Pesquisa bianual realizada com 137 organizações associadas ao GIFE, aponta que foram investidos R$ 4,8 bilhões em 2022, montante que se equipara ao melhor ano da série histórica, em 2014. Por outro lado, a concentração de recursos na região Sudeste, e disparidade de gênero e raça nos conselhos deliberativos requer atenção do setor.
*Com informações do GIFE
A 11ª edição do Censo GIFE, lançada em São Paulo (SP), no último dia 29 de novembro, traz informações inéditas sobre a filantropia no Brasil a partir das organizações associadas ao GIFE. Um dos principais dados é referente ao valor dos investimentos mobilizados em 2022 e o número de respondentes da pesquisa. Foram R$ 4,8 bilhões investidos em 2022. O montante se equipara ao melhor ano da série histórica, em 2014, quando a quantia alcançada foi de R$ 4,9 bilhões em valores corrigidos pelo IPCA 2022.
Dentre os 167 membros que integravam o grupo no momento da coleta de dados (abril/maio de 2023), 137 (82%) responderam ao Censo GIFE 22-23, tendo destaque as organizações independentes, com maior participação proporcional (85%).
Os recursos investidos no último ano se destacam em relação a 2020, quando os resultados do Censo tiveram forte influência do combate à Covid-19. Dos R$ 6,1 bilhões investidos naquele período, R$ 2,6 bilhões estavam voltados para ações de enfrentamento à pandemia. O volume não recuou aos patamares pré-pandemia, e superou a previsão dos investidores sociais em 20%. “Eu diria que o resultado é positivo, visto que o volume mobilizado não retornou à média de 2015-2019, é acima”, afirma Gustavo Bernardino, gerente de programas do GIFE.
Ainda assim, o principal fator apontado pelo Censo para a queda do montante de 2022 em relação a 2020 são os investimentos das empresas. Em 2020, foram R$ 2,3 bilhões aportados por esse grupo, em 2022 foram R$ 985 milhões. “Esse recuo era esperado, visto que foi o perfil de investidor social que mais tinha condições para canalizar recursos à contenção da pandemia, mas que superado esse cenário, naturalmente regrediria”, acrescenta o gerente de programas.
Para Raoni Biasucci, coordenador de projetos da ponteAponte, existe ainda outro elemento positivo: os dados de projeção de investimento para 2023, que sugerem aumento no volume de recursos, estimados em R$ 5,6 bilhões. “A partir de uma expectativa do ISP também conectado a fatores macroeconômicos de retomada, temos mais elementos para acreditar que o caminho é de progressiva atração de investimentos”.
A antropóloga Jessica Sklair celebra os resultados, mas questiona o que está sendo feito com esse recurso. Ela aponta que um dado relevante do novo Censo é que, embora as organizações de perfil mais executor ainda sejam maioria (55%), as organizações mais financiadoras crescem em número (43%). É a menor diferença entre os dois grupos já registrada pela pesquisa. “É muito importante esse movimento na direção de repasse de recursos. Se a filantropia quer chegar nas suas metas de redução de desigualdades, o grantmaking tem um papel muito importante para que as OSCs tenham autonomia”.
Por outro lado, o Censo segue praticamente estático em alguns aspectos. O Sudeste se mantém como a região em que se concentra a maior atuação dos respondentes do Censo com 76%, enquanto o Norte e Nordeste concentram a menor com 36% e 39% respectivamente.
Confira o resumo dos resultados nessa matéria da Rede Gife e baixe o censo completo clicando aqui.