Pergunta de 1 milhão de dólares que todos querem ter a capacidade de responder: quais os cenários futuros que o campo de negócios de impacto trilhará?
Ainda que ninguém tenha uma bola de cristal, há muito insumo que possibilita “chutes aproximados”, à luz da trajetória recente do tema.
Organizei essas apostas em cinco frentes, longe de esgotar inúmeras outras previsões e reflexões:
1- Mais diversidade
A agenda vem incorporando maior diversidade (viva!) em algumas frentes, por exemplo:
– tipos de investidores (fundos, anjos etc.);
– tipos de negócios de impacto (diferentes modelos jurídicos, apetites distintos, periferias, OSCs etc.);
– tipos de intermediários e de programas de aceleração;
– mais opções de instrumentos (novas formas de empréstimo, de equity, blended etc.);
– maior protagonismo de outras regiões do Brasil, além de São Paulo (há vida “inteligente” neste campo em diversas cidades do país).
2- Mais caroneiros
Sem dúvida, mais e mais atores surfarão essa “onda”.
Alguns “saindo do armário” e se convertendo à agenda (pra valer), outros para ganhar dinheiro na “onda” do momento
Na medida em que o campo vai saindo da sua bolha, é natural que outros atores até então distantes da agenda se conectem com ela.
Não era o que buscávamos desde o início? Sair da tribo e mobilizar o mainstream?
3- Especializações e “nichos” de resistência
A diversidade projetada no tópico 1 traz consigo um movimento de especialização de players que atuam nesse tema
– aceleradoras:
de ONGs (e daqui a pouco, de certo perfil de ONGs);
de negócios de impacto periférico (e daqui a pouco para certo perfil desse tipo de negócio);
de cooperativas (?).
Além da especialização, necessária com o crescimento e complexificação do setor, tendem a emergir também posicionamentos de “resistência” ao tema.
4- Métricas
Paradoxalmente, temos nessa frente um dos grandes gaps do setor e ele tem experimentado consideráveis avanços por aqui.
Não à toa, as “teorias de mudança” se tornaram “carne de vaca” como instrumento de ordenação dessa lógica, ainda que sua aplicação possa sofrer distorções.
Ainda assim – e é este o paradoxo –, percebo que há um ponto de ruptura nessa frente nos próximos anos.
De um lado, ela tende a ser relativizada com o crescimento de abordagens de impacto mais rasas e mais alinhadas a uma lógica puramente econômica (visando “engordar o gado para o abate) e, de outro, tende a se tornar algo mais automatizado no dia a dia dos negócios (robôs e IA serão aliados nesse sentido).
5- Transformação digital
Por fim, e talvez mais relevante, será a onda da transformação digital no campo.
Resta saber qual será o estrago que essa onda trará ao setor de “impacto”, pois ele já emerge nesse contexto e, supostamente, já se encontra mais bem preparado para essa realidade. Será?
A chance de acertarmos a quina nessa previsão é improvável.
Talvez nos contentemos mesmo com um terno, oxalá uma quadra.
Há espaço para todos na divisão do prêmio de “1 milhão de dólares”.
Façam suas apostas e seus bolões.
Artigo compartilhado originalmente na Aupa – Jornalismo de Impacto.
Fabio Deboni é engenheiro agrônomo e mestre em recursos florestais pela ESALQ/USP. É gerente-executivo do Instituto Sabin e membro do Conselho do GIFE. Tem participado ativamente do engajamento de institutos e fundações no campo das finanças sociais e negócios de impacto. É escritor de diversos artigos e está lançando seu novo livro – Impacto na Encruzilhada – disponível aqui: https://mymag.com.br/projeto/encruzilhada/