Impacta+Negócios de impacto

Empreendedorismo feminino no Nordeste: da necessidade ao sonho

6 mins de leitura

O empreendedorismo feminino tem ganhado cada vez mais força no Nordeste, mas empreender ainda é um desafio para grande parte das mulheres, que em sua maioria empreendem por necessidade. Conheça caminhos para ter apoio e aumentar as suas chances de sucesso.

O ato de empreender cresceu vertiginosamente na última década no Brasil. De acordo com a pesquisa Global Entrepreneurship Monitor (GEM) de 2019, o país atingiu 23,3% de taxa de empreendedorismo inicial, considerada a maior marca da série histórica que teve início em 2002. Ao todo, 38,7% da população adulta é composta por empreendedores. Esse indicador foi puxado, em grande parte, pelo empreendedorismo feminino, que em 2019, representava 48,7% do mercado empreendedor brasileiro, com 25,8 milhões de mulheres comandando novos negócios.

Nesse cenário podemos enxergar a versatilidade das empreendedoras brasileiras que vai desde produção de bolos e salgados, costuras e artesanato até startups nas mais diversas áreas de atuação. Além de moverem a economia, gerar empregos, cada um desses empreendimentos significam um mundo com mais representatividade, igualdade de gênero e, em muitos casos, liberdade e autonomia para milhões de mulheres.

Com a pandemia, essa tendência sofreu um revés no ano passado. O relatório Global Entrepreneurship Monitor (GEM) de 2020 mostrou uma queda de 20% no total de empreendedores e 46% no total de empreendedores estabelecidos, que são aqueles a frente de um negócio consolidado, que pagam aos seus proprietários alguma remuneração, sob a forma de salário, pró-labore ou outra forma, por um período superior a 42 meses. Nesse cenário, as mulheres estão entre as que sofreram mais impacto, com uma queda de 62% na taxa dos empreendedores estabelecidos.

Embora o aumento da participação das mulheres no empreendedorismo nos últimos anos deva ser celebrado, muitas vezes as condições que levam uma mulher a empreender não são as ideias. Muitas delas começam a empreender devido ao aumento do desemprego e, especificamente a partir da pandemia, da escassez provocada pela diminuição da renda das famílias. Nesse contexto, o empreendedorismo que cresce é o empreendedorismo por necessidade. Ainda de acordo com a pesquisa GEM, 50,4% dos empreendedores iniciais empreendem por necessidade e 82% declaram ser motivados por “Ganhar a vida porque os empregos são escassos”.

Apesar dos poucos números regionalizados disponíveis, o empreendedorismo feminino no Nordeste se destaca. De acordo com levantamento da Serasa Experian em 2017, as mulheres nordestinas representam 15,9% dos negócios liderados por mulheres no Brasil. Esses dados e o contexto social e econômico do país reforçam a importância de políticas e programas (públicos e/ou privados) voltados ao empreendedorismo feminino, para que cada vez mais mulheres tenham a oportunidade de desenvolver suas carreiras e negócios de forma adequada, inspirando e ajudando outras mulheres. Mas com tantas realidades distintas na hora de empreender, quais são os principais pontos para desenvolver iniciativas realmente efetivas para mulheres empreendedoras?

Empreender é para todas?

Sim! Todas as mulheres que assim desejarem podem empreender. No entanto, isso não quer dizer que todas mulheres devem empreender. Abrir o próprio negócio, de fato, pode ser uma alternativa para trazer independência e autonomia. Mas o ato de empreender não é igual para todas e não pode ser tratado como a salvação para todos os problemas. Cada contexto possui as suas particularidades.

Diferente da narrativa amplamente difundida por algumas pessoas, o sucesso de um empreendimento não depende apenas do esforço individual de cada um, embora o nível de empenho da empreendedora possa sim fazer muita diferença em seu sucesso. Fatores como renda, acesso a qualificação, pessoas, mercados e oportunidades, podem influenciar muito o desenvolvimento de um negócio.

Compreender o seu contexto e os seus objetivos é muito importante para desenvolver uma estratégia realista e efetiva, assim como para evitar danos à autoestima das empreendedoras que começam a sua jornada em contextos de vulnerabilidade, que são a grande maioria. A jornada empreendedora possui muitos altos e baixos. Passar por momentos desafiadores é normal e não se deve duvidar de suas capacidades ou deixar a sua autoestima ser afetada.

Isso também não quer dizer que o sucesso ou fracasso de uma empreendedora seja totalmente dependente de fatores externos. Obviamente, buscar qualificação e constante aprimoramento são fundamentais. Mas ter consciência desses diversos fatores pode fazer toda a diferença para obter sucesso.

Apoio para começar e se desenvolver

Como apontado nas pesquisas da GEN, em contextos de desemprego e crise, as mulheres são as primeiras a recorrerem ao empreendedorismo. Os motivos para isso podem variar, mas passam por uma participação maior de empreendedoras por necessidade, onde parte das mulheres busca o empreendedorismo como um bico em momentos de piora da renda familiar. Algumas abandonam posteriormente a atividade empreendedora quando há uma melhora da renda familiar.

Nesse contexto, é importante buscar apoio para se qualificar com habilidades que sirvam tanto para desenvolver o seu negócio, quanto para desenvolver a sua carreira caso decida voltar para o mercado de trabalho. Há diversas organizações que desenvolvem programas e projetos para apoiar mulheres empreendedoras. Um exemplo de estímulo ao empreendedorismo feminino e qualificação de mulheres é a Rede Mulher Empreendedora. A primeira e maior rede de apoio a empreendedoras do Brasil, nasceu em 2010, durante o “Programa 10 mil Mulheres da FGV”, quando a empreendedora social Ana Fontes teve a ideia de criar um blog sobre os medos, as dúvidas e as dificuldades do empreendedorismo feminino. Desde então, a RME já impactou mais de 750 mil pessoas.

Em 2017, a RME ampliou seus objetivos e surgiu o Instituto Rede Mulher Empreendedora que trabalha focado na capacitação de mulheres em situação de vulnerabilidade. Ambas iniciativas são signatárias dos princípios da ONU Mulheres e têm como principais objetivos fomentar o protagonismo feminino no empreendedorismo, auxiliar quem quer empreender e quem quer se inserir no mercado de trabalho, por meio de fóruns, mentorias, um programa de aceleração, cursos e a conexão entre negócios de mulheres com grandes empresas.

Os programas da IRME já apoiaram milhares de mulheres no Brasil. Um exemplo de empreendedora apoiada é Kalypsa Brito, de Salvador (BA). Ela é coordenadora pedagógica e escreve livros infantis afrocentrados. Com um bom produto em mãos, Kalypsa estava com dificuldades para estruturar a sua empresa e conseguir alavancar as vendas de seus livros. Sua empresa não tinha marca, por exemplo. Com o curso, ela percebeu a importância de construir a sua marca. Após participar das formações do Instituto Rede Mulher Empreendedora, Kalypsa transformou o seu negócio. “A experiência foi transformadora! Tenho aprendido coisas que não conhecia”, afirmou a empreendedora.

Ela se considera “analógica” e o curso também a ajudou a se posicionar no mundo digital. Com conhecimentos práticos, Kalypsa ajustou redes sociais, organizou seu Linktree e abriu um canal de vendas no Whatsapp que já resultou em novos clientes. “Nunca imaginei que poderia ter mentorias tão fantásticas. Estou em êxtase. Tenho trabalhado bastante nesta transição para o digital. Ainda precisam de muitas coisas, mas já tenho encomendas!”, comemora a empreendedora. Ela também formalizou o negócio. Todo esse aprendizado ela compartilha com as demais colegas do grupo.

“Preciso de recursos para começar. Como faço?”

Uma das principais iniciativas da RME é o programa Ela Segura que, em parceria com a Fundación MAPFRE, está executando um programa gratuito de desenvolvimento pessoal e capacitação técnica para mais de 50 mil mulheres em situação de vulnerabilidade social em todo o país.

O Ela Segura visa impactar profissionalmente mulheres que vivam ou tenham passado por situações como desemprego, fome, violência doméstica, entre outras adversidades sociais. O programa apoiará essas mulheres por meio de capacitações pessoais e técnicas – em plataforma de conteúdo digital – que as ajudem a desenvolver atuais ou novos negócios, a se reposicionar no mercado de trabalho ou conquistar outras formas de atividade remunerada. Ou seja, todo o conteúdo vai ajudar mulheres que querem empreender ou desejam se inserir no mercado de trabalho.

O programa também oferecerá dois tipos de apoio financeiro: um auxílio alimentação no valor mensal de R$ 110, durante seis meses, para mais de 2.500 mulheres selecionadas no programa. Também serão selecionados 160 negócios que receberão um aporte financeiro de R$ 3 mil e um acompanhamento técnico para o seu desenvolvimento.

O programa é aberto para mulheres de todos os locais do país, e o Impacta Nordeste está colaborando para levar essa oportunidade para mais mulheres do Nordeste. Podem participar mulheres que tenham mais de 16 anos e tenham intenção de iniciar um negócio ou que estejam buscando uma colocação no mercado de trabalho. As inscrições podem ser feitas no site https://elasegura.com.br/.

Você é ou conhece uma mulher empreendedora ou que queira se qualificar para o mercado de trabalho? Faça sua inscrição e compartilhe essa oportunidade com outras mulheres!