Há quase duas décadas, a Comissão Ilha Ativa trabalha para transformar o litoral piauiense em um território de oportunidades, conhecimento e desenvolvimento sustentável.
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Há lugares no mundo que guardam histórias vivas, onde a relação entre o ser humano e a natureza é tão profunda que um não sobrevive sem o outro. O Delta do Parnaíba, entre Piauí, Maranhão e Ceará, é um desses lugares. Suas águas entrelaçam comunidades que há gerações vivem do que a terra e o mar oferecem, mas que também enfrentam desafios ambientais e sociais que ameaçam sua existência.
Como um chamado coletivo à ação, nasceu a Comissão Ilha Ativa (CIA), uma organização que há quase duas décadas constrói pontes entre conservação ambiental, justiça climática e fortalecimento comunitário. Fundada em 2006 por moradores da Ilha Grande, no Piauí, a CIA surgiu da necessidade urgente de proteger os ecossistemas do Delta e garantir que as populações locais pudessem continuar vivendo com dignidade, sem precisar abrir mão daquilo que sempre foi seu: a terra, o rio, o mar e os saberes tradicionais.
Um movimento que nasce do pertencimento
Diferente de muitas iniciativas que chegam de fora com soluções prontas, a Comissão Ilha Ativa é um movimento que nasce do próprio território. Seus projetos são moldados pelas mãos das pessoas que vivem ali, que conhecem os ciclos da maré, os caminhos das tartarugas marinhas e o equilíbrio delicado entre o manguezal e a pesca.
A CIA reconhece que a transformação passa pelo conhecimento. Por isso, a educação ambiental e a valorização cultural estão no centro de suas ações, fortalecendo comunidades e ampliando a consciência sobre a importância da preservação. Por meio de oficinas, cartilhas e eventos, a ONG sensibiliza moradores para a proteção do meio ambiente e o desenvolvimento sustentável. Iniciativas como o Oceano Meu Mundo incentivam o engajamento direto na conservação dos ecossistemas marinhos e costeiros, enquanto outros projetos resgatam a memória e as histórias das comunidades da APA Delta do Parnaíba, reforçando sua identidade cultural e vínculo com o território.
Dentre as diversas iniciativas, o Verde Vida Mangue se destaca como um exemplo concreto de resistência à degradação ambiental. O projeto promove a recuperação de áreas de manguezal ameaçadas e insere a educação ambiental como ferramenta de transformação na Área de Proteção Ambiental (APA) e Reserva Extrativista (Resex) do Delta do Parnaíba. Para quem vive da pesca, o mangue é mais do que um bioma: é parte essencial da segurança alimentar e econômica da região. Regenerar esses espaços é preservar não apenas o ecossistema, mas também os modos de vida que dele dependem.
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Já o FaunaMar, que teve início em 2013, atua no litoral oeste do Ceará e no estuário dos rios Timonha e Ubatuba, na divisa entre Ceará e Piauí, promovendo ações de conservação das tartarugas marinhas, acompanhando de perto os ciclos de desova e protegendo os ninhos que, sem essa intervenção, poderiam ser destruídos pela ação humana ou por fatores climáticos. Esse projeto envolve não apenas pesquisadores e ambientalistas, mas também pescadores e jovens das comunidades, tornando a conservação uma responsabilidade coletiva.
Mulheres à frente da transformação
O fortalecimento comunitário também passa pelo protagonismo feminino. O projeto AMEAS – Articulação de Mulheres Empoderadas em Atividades Sustentáveis surge exatamente para criar alternativas de geração de renda e autonomia financeira para mulheres da região. Em um contexto onde a economia local depende fortemente da pesca e do extrativismo, garantir que essas mulheres tenham meios de sustento próprios é essencial para quebrar ciclos de desigualdade e fortalecer redes de apoio.
O AMEAS não apenas promove espaços de comercialização para os produtos da agricultura familiar e do extrativismo, mas também impulsiona ações de educação ambiental e empoderamento social. É a partir dessa articulação que se constroem novas possibilidades de futuro, onde desenvolvimento e conservação caminham juntos.
O trabalho da CIA mostra que desenvolvimento e conservação não precisam estar em lados opostos. Pelo contrário, quando a própria comunidade está no centro das soluções, é possível fortalecer o território sem abrir mão da sua identidade. Cuidar do Delta é cuidar das pessoas que vivem nele, é garantir que tradições, histórias e modos de vida sigam existindo, apesar das ameaças.
Para saber mais sobre a Comissão Ilha Ativa e descobrir como contribuir para suas ações, visite o site oficial: https://www.comissaoilhaativa.org.br/.
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Hidelgann Araújo é um estrategista de comunicação e mobilizador do terceiro setor, premiado pelo Anthem Awards e com o selo de Direitos Humanos da Prefeitura de São Paulo. Sua paixão pela criatividade e articulação de comunidades e histórias se traduz em uma trajetória que reflete a comunicação como uma ferramenta para gerar impacto social. Já colaborou com Canal Futura, Co.liga, Greenpeace, Politize!, SOMA+ e UNICEF, fortalecendo a sinergia do coletivo e valorizando a pluralidade como base para a inovação.
Hidelgann faz parte da Rede Impacta Nordeste.