A questão do trabalho dos maduros transcende as questões sociais decorrentes da mudança e perfil demográfico.
Por Ricardo Pessoa
Segundo uma pesquisa de 2016 da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), tínhamos um verdadeiro apagão da capacidade técnica no país. Aqui, mais de 60% das empresas com mais de 10 empregados diziam ter dificuldade de preencher vagas com profissional qualificado.
Esta situação era (e continua) encoberta pela crise econômica, mas qualquer crescimento, por menor que seja, vai evidenciar essa realidade.
Onde encontrar mão de obra capacitada para sustentar nosso crescimento?
Neste final de 2019, o país começa a dar sinais de estar finalmente saindo da recessão e iniciando um ciclo de crescimento sustentável. Onde encontrar profissionais qualificados?
A alternativa mais evidente é melhorar nosso sistema educacional. Mas essa mudança, mesmo se bem sucedida, vai levar mais de uma geração, não resolvendo estruturalmente a questão nos próximos 10-20 anos.
Outra é importar mão de obra qualificada. Mas nestes tempos de aumento do protecionismo em todo o mundo e de crise econômica no país, é difícil acreditar que haja vontade política de nossos legisladores para flexibilizar regras e permitir a contratação de profissionais do exterior. Sem falar nos custos de trazer profissionais de fora do país.
Uma alternativa mais viável e de curto prazo é facilitar o trabalho da população madura. O Brasil envelhece rapidamente, como evidencia o gráfico abaixo, produzido com os dados de pesquisa publicada pelo Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) em 2014.
Provavelmente temos no estrato demográfico sênior a mesma porcentagem de mão de obra qualificada que temos na população em geral.
Se conseguirmos disponibilizar essa “reserva” de profissionais qualificados para as empresas, podemos reduzir os efeitos nocivos da escassez de mão de obra qualificada.
Como fazer isso?
Temos três grandes desafios.
O primeiro deles, é combater o etarismo ou idadismo, o preconceito etário na sociedade em geral. Como bem representa o cartaz no metrô de Londres, o envelhecer mudou.
O preconceito torna míopes os RHs das empresas, que insistem tanto em sucatear precocemente profissionais, quanto limitam suas vagas por faixa etária, não considerando a capacidade do candidato.
O segundo desafio é o próprio profissional sênior. É preciso aumentar sua trabalhabilidade, definida como sua capacidade de adaptação e de geração de renda a partir de habilidades pessoais. Para isso, além de atualizá-lo tecnologicamente, é necessário ajudá-lo a se adaptar às formas de trabalho atuais, muito diferentes da realidade que muitos deles conheceram. O trabalho formal, emprego para a vida toda, é cada vez mais raro. A regra atual é o trabalho por projetos, periódico ou pontual.
O terceiro desafio é modernizar o arcabouço legal/regulatório/previdenciário. As recentes reformas trabalhista e previdenciária já deram os primeiros passos nessa direção, formalizando o trabalho eventual, flexibilizando as relações de trabalho e rediscutindo aposentadoria e renda.
Muitas e boas iniciativas já se dedicam a este desafio. Startups, ONGs e negócios sociais como MaturiJobs, o Instituto de Longevidade Mongeral Aegon, a Ativen e o Lab60+, e profissionais de RH como Fran Winandy e seu blog Etarismo. Todos trabalhando para esse novo cenário, redefinindo o envelhecer produtivo e o trabalho nos dias de hoje.
Nós, da Casa Séfora, nos alinhamos a esses movimentos. Como promotores de negócios de impacto social, atuamos hoje em três frentes no movimento pró Longevidade:
- Sensibilizando as empresas e a sociedade em geral para o tema, promovendo eventos, palestras e workshops sobre Longevidade.
- Apoiando o empreendedorismo 50+.
- Participando e realizando projetos para aumentar a trabalhabilidade do profissional sênior.
Nessa caminhada, em 2019 realizamos o Impacta Natal-Longevidade, trazendo a Natal três grandes especialistas nacionais no tema, discutindo o mercado 50+, a formulação de políticas públicas e a promoção do trabalho sênior.
Tivemos a honra de ter o nosso projeto 60@Home (emprego de seniores em serviços de atendimento remoto) selecionado pela Startup Search da Aging 2.0 como uma das 10 iniciativas mais promissoras em longevidade no país.
E realizamos o primeiro Maturiday em Natal, trazendo ao RN o encontro promovido pela Maturijobs em diversas cidades de todo o país, e seminários em parceria sobre empreendedorismo digital 50+, como parte do projeto SeniorGeek, de inclusão digital de seniores.
Ainda neste mês de dezembro, lançamos o “Programa 2020”, um pacote de mentoria, consultoria e assessoria para pequenos negócios e startups de impacto social. Nele, apoiamos iniciativas, ONGs e projetos de impacto social, em especial aqueles de seniores ou voltados para eles.
O programa marca o início do novo ano para nós, um ano onde queremos crescer e contribuir cada vez mais para a melhoria da qualidade de vida em nosso país.
Venha juntar-se a nós no desafio de preparar o país para o envelhecimento da nossa população. Essa é uma luta de interesse de todos: jovens, maduros e idosos, pois todos envelhecemos e queremos ter uma velhice produtiva e participativa.
Vem conosco?
Ricardo Pessoa fez carreira como empreendedor e consultor em telecom, petroquímica e facilities, migrou para projetos de impacto social. Focado em educação e saúde, cofundou empreendimentos como a Quasar Telemedicina, criadora da 1ª solução digital móvel do mundo para o tratamento do diabetes tipo 1. Hoje, dedica-se a saúde digital no Saber para Cuidar e aos projetos de impacto da Casa Séfora, centro de economia compartilhada cocriado por ele Natal/RN. É business developer, mentor e/ou parceiro para startups e novos empreendimentos em prol do desenvolvimento do ecossistema de impacto no RN e no NE.