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Respeito a saúde da mulher e ao meio ambiente: conheça a EcoCiclo, o 1° absorvente biodegradável do Brasil

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Foto: Hellen Nzinga, Patricia Zanella, Adriele Menezes e Karla Godoy, fundadoras da EcoCiclo (arquivo pessoal).

Em mais um capítulo da nossa série especial com as empresas vencedoras da Aceleração de Negócios de Economia Criativa da Vale do Dendê, programa que fomenta startups inseridas no contexto de inovação e diversidade, conversamos com Hellen Nzinga uma das fundadoras da EcoCiclo, a 1° empresa fabricante de absorventes biodegradáveis do Brasil. Confira!


Para grande parte das mulheres, a chegada da menstruação é um grande incômodo. Cólicas, enxaquecas, hormônios a flor da pele, inchaço… O desconforto e insegurança causado pela menstruação afeta inclusive a rotina das mulheres, que acabam tendo que modificar seus hábitos nos próximos dias do ciclo e evitam fazer determinadas atividades, como exercícios físicos.

O mercado de higiene íntima feminina tem se esforçado ao máximo para ajudar as mulheres a se sentirem mais confortáveis e seguras nesse período. Os absorventes reutilizáveis e coletores menstruais são alguns exemplos. Embora a procura por esses produtos tenha crescido, muitas mulheres ainda preferem os absorventes descartáveis comuns, já que o preço dos coletores são elevados, restringindo o consumo para as mulheres com menor poder aquisitivo.

Além disso, existe uma parcela de mulheres que desconhecem seu próprio corpo e tem dúvidas ou vergonha de utilizarem tais produtos, e por isso, acabam optando pelo absorvente simples.

Mas toda essa praticidade custa alto ao meio ambiente. Um absorvente descartável leva até 500 anos para decompor na natureza. Levando em consideração que uma mulher pode utilizar de 10 a 15 mil absorventes ao longo da vida, o impacto a longo prazo soa ainda mais assustador.

Então, como criar um produto de higiene íntima que ofereça o conforto necessário para as mulheres no período menstrual, sem riscos ao meio ambiente e a saúde, e que ainda seja acessível?

Esse questionamento surgiu na mente da publicitária baiana Hellen Nzinga durante sua participação em um evento de empreendedorismo social na cidade de São Paulo. A partir de uma experiência pessoal, Hellen teve o insight que precisava para criar o EcoCiclo, o primeiro absorvente biodegradável do Brasil.

“Eu estava na casa da minha mãe na Fazenda Coutos, em Salvador, e fui ao mercado comprar algo para ela. Chegando lá, encontrei uma mulher contando moedas para comprar um pacote de absorventes. Comprei o absorvente para ela, mas fiquei pensando sobre quem iria comprar para ela no próximo mês, se ela tinha acesso às mesmas informações que eu sobre os outros métodos e sobre o mal que aquele produto poderia fazer para e para o planeta.”, relembra Hellen. A ideia foi discutida e aprovada junto com suas colegas de equipe Adriele Menezes, Karla Godoy e Patrícia Zanella, e assim começaram a desenvolver o modelo de negócio.

EcoCiclo

EcoCiclo é um absorvente descartável feito de material biodegradável, vegano e com corte anatômico que se adapta ao corpo feminino. O produto ainda contém óleos essenciais que ajudam no cuidado da flora vaginal.

Absorvente biodegradável da EcoCiclo (foto: arquivo pessoal)

Segundo Hellen, a empresa não é considerada um negócio sustentável somente por produzir absorventes biodegradáveis, mas sim por sua motivação: acreditar na sustentabilidade como um processo em cadeia. O incentivo à empregabilidade feminina também faz parte da missão da empresa.“Todo o processo de desenvolvimento do negócio foi pensado como ferramenta de impacto. Buscamos causar impacto na vida das mulheres que menstruam de duas formas, na saúde e trabalho. Além de oferecer um absorvente biodegradável e que não prejudica a saúde íntima das mulheres, o nosso objetivo é que a EcoCiclo seja feita por mulheres que vivem em situação de vulnerabilidade, pois é uma forma de se desenvolverem profissionalmente e conquistar novas oportunidades.”, afirma Hellen.

Essa ideia também se aplica no modelo de negócio da EcoCiclo. Atualmente, os produtos são comercializados por meio de revenda na cidade de Salvador, Bahia. “Priorizamos esse modelo porque gera mais conforto na hora de comprar, já que a menstruação ainda é considerada um tabu para muita gente, e de quebra, ajudamos as mulheres a garantir uma renda extra.”

A EcoCiclo tem como público-alvo mulheres que menstruam que buscam praticidade no período menstrual e tem hábitos sustentáveis. No entanto, a empresa já está definindo novas estratégias para alcançar novos perfis de mulheres. “A resposta das nossas clientes tem sido um grande presente, elas são as nossas maiores incentivadoras. Diariamente recebemos depoimentos e pedidos de compras de pessoas que menstruam em todo o país, sempre nos motivando e indicando o produto para que mais pessoas conheçam a nossa história.”

Precisamos falar sobre a menstruação

Se a menstruação é algo natural na vida das mulheres, porque ainda ficamos tão receosos na hora de falar sobre o assunto?  Bom, não é muito difícil entender o porquê.

O ato de sangrar nos remete quase que instantaneamente a algo incômodo e desagradável. Mas isso é apenas a ponta do iceberg do preconceito e dos inúmeros tabus que a menstruação carrega ao longos dos anos. 

(Foto: arquivo pessoal)

O desconforto em falar sobre menstruação começa já na adolescência, fase em que ocorre a 1° menstruação. É um momento cercado de expectativas e dúvidas, muitas vezes não explicadas para estas meninas. Segundo pesquisa feita pela marca de absorventes Sempre Livre, cerca de 54% das mulheres entre 14 e 24 anos não sabiam ou tinham pouca informação sobre menstruação. Ainda de acordo com a pesquisa, 57% das mulheres brasileiras se sentem “sujas” no período menstrual, enquanto mais de 40% alegam se sentir mais inseguras e pouco atraentes.

A EcoCiclo também se preocupa em desconstruir esse discurso, e parte do plano de impacto da empresa está em levar informação sobre o assunto de maneira mais leve e didática para todos os públicos. “Nas nossas redes sociais, produzimos conteúdo relacionado a menstruação e direitos reprodutivos e sexuais para mulheres, homens, jovens e adultos. Autoconhecimento e desconstrução de padrões é o que ajuda a construir um mundo melhor, e para isso, é necessário a participação de todo mundo.”.

E se no dia a dia falar sobre menstruação é cercado de preconceito, imagina então na hora de vender um negócio onde o produto é justamente para higiene íntima feminina durante o ciclo menstrual? “Em algumas sessões de mentorias que participamos, houveram situações em que os mentores e avaliadores não conseguiam simplesmente falar a palavra ‘menstruação’.” relembra.

Ainda vemos poucas mulheres estampando capas de revistas de negócios como exemplos de cases de sucesso.

Em um universo ainda tomado pelo gênero masculino, a jornada de Hellen no campo do empreendedorismo é repleta de desafios. Para ela, o maior desafio está no machismo estrutural, ainda tão presente no campo dos negócios, e dificulta o acesso à investimentos necessários para a empresa. “Uma vez  visitamos uma tornearia mecânica para solicitar um serviço. Fomos tratadas como visita ou parente de algum cliente homem no momento. No fim das contas, as palavras e olhares nos fazem rir porque só nos mostra que os homens ainda tem muito o que aprender. Mas, ao mesmo tempo, é uma pena que ainda vemos poucas mulheres estampando capas de revistas de negócios como exemplos de cases de sucesso”.

Buscar referências de empreendedoras de sucesso é peça fundamental para as mulheres que sonham em ter seu próprio negócio. Uma das referências para as meninas da EcoCiclo é a americana Sarah Breedlove, que ficou milionária após desenvolver produtos de cabelo específicos para mulheres negras.

“Recentemente vimos a minissérie inspirada na vida de Sarah Breedlove, o A Vida e História de Madam C.J Walker. Sarah foi uma mulher a frente do seu tempo e sua trajetória nos ensina diversas lições empreendedoras que podemos aplicar na nossa vida, como confiar mais em nosso instinto, de ver o concorrente não como uma ameaça, mas sim como principal motivador para desenvolver algo melhor. Sarah também nos ensina a sermos questionadores e não aceitar o que já nos é dado, e que sonhos estão aí para serem realizados.”, comenta Helen.

A experiência de participar da aceleradora Vale do Dendê impulsionou ainda mais Hellen e suas sócias a persistir no sonho de ver a EcoCiclo nascer. “Na Vale do Dendê encontramos um espaço de muito respeito e acolhimento. Durante nossa passagem por lá, descobrimos que Salvador é uma cidade criativa e potente e com diversas iniciativas de impacto interessantes. Temos mentores que nos acompanham até hoje”.

O Nordeste e os negócios de impacto

Para Hellen, o Nordeste é a principal referência para os negócios, impacto e criatividade no Brasil. “Na verdade, somos pioneiros. Aqui em Salvador, por exemplo, nossa economia foi estabelecida através do trabalho de mulheres negras donas de negócios criativos. Podemos ver isso no documentário A Cidade das Mulheres.

Hellen se prepara para dar um importante passo na EcoCiclo: a comercialização dos absorventes. Com um maquinário próprio desenvolvido entre as sócias e viabilizado com dinheiro arrecadado em uma campanha de financiamento coletivo, a previsão é começar a fabricação dos produtos o quanto antes.

E para as empreendedoras do Nordeste, Hellen deixa sua mensagem: “Acreditem no seu potencial e pensem no negócio a partir de uma perspectiva universal para poder ampliar suas possibilidades. Felizmente, estamos na região que por essência é motora de grandes ideias. Não tenham medo de colocar em prática, cada um tem um processo diferente. Seja a mulher dos seus sonhos!”.