Opinião

5 temas de destaque dos painéis do Conexão ODS

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Nos dias 19, 20 e 21 de outubro, o evento Conexão ODS reuniu, em Fortaleza (CE), lideranças empresariais para debater ações e meios para alcançar as metas do desenvolvimento sustentável. Confira 5 temas abordados ao longo do evento que são fundamentais para empresas que querem seguir com propósito e planejamento de investimentos socioambientais responsáveis.

O evento foi aberto por uma fala de Raj Sisodia, um dos criadores do movimento Capitalismo Consciente. O professor defende que devemos rever a forma como nossa economia gera lucro. Em suas palavras, “as empresas precisam produzir soluções lucrativas para os nossos problemas sociais e ambientais”.

E, com base no movimento defendido por Raj, devemos ter empresas norteadas por 4 princípios básicos: propósito, orientação para stakeholders, liderança e cultura conscientes. Estes princípios ajudam as empresas a ganharem a confiança do mercado, e se tornarem negócios saudáveis, de longo prazo e resilientes.

Seguindo essa linha de pensamento, o Conexão ODS conectou negócios da região Nordeste com iniciativas nacionais por meio de diversos painéis temáticos e apresentações de cases. Foram três dias compartilhando aprendizados, experiências e anúncios de novos investimentos locais.

Neste artigo, vou destacar os 5 temas que mais chamaram minha atenção e que vejo como eixos fundamentais para empresas que querem seguir com propósito e planejamento de investimentos socioambientais responsáveis (espero que todas).

Segurança Psicológica

A segurança psicológica corresponde à construção de um ambiente de trabalho colaborativo e receptivo, que estimule as pessoas a serem elas mesmas. Isso promove o compartilhamento de ideias, dúvidas e perspectivas, sem que haja medo de sofrer alguma forma de exposição ou julgamento.

Renata Hilário (Pacto Global), Adriana do Carmo (Flow) e Aline Soares (Grupo Soma) protagonizaram o painel com o tema de saúde mental e foram muito diretas em afirmar que um ambiente de trabalho que preza pelo bem-estar é bom para os negócios.

E como gerar esse tipo de ambiente? As painelistas compartilharam algumas direções: investir em líderes que ofereçam escuta ativa genuína para seus liderados; promover rodas de conversa entre os colaboradores para fortalecer vínculos; e criar ferramentas para medir a segurança psicológica a fim de entender como os colaboradores se sentem e ajudar a criar planos de ação.

Ética e Integridade

A mensagem principal do painel com Tayná Leite (Pacto Global), Roberto Medeiros (Neoenergia), Juliana Ferraz (Schneider Eletric) e Carolina Pecorari (Ultragaz), pode ser resumida em: “não existe sustentabilidade sem ética”.

As estratégias de sustentabilidade – dos investimentos nas áreas social e ambiental – não conseguem se sustentar se os processos não estiverem claros e transparentes.

Da mesma forma, a tomada de decisão empresarial deve olhar para os resultados comerciais, mas sem descartar a ética e integridade.

A integridade corporativa mitiga riscos legais e de reputação e imagem, além de aumentar a atratividade para investidores, fortalecer a competitividade e construir confiança duradoura com as partes interessadas.

Carolina Pecorari trouxe para o debate a necessidade de as empresas criarem métricas e indicadores, como forma de avaliar a conduta ética e as práticas sustentáveis da empresa.

Justiça Climática

O painel de Justiça Climática trouxe vários temas importantes, já que essa é uma questão que atravessa direitos humanos, gênero, raça, desigualdade social e desenvolvimento econômico.

Denise Hills (SDG Pioneer Global), Moara Morasche (Eletrobras), Cacika Irê (Secretaria de Povos Indígenas do Ceará) e Flávia Bellaguarda (LACLIMA), usaram o espaço para discutir os diferentes pontos de vista e verdades que coexistem nesse tema.

Para empresas e organizações que pretendem investir esforços nessa pauta, é preciso compreender que a crise climática passa por questões de gênero, raça e território. E que ela acentua as desigualdades sociais, pois implica em migrações provocadas pela desertificação; empobrecimento de populações que dependem de atividades de agricultura ou pesca; e deslocamentos provocados por enchentes e deslizamentos.

Os impactos da crise climática vão além da mudança de regime de chuvas e aumento da sensação de calor, que nós, das classes sociais privilegiadas sentimos. A saída e solução é o combate às desigualdades, investimentos em políticas públicas de ordenamento territorial, regularização fundiária, construção de moradias dignas e prevenção de desastres ambientais que priorizem comunidades mais vulneráveis.

Transição energética

O Nordeste lidera o mercado de energia limpa no Brasil – eólica e solar -, sendo responsável por 82,3% da produção nacional desse mercado.

Existe um desafio de descarbonização e de mudança da matriz energética. Por isso, os bancos de desenvolvimento, como o Banco do Nordeste e o BNDES, estão de olho nos meios de investir nos parques industriais de energia limpa regional e, ao mesmo tempo, levar desenvolvimento socioeconômico.

Liane Freire (Blend Group) trouxe para o painel a perspectiva do que esperar da ação e das exigências dos bancos de desenvolvimento. Segundo ela, os financiamentos serão feitos buscando a qualificação da mão de obra local, com foco na equidade e na participação da sociedade local nos ganhos desses investimentos. O Nordeste não deve ser apenas um ator de produção e exportação energética; ele precisa ter estratégias para fomentar o surgimento de novos empreendimentos e incentivar a industrialização da região.

Vale destacar a fala de Ricardo Cavalcante (Federação das Indústrias do Estado do Ceará – FIEC) sobre os investimentos do estado na produção de hidrogênio verde, considerado o combustível do futuro. O Ceará pretende – e tem potencial – para ser um dos principais players desse mercado em nível internacional.

Blended Finance

O investimento em impacto ainda é pequeno perto das mudanças de que o mundo precisa. No atual ritmo desses investimentos, a previsão é  de que somente em 2085 se alcancem os objetivos da Agenda 2030.

Existem US$ 270 trilhões de ativos sob a gestão do setor privado, e, caso 1,3% fosse investido nos ODS ao ano, conseguiríamos fechar a conta. Então, podemos concluir que não falta dinheiro. O que falta fazer é a correta alocação do recurso.

E aqui vem a aposta do setor financeiro para gerar impacto: o blended finance – um arranjo financeiro que combina fontes diversas de recursos públicos, privados e filantrópicos. Esse modelo de investimento tem quatro pilares: alavancagem, impacto, risco e retorno.

No Conexão ODS, Ticiana Rolim (Somos Um), Marcos Pedote (Tré Investimento) e  Maurício Coutinho (Yunus Brasil) apresentaram o Programa Zunne, que usa o modelo de blended finance para investir em negócios de impacto do Norte e Nordeste.

Esses são temas que acredito que precisamos ficar de olho para os próximos anos e torná-los discussões a nível regional.

O Conexão ODS aconteceu em Fortaleza – CE, nos dias 19,20 e 21 de outubro, e foi uma iniciativa da Somos Um e Pacto Global Brasil.

Monique Moraes é maranhense e administradora, atua no mercado de impacto social desde 2013. Consultora ESG e Diretora da Su Causa Mi Causa. Tem especialização em Impacto Social (Instituto Amani), MBA em Gestão Empresarial (FGV) e especialização ESG e Stakeholders (FIA). Tem experiência em desenvolvimento de metodologias de impacto social e gestão de projetos. É professora convidada do módulo de Inovação Social e Negócios de Impacto da Pós-graduação de Inovação, Design e Experiência, da Universidade CEUMA