Quando falamos em ‘democratizar’ (ou popularizar) o investimento de impacto, estamos falando de quê?
Por Fabio Deboni
Fala-se muito dessa ideia aqui e acolá, intenção essa com a qual concordamos. Afinal, investimento de impacto é um tema bastante restrito a uma elite, certo?
Beleza, mas quando falamos em ‘democratizar’ (ou popularizar) o investimento de impacto, afinal, estamos falando de quê?
Em primeiro lugar, nos vem na cabeça a necessidade de fazer esse assunto sair da bolha dos convertidos, fazendo com que mais ‘pessoas comuns’ possam pôr a mão no bolso para investir em questões socioambientais visando algum retorno financeiro.
Tá bem, mas a partir daí a coisa começa a ficar mais difusa quando colocamos na mesa, pelo menos, dois blocos de questões:
1) O quanto o tema segue ainda distante de ser popular. Por que o tema ainda segue restrito a uma bolha e a uma elite?
– Por ser um assunto recente? Por ser algo ainda complexo?
– Quem são os convertidos que estão nessa bolha? Do que se alimentam, em que acreditam, como vivem? Por que já investem com impacto?
– Como fazer esse papo ir além desta bolha?
– Afinal, é possível tornar esse conversa mais acessível a ‘pessoas comuns’?
– É o timing certo para que elas se interessem pelo assunto?
2) O ato de investir ($) com impacto, visto que investir (de maneira convencional) ainda segue restrito, no Brasil, a um pequeno grupo de pessoas (físicas e jurídicas). Decorrem daí algumas questões:
– O que significa democratizar o ato de investir com impacto? É possível trazê-lo para mais próximo das chamadas ‘pessoas normais’?
– Quem seriam ‘pessoas normais’?
– Num país que ainda luta para superar diversos problemas sociais (fome, desigualdade, injustiça social, etc), trazer a possibilidade de investimento de impacto para camadas mais populares da sociedade seria um luxo? Ou seria justamente o contrário?
– Como tornar o tema mais popular e acessível sem que seja percebido como sendo um luxo?
Eu sei caro(a) leitor(a), há muitas questões no ar aqui nessa discussão e embora nós, convertidos ao tema, já saibamos que sim, é possível avançar mais para ‘democratizar’ essa agenda, sinto que muitas vezes tem nos faltado mais pés nos chão e menos empolgação nessa discussão.
Pense naquele parente ou conhecido bolsonarista, que anda preocupado com a volta do comunismo: você acha realmente que há espaço para abordar esse tema com essa pessoa?
Pois bem! Se queremos mesmo popularizar e democratizar o assunto, é em personas como esta (e tantas outras) que precisamos convencer. Eu sei, é um baita desafio, não é? Eu mesmo tenho dúvidas se estou, neste momento, disposto a colocar em marcha essa missão.
E para não te chatear mais leitor(a), paro por aqui. Afinal, quando falamos de popularizar e democratizar o investimento de impacto, estamos falamos exatamente de que, com quem e para quem?
E antes de você ou seu conhecido me mandar para Cuba, deixo aqui meus sinceros desejos de um feliz 2024.
Fábio Deboni é Diretor do Programa CAL-PSE, pela Aliança pela Biodiversidade/CIAT e Membro do Conselho do FunBEA (Fundo Brasileiro de Educação Ambiental). É Engenheiro Agrônomo (não praticante) e mestre em recursos florestais pela ESALQ/USP. Foi gerente-executivo do Instituto Sabin de 2011 a 2020 e foi conselheiro do GIFE (Grupo de Institutos, Fundações e Empresas).
Tem participado ativamente do engajamento de institutos e fundações no campo de negócios de impacto . É entusiasta do tema ‘inovação social’, escritor de diversos artigos e está lançando seu quinto livro “Inovação Social em tempos de soluções de mercado”. Publica diariamente textos e artigos em seu blog: https://fabiodeboni.com.br/ e em seu Linkedin: www.linkedin.com/in/fabiodeboni