Opinião

A contribuição do Nordeste na mitigação dos riscos climáticos

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A resiliência, coragem e capacidade de superação do povo nordestino pode ser a chave para enfrentar a urgência dos desafios globais.

Entre os dias 15 e 19 de janeiro, o Fórum Econômico Mundial, realizado na cidade de Davos, na Suíça, reuniu lideranças políticas, empresariais, sociais, além de investidores e a imprensa mundial para acompanhar atentamente os grandes anúncios, discussões e compromissos estabelecidos pelos países diante de grandes interesses globais.

Um dos anúncios mais esperados foi a publicação do Relatório de Riscos Globais (Global Risks Report) que apresenta de maneira consolidada os principais resultados da Pesquisa de Percepção de Riscos Globais (GRPS), que conta com a contribuição de 1.500 especialistas globais, e se tornou uma ferramenta útil para tomadores de decisão em todo o mundo.

O primeiro ranking (2 anos) considera os riscos das crises atuais, ou seja, problemas que já estamos enfrentando em diferentes áreas e que se acentuaram em um curto prazo. O segundo ranking considera os riscos mais graves no longo prazo (10 anos), envolvendo aspectos sociais, ambientais, econômicos, geopolíticos e tecnológicos.

O relatório destaca a preocupação dos entrevistados com os impactos gerados pelas mudanças climáticas e os prejuízos que o planeta e a sociedade poderão enfrentar em áreas-chave como: eventos climáticos extremos, alterações críticas nos sistemas terrestres, perda da biodiversidade e colapso dos ecossistemas, escassez de recursos naturais e poluição. As consequências desses eventos podem ser ainda piores em países mais vulneráveis aos impactos das mudanças climáticas, como o Brasil e outros países na América Latina.

O Nordeste brasileiro conhece bem os impactos que as mudanças climáticas podem causar. A Bahia teve em 2022 aproximadamente 188 mil pessoas atingidas pelas fortes chuvas em algumas regiões do estado, 92 municípios foram afetados e 69 decretaram situação de emergência. Outro estado duramente afetado é o de Pernambuco, no mês de maio daquele ano houve fortes chuvas na cidade do Recife e toda Região Metropolitana, causando 140 mortes, 122 mil pessoas desalojadas e 68 mil casas danificadas, de acordo com dados do Sistema Integrado de Informações a Desastres (S2iD) do Ministério de Integração e Desenvolvimento Regional.

Foto: Alexandre Aroeira (Folha de Pernambuco)

Entretanto, o Nordeste não é conhecido apenas pelos impactos dos desastres climáticos, episódios assim só evidenciam a resiliência, a coragem e a capacidade de superação do povo nordestino. É nessa região do país que acontece uma verdadeira revolução silenciosa no impacto socioambiental, puxado por diversas lideranças sociais espalhadas do litoral ao sertão, desenvolvendo iniciativas de combate à fome, fortalecimento da agricultura familiar, proteção infantil contra violências, resiliência climática, proteção de áreas ambientais, geração de renda, e tantas outras causas relevantes. O Nordeste é uma potência no Brasil e possui capacidade de liderar na América Latina o desenvolvimento e a implementação de soluções que podem ser escaladas em diferentes contextos na luta global contra os eventos climáticos extremos.

Em Pernambuco, compreendendo a necessidade de um modelo econômico justo, sustentável e regenerativo, o Governo do Estado lançou o Plano Pernambucano de Mudança Econômico-Ecológica, estabelecendo um pacote de ações estratégicas para fomentar uma economia mais justa, regenerativa e equitativa, alinhando o desenvolvimento econômico do estado com a agenda da economia verde, que tem se consolidado cada vez mais no país e ganhando ainda mais força ao redor do mundo. O Per-Meie, sigla do plano, está baseado em três objetivos centrais: reduzir as desigualdades, geração de renda e economia verde e inclusiva, e com isso contribuindo de forma direta em temas de transição energética, indústrias sustentáveis, agricultura familiar, gestão de ativos e serviços ambientais, entre outros.

No Estado do Ceará, o Movimento Jovem de Monitoramento de Políticas Públicas, também conhecido como MJPOP, tem uma atuação histórica na mobilização e capacitação de adolescentes e jovens das periferias de Fortaleza para uma participação cidadã ativa na promoção e defesa dos direitos das juventudes. Uma das contribuições mais importantes do movimento tem sido a formação de jovens líderes que desenvolve programas, campanhas e ações nas escolas e comunidades da periferia estimulando o combate à desinformação e fake news no aspecto da discussão política e social, e engajando os jovens em ações concretas que contribuam por um futuro melhor em seus territórios.

Na Bahia, a Visão Mundial desenvolve o Projeto Nordeste pela Resiliência Climática, que por meio de parceria com atores do poder público e da sociedade civil, atua na redução de riscos e desastres em comunidades e fortalecendo a resiliência comunitária contra os impactos causados pelas mudanças climáticas. Além da Bahia, o projeto também beneficia os estados de Pernambuco e Alagoas. Contribuindo diretamente com o fortalecimento dos territórios mais vulneráveis em um dos elementos mais críticos não apenas para o Nordeste e o Brasil, mas para todo o mundo.

Essas são algumas entre tantas outras boas iniciativas que estão sendo lideradas pelos empreendedores de impacto, lideranças sociais, empresariais e governamentais para mitigação dos riscos climáticos que ameaçam a construção de um futuro economicamente próspero, socialmente justo e sustentável. É urgente a integração do trabalho desenvolvido pelo primeiro, segundo e terceiro setor para que haja uma grande coalizão capaz de fomentar políticas públicas estruturantes, soluções inovadoras, efetivas e transformadoras, com os recursos financeiros necessários para uma atuação proporcional diante dos riscos presentes em nosso território. Quanto mais unidos e integrado for o nosso trabalho, mais o Nordeste será protagonista no Brasil, na América Latina e no Mundo.

Kess Jones é empreendedor social com 10 anos de experiência em gestão de programas e projetos nas áreas de proteção infantil, educação, segurança alimentar, qualificação profissional, respostas humanitárias e afins. Possui vasta experiência na mobilização e engajamento de stakeholders públicos e privados na agenda de impacto social. Atua como Gerente de Mobilização Social da Visão Mundial Brasil, é professor, mentor e palestrante corporativo. Possui certificação internacional Project D-PRO (Level 1) pela APMG International.