Opinião

Conceber e implementar a gestão da sustentabilidade nas organizações: Uma jornada necessária

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O agravamento de crises ambientais decorrentes das mudanças do clima, o aprofundamento das desigualdades sociais, a crise de confiança nas instituições e nas lideranças, e a corrosão da democracia são demonstrativos de que embora reúna as condições sociais, econômicas e técnicas para se ter uma condição sustentável, a sociedade contemporânea, em escala planetária, não vem cumprindo os acordos coletivos assumidos em diferentes pactos de governança (sejam eles em âmbito local, ou global) para realização de ações socioambientais com potencial para gerar as impacto socioambiental positivo.

Os avanços técnicos e científicos acumulados ao longo do século XX, que em tese seriam vetores do progresso da humanidade, não foram suficientes para consolidar um modelo de desenvolvimento dinâmico, próspero, justo e ambientalmente equilibrado. Inversamente, a lógica vigente, caracteriza-se pela incontrolabilidade do uso dos recursos naturais, pela mercantilização de todas as dimensões da vida e pela perversidade sistêmica que tem ampliado sobremaneira a nossa capacidade de autodestruição.

Convenções, políticas e leis são dispositivos que em alguma medida limitam, impedem ou protelam o colapso de todo esse sistema, já que a incerteza da garantia dos recursos usufruídos às futuras gerações, em qualidade e quantidade, confere um caráter desafiador, a toda e qualquer atuação nesse campo, pelo fato de os resultados e impactos positivos não se consolidarem no tempo de maneira imediata.

Em face ao exposto, cabe pontuar que o termo sustentabilidade passou a ser um dos mais evocados na contemporaneidade, em diferentes espaços políticos, sociais, organizacionais e em redes interorganizacionais, destacando-se pela diversidade de significados que materializam visões de mundo, interesses e contradições dos atores sociais responsáveis pela sua difusão.

A resolução ou a mitigação das complexas problemáticas passou a exigir da sociedade respostas que integrem de modo sinérgico as dimensões econômica, ambiental, social, política, cultural e tecnológica, para ancorar discursos e práticas dos sujeitos individuais e coletivos dispostos a contribuir com o equilíbrio do planeta.

Em contextos organizacionais, principalmente em ambientes corporativos, os discursos com enfoque em sustentabilidade ganharam força e forma por meio da implantação de áreas, programas ou departamentos (cidadania corporativa, sustentabilidade, responsabilidade social, etc.) ou através da realização de projetos socioambientais, conectados, ou não, a programas mais robustos, reforçados por imperativos como geração de valor compartilhado, diferenciação, ampliação de vantagens competitivas, que visam ampliar e evidenciar o impacto socioambiental positivo da presença das organizações nos territórios, bem como a mitigação de prováveis impactos negativos em suas áreas de influência direta ou indireta.

Nota-se, porém, que na medida em que se a sustentabilidade, principalmente em situações de crises econômica, sociais e sanitárias (como a que estamos a vivenciar), contraditoriamente, e por vezes com maior intensidade, registra-se a acentuação das desigualdades abissais de renda, poder e conhecimento, o crescimento da lista das espécies extintas na flora e na fauna, o aumento da emissão dos gases do efeito estufa na atmosfera, a devastação das florestas, e consequentemente a alteração dos fluxos de vida nos mais diferentes biomas e ecossistemas.

Construir e perpetuar um legado positivo para as presentes e futuras gerações, reflexo de ações socioambientais bem estruturadas, técnica e financeiramente viáveis e realmente necessárias para a sociedade, requer muito mais do que boa vontade por parte das organizações, mas a apropriação de um léxico e um conjunto de técnicas que devem ser integradas no âmbito da gestão de projetos, políticas e programas, e que indicam a necessidade de um novo pensar acerca da Gestão da Sustentabilidade nas Organizações, englobando os seguintes aspectos:

  • Não basta definir políticas, programas, projetos e estruturar áreas/departamentos de sustentabilidade e trata-la como um elemento secundário. Discursos devem refletir práticas concretas! É fundamental que as organizações assumam uma postura autêntica, inovadora, coerente e cada vez mais atenta e comprometida com as agendas e pactos globais além de uma relação sinérgica como as partes interessadas que afetam e/ou são afetadas pela sua atuação.
  • A sustentabilidade não deve ser tratada de maneira episódica (limitada a campanhas publicitárias ou a ações pontuais desconectadas de estratégias mais estruturadas), mas incorporada nas políticas e normas que atendam a objetivos organizacionais, e estejam alinhadas com as reais demandas e necessidades dos públicos impactados.
  • Institucionalizar as práticas e fortalecer mecanismos de governança participativos torna-se elementar para consolidar e perpetuar soluções integradas para a resolução de questões socioambientais complexas, além de criar oportunidades que também reinventem as formas de fazer acontecer.

A superação dos desafios, presentes e futuros, associados à Gestão da Sustentabilidade, demanda a formação de equipes multidisciplinares, compostas por profissionais sérios, qualificados e que somam experiência suficiente para executar de forma correta os recursos disponíveis (respeitando cronogramas e prazos pactuados), mobilizar e engajar a cadeia de valor para a causa, respeitar os pactos de governança e as legislações vigentes para que assim sejam maximizados o impacto social positivo das ações e mitigados os resultados negativos da operação das organizações em diferentes escalas territoriais.

Fabricio Cruz é baiano com muito orgulho! Profissional do Desenvolvimento. Sócio-diretor da Atairu – Gestão e Inovação Social. Mestre em Desenvolvimento e Gestão Social (EAUFBA/PDGS). Especialista em Gestão de Projetos (ESALQ/USP) e em Inovação, Sustentabilidade e Gestão de Organizações da Sociedade Civil e do Terceiro Setor (UNIJORGE).

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