo de 60 mulheres fotógrafas e artistas visuais, constitui-se em grupo de pesquisa e de produção da Imagem Brasil Galeria (@imagembrasil.galeria) sob coordenação de Patricia Veloso. A partir da formação de grupos de estudos teóricos e práticos, as participantes têm encontros mensais com convidados de expressiva atuação no universo das artes, apreciação coletiva de obras, articulação de intercâmbios e trocas de experiências.

10 fotógrafos(as) de rua e documental para você seguir

Beatriz Boblitz@beatrizboblitz

Especialista em fotojornalismo, seu trabalho é baseado nas raízes interioranas e no sertão nordestino, já viajou por diversas cidades do Brasil em busca de conhecer histórias e realidades do cotidiano. Está com a sua primeira exposição fotográfica “Sertão Mar” aberta no Rastilho Espaço Criativo. 

Beatriz Souza@bia.souzzz

Jovem periférica moradora do bairro Quintino Cunha, seu trabalho é focado na fotografia de rua e recentemente participou do Festival de Fotografia do Sertão Central (Festival QXAS) e da primeira edição do Festival Foto de Quebrada (FFQ) com uma foto exposta na Galeria Risofloras em Brasília/DF, participou da segunda edição do Festival Carcará Foto Conferência em 2021 e uma dos artistas da exposição fotográfica “Periferia, presente!”

Foto: Beatriz Souza

Gabriel Sousa – @_gabriell_sousaaa

Jovem morador do bairro Pirambu e fotógrafo de rua, foca seu trabalho nos pescadores localizados na zona oeste da Vila do Mar. Colaborou com o livro “Direitos e deveres do pescador artesanal do Estado do Ceará”, participou do still no filme “Aquele que venho do oeste”, também do documentário “Passe a palavra trapcal” e um dos artistas da exposição fotográfica “Periferia, presente!”

Pescador da zona oeste da Vila do Mar. (Foto: Gabriel Sousa)

Gandhi Guimarães@gandhiguimaraes

Fotógrafo e produtor cultural atuante no cenário de arte e cultura independente em Fortaleza. Dirigiu videoclipes e documentários, colaborou em revistas, jornais e sites, e teve trabalhos publicados também em exposições, livros e capas de discos. Atua como professor de fotografia na Rede Cuca, no Centro Cultural Bom Jardim e no Porto Iracema das Artes. Desde 2019 coordena o Rolé Fotográfico (@rolefotografico.br), projeto que reúne fotógrafos amadores e profissionais em incursões por locais culturais da cidade.

Iago Barreto Soares – @iagobasoares

Fotógrafo, arte educador e comunicador ligado ao museu indígena Tremembé, atuou como professor na Escola de Cinema Indígena Jenipapo-Kanindé. Participou da exposição da Unifor Plástica (2019) e do catálogo Ligar Pontos Luminosos da Casa Absurda (2021). Hoje milita junto ao povo Anacé da Japuara no direito à terra e à autonomia.

Jane Batista – @anjo.batista

Moradora do Serviluz, usa exclusivamente seu telefone celular como ferramenta para capturar as imagens. Através de autorretratos performáticos e utilizando objetos do seu cotidiano, ela explora noções de raça, história e representação, numa maneira de resistir ao silenciamento e superar os julgamentos sobre os corpos femininos, negros e marginalizados. Integrante do Sol para Mulheres, está com a exposição “Dizer o Silêncio” na Imagem Brasil Galeria aberta à visitação até o dia 02 de setembro. 

Joyce Vidal – @joycesouvidaphotographer

Nascida e criada no bairro de periferia Carlito Pamplona, iniciou seus estudos em audiovisual e fotografia no ano de 2010, atua no Coletivo Zóio e já participou de diversas exposições e curadorias fotográficas. Trabalha com foco nas temáticas sobre resistência e existência, principalmente por dialogar bastante sobre questões voltadas para o povo negro e a mulher negra.

Léo Silva – @desconectaoleo

É escritor, fotógrafo, documentarista e morador da comunidade Santa Filomena, no bairro Jangurussu, começou seu trabalho fotográfico e audiovisual em 2015. Tem duas exposições fotográficas individuais: “Meninos de Deus” (2019) e “Simplicidade – Simples Cidade” (2017). Sua exposição “Uma Filomena: Um olhar sobre a comunidade” fez parte da Temporada de Arte Cearense (TAC) na programação do Centro Cultural Dragão do Mar. 

Thiago Braga – @thiagobragape

É professor e fotógrafo, formado em filosofia e mestre em comunicação, onde desenvolve pesquisas sobre estética e filosofia da fotografia. Atua prioritariamente na fotografia de rua, já ministrou cursos no Porto Iracema das Artes e atualmente é professor da Rede Cuca, do Museu da Fotografia e do Rastilho Espaço Criativo. 

Ulisses Narciso – @ulissesnarciso

Fotógrafo profissional, de retrato e fotografia documental, com participação em várias exposições coletivas de fotografia e com várias fotos publicadas em variados meios de comunicação. Como professor de fotografia atuou em diversas instituições como escolas, ONGs e secretarias de educação e cultura, e atualmente é professor da Rede Cuca. 

Sara Café, é graduada em Comunicação Social/Jornalismo, especialista em assessoria de comunicação e formação em fotografia. Atua na área de inovação e impacto social através de trabalhos de jornalismo, redação e produção de conteúdo, mídias sociais, assessoria de imprensa e coberturas fotográficas. Bolsista de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação no Laboratório de Inovação do SUS no Ceará (2021) e do Observatório de Educação Permanente em Saúde (2022), projetos da Escola de Saúde Pública do Ceará. Produz entrevistas e matérias jornalísticas especializadas para o hub de negócios TrendsCE. Voluntária e Diretora de Comunicação do Instituto Verdeluz (gestão 2019 a 2022) e membra da Rede Brasileira de Jornalistas e Comunicadores de Ciência (RedeComCiência), da Rede Narrativas e integrante da Rede Linguagem Simples Brasil.

Sara faz parte da Rede Impacta Nordeste.

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