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SOLOS: Conheça a startup baiana que transforma resíduos em riqueza na busca por um mundo sustentável

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Em março deste ano, lançamos a 1° Chamada Impacta Nordeste de Negócios Socioambientais, que teve como objetivo selecionar e premiar negócios com soluções inovadoras que gerem impacto socioambiental positivo na região Nordeste.

Além da premiação, a iniciativa realizada pela plataforma Impacta Nordeste com apoio do Instituto Sabin e Sebrae RN, parceria da NEsT e In3citi, e busca e seleção da Pipe.Social, também mapeou os negócios de impacto na região para oferecer suporte a uma nova geração de empreendedores, startups e negócios voltados ao desenvolvimento da região Nordeste. Ao todo, foram mapeadas 146 soluções.

Em mais uma série especial do portal Impacta Nordeste, vamos conhecer as empresas finalistas da Chamada e mostrar a capacidade empreendedora e de inovação desse setor que cresce cada vez mais na região.

Para começar, conheça a SOLOS, startup baiana que desenvolve soluções inteligentes para a gestão de resíduos, redução do consumo e desperdício.

Um novo olhar sobre a sustentabilidade 

A jornada das amigas e sócias Saville Alves e Gabriela Tiemy começou em 2016, época definida por Saville como “um intenso momento de transição de estilo de vida”. Entre essas mudanças, estava o olhar mais atento sobre questões ambientais.

“Nosso olhar estava mais aguçado para encarar a ética ambiental como uma prioridade e vimos que havia uma oportunidade de realizarmos algo em harmonia com o que estávamos vivendo e desejando perpetuar”, relembra.

Na época, Saville atuava como consultora de gestão de resíduos para empresas, enquanto Gabriela estava envolvida com permacultura, sistema que consiste na criação, implementação e manutenção de ecossistemas produtivos de modo sustentável.

Durante suas pesquisas sobre o tema, Saville e Gabriela descobriram que países como Alemanha e Dinamarca dispunham de soluções sustentáveis para a geração de resíduos orgânicos. A partir dessa reflexão e de suas experiências profissionais, as amigas desenvolveram aquele que seria o “embrião” da SOLOS, e submeteram o projeto no edital Triggers, programa de pré-aceleração para iniciativas com foco em educação e negócios de impacto social.

Cerca de 500 iniciativas se inscreveram no edital. Na etapa final, cinco foram selecionadas, entre elas, a SOLOS, única startup do Norte/Nordeste.

A oportunidade fez com que Saville e Gabriela se mudassem de Salvador, cidade natal de ambas, para São Paulo, onde ficaram por oito meses. Nesse período, a dupla recebeu treinamentos e mentorias com diretores e ex-presidentes de empresas como Google, Visa e Johnson & Johnson, o que ajudou a definirem os valores e o propósito da empresa. Com o conhecimento adquirido, era chegada a hora de formalizar a abertura da SOLOS.

Desbravando a SOLOS 

A SOLOS tem como missão desenvolver ações que possam despertar a consciência nas empresas e indústrias sobre sustentabilidade, como foco no descarte correto de resíduos orgânicos e reciclagem.

A empresa opera no modo B2B com modelo de negócio de venda direta e patrocínio para logística reversa de embalagens. Também oferece serviços de consultoria e implementação dos resíduos orgânicos para empresas após a compostagem, técnica de reciclagem natural onde microorganismos (fungos e bactérias) transformam o material orgânico em adubo. 

Projeto ecopedagógico de compostagem das sobras da merenda escolar. O projeto piloto foi implementado em 2018, na escola Municipal Fernando Presídio, no bairro de Paripe, Subúrbio Ferroviário de Salvador. (Foto: Divulgação).

Essa técnica pode levar de 90 a 120 dias para ser concluída, porém, dependendo da quantidade de resíduos gerados pela empresa, a SOLOS dispõe de um equipamento que funciona à base de aquecimento e rotação para otimizar o processo. 

O serviço tem como alvo empresas do setor de varejo, como shoppings e supermercados, indústrias, eventos, condomínios e escolas que buscam ações efetivas para ajudá-los a se tornarem empresas ambientalmente sustentáveis.

Em quatro anos de atividade, a SOLOS contabiliza a produção de 315 toneladas de resíduos reciclados e compostados e mais de 20 projetos e ações desenvolvidas em parceria com cooperativas e ONGs de Salvador.

Um solo cada vez mais fértil 

O Nordeste é a segunda região do Brasil que mais gera lixo no país; a “campeã” é a região Sudeste. Em contrapartida, o acesso à coleta convencional por aqui ainda é bem menor comparado ao Sudeste, logo, o desafio de trabalhar com um novo modelo de descarte de lixo torna-se ainda maior. 

De acordo com Saville, o maior desafio da startup está na falta de políticas públicas relacionada ao tema, de forma que ajude a empresa a definir as regras para uma melhor gestão de resíduos. 

“Quando analisamos a conduta das empresas estrangeiras aqui no Brasil em relação ao descarte de resíduos, muitos acabam replicando em suas operações as práticas adotadas em países que possuem políticas efetivas sobre o tema. Essas práticas podem ajudar na diminuição de custos de produção da empresa e até mesmo no aumento de receita. Mas, ainda assim, sem a legislação forte e local, a adesão é mais lenta e também mais segmentada. Atualmente, a legislação brasileira recomenda que as empresas e indústrias assinem uma espécie de acordo setorial com compromissos de aumento da reciclabilidade de suas embalagens e das taxas de reciclagem. No entanto o impacto ainda é pequeno se comparado ao potencial total.”, analisa.

Uma das estratégias utilizadas pela empresa para fomentar o discurso sustentável na região está nas parcerias com o setor público de Salvador. A Empresa de Limpeza Urbana de Salvador (LIMPURB), a Secretaria de Sustentabilidade, Inovação e Resiliência e Secretaria do Meio Ambiente de Salvador e o Ministério Público são alguns exemplos. Em alguns casos, as ações realizadas entre a SOLOS e as instituições citadas podem, inclusive, se estender para as soluções contratadas pelos clientes atendidos.

A SOLOS também possui ações colaborativas com o Plano Municipal de Adaptação e Mitigação da Mudança Climática de Salvador, além de integrar a Câmara de Inovação para a Sustentabilidade e está à frente de algumas iniciativas voltadas para a sociedade civil, como o coletivo CooReciclo, que tem como objetivo promover e executar ações de impacto socioambiental a partir da coleta seletiva e reciclagem.

Outro projeto interessante é o Folia Que Vira, operação de reciclagem realizada durante o carnaval de Salvador deste ano. Apesar do curto período de execução, o projeto levou cerca de dois meses de planejamento até chegar no resultado expressivo obtido pela empresa: ao todo, foram coletados 162 toneladas de embalagens, o dobro de volume de resíduos destinados a reciclagem entre 2019 e 2020.  Segundo ela, o sucesso do projeto só foi possível graças ao trabalho já consolidado entre a SOLOS e as cooperativas de reciclagem participantes da ação. 

No SOMA Vantagens, maior programa de reciclagem de salvador, o usuário pode acumular pontos a cada resíduo reciclado por ele, podendo ser trocados por produtos (foto: divulgação)

A SOLOS também conta com o SOMA Vantagens, programa de benefícios onde o usuário pode acumular pontos a cada resíduo reciclado por ele, podendo ser trocados por produtos de higiene pessoal, alimentos, cursos e exames nos estabelecimentos autorizados em Salvador, e o Sementinha, que transforma restos de merenda escolar em adubo através da compostagem.

Para Saville, a colaboração entre setor privado, público, cooperativas e sociedade civil é a base fundamental para realizar todos os grandes projetos desenvolvidos pela empresa. 

“Nossos clientes também são grandes incentivadores de nossos trabalho. Às vezes, construímos um projeto já pensando em um deles em específico, porque vemos a aderência nos objetivos, no timing da ação ou até mesmo no tipo de impacto. A Ambev, BASF e Braskem são alguns exemplos de clientes que atendemos que possuem uma ampla oferta de soluções e poder de investimento. Ficamos muito empolgadas em saber que também estamos ‘co-criando’ e, de alguma forma, interferindo em suas decisões.”

Próximos passos 

Devido à pandemia do coronavírus, a SOLOS suspendeu alguns projetos e outras operações com cooperativas parceiras da empresa. Segundo Saville, a energia aplicada nos negócios foram redirecionadas para ações de apoio de enfrentamento ao coronavírus nas regiões mais afetadas.

Mas 2020 também trouxe boas surpresas para Gabriela e Saville. A dupla foi uma das finalistas da 1° Chamada Impacta Nordeste e conquistaram a participação de rodada de speed dating com investidores. O que começou de forma despretensiosa, acabou mostrando um mundo de novas possibilidades de investimentos para o negócio. “Essa iniciativa do Impacta Nordeste demonstra a urgência e importância de dar apoio aos pequenos negócios de impacto, e que podem, inclusive, trazer alternativas para lidar com a recuperação econômica pós-pandemia de maneira inclusiva e mais equilibrada.”

Para Saville, é importante que os negócios de impacto do Nordeste pensem além do ambiente empresarial e desenvolvam soluções criativas que valorizem setores já consolidados na região, como o turismo e a produção de energia limpa. Este é o caminho ideal, segundo as sócias, tanto para atrair a atenção do setor público e tornar o assunto prioritário, como também para o setor privado e fundos de investimento.

“Na SOLOS, a gente valoriza muito o conhecimento, tanto o saber popular como o científico. Gramsci, que é um pensador político do século XX, traz o conceito da participação popular na construção de ideias e da cultura nas sociedades para que assim seja possível realizar uma transição de sistema. Ter um negócio social é colaborar para que essa transição seja possível e aconteça de maneira mais rápida. Portanto, através da colaboração e da participação popular, é possível transitar para uma sociedade mais justa e equilibrada.”, finaliza.