O estudo aponta que a situação da população mais pobre que vive no interior se agravou com a pandemia e que a promoção da inclusão produtiva precisa ser aprimorada ao atual contexto.
O desemprego é um grande problema que ainda assola o Brasil e que se agravou bastante com a pandemia da Covid-19 chegando ao patamar de 14,7%, o maior número desde o início da série histórica, em 2012, realizada pelo instituto. De acordo com o mais recente levantamento do IBGE, o número de desocupados no país diminuiu. Os dados do último trimestre, encerrado em janeiro (novembro, dezembro e janeiro) de 2022, mostram que a taxa de desemprego caiu para 11,1%, somando cerca de 12 milhões de pessoas.
O Nordeste é a região com a maior taxa de desocupados do país, com 14,7%. Se há falta de emprego e oportunidade para quem vive nas grandes cidades, a realidade de quem vive nas pequenas cidades e nas áreas rurais do país não é diferente.
![](https://pbs.twimg.com/media/FKq5ZgwXoAE2qnw.png)
O primeiro Relatório Anual sobre Inclusão Produtiva no Brasil Rural e Interiorano, iniciativa realizada pelo Cebrap Sustentabilidade, em parceria com as Fundações Arymax, Fundação Tide Setubal e com o Instituto Humanize, afirma que houve um agravamento da situação de vulnerabilidade de muitas famílias rurais. As restrições à circulação de pessoas, bens e serviços em função das medidas de isolamento e distanciamento social afetaram muitas destas famílias, sobretudo as mais pobres.
O objetivo do estudo é oferecer a pesquisadores, lideranças de organizações da sociedade civil e do setor empresarial e a gestores públicos, a cada ano, um conjunto de evidências e reflexões que possam melhorar a qualidade das iniciativas voltadas à inclusão econômica de pessoas e regiões vulneráveis do Brasil rural e interiorano.
De acordo com a iniciativa, promover a inclusão produtiva das pessoas e famílias vulneráveis exige uma renovação das políticas e programas e também das experiências produzidas por organizações da sociedade civil, de forma a ir mais longe do que se conseguiu alcançar no passado, e ao mesmo tempo fazer frente aos desafios postos pelo novo contexto.
Esse tratamento inovador exige uma visão sistêmica e multidimensional sobre a inclusão produtiva baseada em: melhor conexão entre as agendas social, ambiental e produtiva; melhoria das condições e capacidades das pessoas e famílias vulneráveis; incremento de oportunidades e melhoria do ambiente econômico no qual elas estão inseridas; coordenação de ações entre Estado, organizações sociais e setor privado; e adaptação e flexibilidade das iniciativas a modos de vida e formas de valorização da diversidade biológica e cultural das regiões rurais brasileiras.
O relatório afirma que há tempos a literatura tem chamado a atenção para o fato de que a inclusão produtiva não depende somente de fortalecimento de capacidades econômicas, associadas à produção ou qualificação da força de trabalho. Muitas vezes essas capacidades são restringidas pela simples ausência de condições básicas de saúde, infraestrutura e alimentação. A dificuldade de inclusão produtiva é uma das faces da pobreza.
Foram apresentados cinco critérios que formam a visão sistêmica e multidimensional sobre os desafios da inclusão produtiva rural no século XXI, são eles: a relação entre os temas produtivos e as privações básicas dos indivíduos e das famílias em condição de pobreza; as várias faces dos bloqueios produtivos; para além da dimensão individual, a importância do entorno e das oportunidades econômicas; para além das políticas públicas e do mercado – a necessidade de iniciativas multiatores; e transições sustentáveis e valorização de modos de vida locais.
Outro dado do relatório é sobre o acesso à internet, que ainda é uma realidade distante para os estabelecimentos familiares do país. O Censo Agropecuário passou a medir o acesso à internet a partir de sua edição de 2017 e constatou que mais de 70% das residências não tinham acesso a esse serviço cada vez mais importante para a vida social e econômica das famílias. As restrições são especialmente significativas nas regiões Norte (85%) e Nordeste (80%).
Novas oportunidades
Há uma aceleração de certas tendências que já estavam em curso, e que irão impactar agora ainda mais, e de forma mais rápida, as condições de inclusão produtiva das famílias rurais. Pode-se mencionar a maior seletividade adotada por empresas, entre os produtores de certas cadeias de produtos agroalimentares, para diminuir riscos de fornecimento, ou a substituição de trabalho humano por trabalho artificial em agroindústrias ou nas etapas de plantio, colheita e beneficiamento.
Outra tendência que ganha força é a introdução de novas tecnologias, também orientadas a contornar as restrições impostas pelo contexto da pandemia e que impediram os deslocamentos e contatos entre pessoas e grupos. Inclui-se aí a disseminação do uso de aplicativos e mídias eletrônicas para funções como venda direta do produtor ao consumidor, orientações e assistência aos produtores, entre outros aspectos.
Diversos fatores fazem da bioeconomia um tema estratégico para a inclusão produtiva no mundo rural atualmente: o contexto das mudanças climáticas e a exigência por novas formas de uso dos recursos naturais; a ascensão de novos hábitos de consumo que valorizam biodiversidade e alimentação saudável; o potencial do Brasil como campeão de biodiversidade; e a concentração da vulnerabilidade em áreas hot spot de biodiversidade.
O termo bioeconomia é amplo e não possui uma definição única. Mas de maneira geral, ela é definida como um tipo de economia em que as bases da produção, materiais e de energia, derivam de recursos biológicos renováveis. A bioeconomia, portanto, exige um conhecimento profundo sobre as dinâmicas biológicas e, para ser desenvolvida, depende do uso intensivo de novos conhecimentos científicos e tecnológicos a partir de diferentes áreas do conhecimento, desde pesquisas realizadas no campo da biotecnologia, da bioinformática até a engenharia genética (IPEA, 2017).
A digitalização e a bioeconomia ganharam muito espaço no contexto atual e podem ser muito promissores para agricultores e famílias vulneráveis, desde que em torno deles se constituam arranjos inclusivos e sustentáveis apoiados nessa visão sistêmica e multidimensional dos desafios da inclusão produtiva.
Baixe o relatório completo no site da Fundação Arymax.