Opinião

Coerência: atributo essencial na gestão do presente e do novo futuro

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Momentos de grandes incertezas e que atravessam pessoas e organizações com suas múltiplas complexidades, apesar de difíceis, convertem-se em fontes de profundas reflexões, de geração de aprendizados, e encorajam mudanças, sobretudo numa conjuntura que exige cada vez mais posturas e atitudes coerentes em termos cívicos, comunitários e mercadológicos.

Os fatos recentes envolvendo a pandemia de Coronavírus acentuou crises locais (humanitário, político, saúde, econômico, ambiental, educacional, cultural) que interconectadas assumiram um caráter global, demandando aceleradas mudanças de paradigmas de gestão, no desenho e implementação de estratégias intersetorializadas de enfrentamento.

Convivendo e lutando contra o desconhecido, descobrimos durante o isolamento social, que a pandemia não representava o fim da aventura humana na terra, todavia, constatamos que uma revisão profunda da forma como nos relacionamos com as diversas formas de vida do planeta, impõe-se como urgente e necessária.

Por incrível que pareça, nesse período em que tanto se evocou uma relação equilibrada com o planeta, acompanhamos o aumento da desigualdade socioeconômica em nosso país, além de outras contradições: o patrimônio dos 42 bilionários brasileiros aumentou em 34 bilhões; a corrupção sequestrou 1,48 bilhão destinados ao combate ao Covid-19; o desmatamento da floresta amazônica cresceu cerca de 30%, os ataques à ciência e cultura não cessaram, o racismo estrutural continuou a interromper futuros possíveis. Afinal de contas, que “Novo Normal” estamos dispostos a colaborar com a construção?

O ecossistema de negócios de impacto tem muito a contribuir com os demais setores da sociedade nesse momento de travessia, mas o que todas as organizações precisam mesmo é assumir posicionamentos justos e coerentes, por ser esta uma forma de se reconectar com a essência do trabalho, não em virtude de uma estratégia de mercado, mas por uma constatação óbvia: os usuários/consumidores e a sociedade de modo geral, conhecem as suas verdades, reconhecem quando os seus discursos destoam das práticas que efetivamente consolidam no cotidiano.

Cada vez mais conectados, bem informados, usuários/consumidores e sociedade, observam atentamente a dinâmica dos Negócios e das Organizações, e percebem que:

  • nem todos são tão sustentáveis ou geram os impactos positivos como propagam;
  • que apesar de destacarem a importância da inclusão e da diversidade não possuem equipes heterogêneas e não atualizam nas formas de recrutamento e seleção;
  • embora se declarem inovadoras ainda estão presas aos paradigmas arcaicos de gestão;
  • mesmo se reconhecendo como empatas, mas não alinham seus produtos e serviços às reais necessidades dos usuários;
  • apesar de se definirem democráticas, possuem relações excessivamente assimétricas.

Estamos em meio a uma encruzilhada e temos plena consciência de que alguns caminhos nos levarão a lugares já conhecidos. Se a escolha de novos itinerários não ocorrer de forma orgânica, voluntária, ela se dará sob pressão, associada a prejuízos de diferentes ordens de grandeza. Importa salientar que uma gestão baseada na coerência, gera conexão. O oposto resulta em desconfiança, incredulidade, atritos, distanciamento, repulsa.

Coragem não deve faltar aos Gestores, Líderes, Ativistas para assumirem, no presente, a corresponsabilidade pela construção desse novo futuro, que deve ser marcado pela a quebra dos ciclos viciosos mantenedores de privilégios, pela criação ou ativação de redes cooperação, pelo reaprendizado contínuo para o convívio com as diferenças, pelo rompimento com as lógicas dominantes excludentes, pelo respeito e cumprimento das leis, normas e os pactos de governança, e acima de tudo, pela reafirmação de novos acordos pautados na justiça e na solidariedade intergeracional.

Negócios e Organizações serão bem-sucedidas e conquistarão respeito e uma boa reputação no pós-pandemia, se além de possuírem um propósito claro, estejam dispostos a coproduzir soluções para resolver problemas de relevância pública, alinhem sua atuação a causas globais, respeitarem as territorialidades, sejam transparentes, justas e sobretudo assumam uma conduta coerente, ou seja, viver, verdadeiramente, tudo o que frequentemente se anuncia!

Fabricio Cruz é baiano com muito orgulho! Profissional do Desenvolvimento. Sócio-diretor da Atairu – Gestão e Inovação Social. Mestre em Desenvolvimento e Gestão Social (EAUFBA/PDGS). Especialista em Gestão de Projetos (ESALQ/USP) e em Inovação, Sustentabilidade e Gestão de Organizações da Sociedade Civil e do Terceiro Setor (UNIJORGE).