Opinião

Sobre confiar nos processos e dar passos na incerteza

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Por Raiana Lira

Quando eu tinha 17 anos e comecei a faculdade de Biologia eu tinha muitas certezas sobre o futuro. Tracei uma linha reta que dizia: pós-graduação em Oceanografia e concurso público para professora universitária. Eu queria proteger aquele elemento da natureza que eu tanto amava, queria a liberdade de navegar e queria compartilhar meus conhecimentos com adultos, pessoas com quem eu pudesse ter diálogos profundos.

Hoje, quase 20 anos depois, eu trabalho autônoma com design de futuros, inovação e design de comunidades e, moro no interior de São Paulo. Não poderia estar mais distante dessa certeza. Os caminhos mudaram muito, segui por muitas vezes até o hoje o impulso de experimentar, aprender e vivenciar outras possibilidades. Comecei trocando a oceanografia por Ciência do solo e Etnoecologia (a interface entre pessoas e ambiente) como área de conhecimento que segui explorando até minha transição final da academia. Depois, motivada por anos de trabalho voluntário, decidi explorar novas Economias e acabei desaguando — muitos caminhos depois — no Ecossistema de Impacto Social. E hoje mergulho total no design de Experiências e Futuros.

Olhando para essas buscas e interesses que resultaram em transições profissionais, as vezes me senti perdida, infiel a minha versão adolescente e preocupada com todos os alertas de seguridade que recebi ao longo da minha vida como pessoa oriunda de situação econômica vulnerável. Ainda é um processo desafiador de confiar, sinto medo mesmo.

Parafraseando Simone de Beauvoir, a gente se torna quem somos à medida que percorremos o caminho que se apresenta e criamos as oportunidades.

Porém se eu não olhar para objetividade do “o que eu vou fazer” e for para subjetividade do “por que/ para quem eu vou fazer”, eu me vejo muito realizada. O que eu faço “ajuda” de maneira muito mais eficiente a proteger os mares (e outras instâncias da natureza) e a criar melhores futuros pra pessoas em vulnerabilidade. A “liberdade de navegar” eu encontrei ao navegar nos mares da vida, nas mudanças e nos interesses. Entendi que sou uma pessoa de múltiplos potenciais e interesses e isso é muito favorável (e diferencial) nos trabalhos que venho desenvolvendo nos últimos 4 anos. E estou aqui “compartilhando meus conhecimentos com adultos”, não mais professando algo, mas facilitando processos de aprendizagem e oferecendo consultorias e mentorias para materialização de ideias e projetos.

Confiando nos meus interesses e dando passos nas incertezas, estudando, formando rede e criando caminhos eu percebo que foram essas trocas e curiosidade contínua, que de uma maneira ou de outra me trouxeram até aqui nesse 2023. Parafraseando Simone de Beauvoir, a gente se torna quem somos à medida que percorremos o caminho que se apresenta e criamos as oportunidades.

Ninguém nasce pessoa, torna-se pessoa

A gente não pode perder de vista (ou de sentido) o que nos motiva… por que as subjetividade que nos move, se ouvida vai, invariavelmente dar um jeito de se manifestar. Sair da lógica fabril de um acúmulo de experiências numa esteira em linha reta — que é nosso modelo educacional “moderno” é revolucionário. E pessoas livres e felizes, vão querer isso para todas as pessoas.

Ando reflorestando meu imaginário como sugere Ailton Krenak. E ando ajudando gente a reflorestar imaginário e plantar ideias. Se precisar de auxílio para criar e confiar nos teus processos, me chama. Podemos percorrer caminhos juntes.

Raiana Lira. Mulher preta e nordestina. Consultora de negócios para gestão centrada na pessoa e impacto social positivo. Educadora e facilitadora de processos para que pessoas possam resolver problemas de maneira inovadora, através do desenvolvimento de habilidades e descobrimento de suas potências. Cientista e professora universitária por 12 anos. Desde 2015 no campo do empreendedorismo com propósito para construir um mundo com mais justiça social e ambiental. Nas horas vagas poeta e aprendiz de várias artes. Acredito na potência do sonho e da vontade de transformar!