Os impactos da economia do cuidado para mulheres e meninas aprofundam as desigualdades de gênero e econômica.
Por Marcela Fujiy
É impossível falar de empreendedorismo feminino sem considerar o contexto em que nós, mulheres, estamos inseridas na sociedade e o impacto avassalador que sofremos com a economia do cuidado. No coração do conceito de economia do cuidado está a necessidade urgente de analisar e entender esse tipo de trabalho não remunerado, que persiste como uma carga predominantemente feminina em nossa sociedade.
Este árduo labor engloba uma gama de atividades, incluindo o cuidado de crianças, idosos, pessoas doentes ou com deficiência, além da gestão do lar, preparação de refeições, limpeza e outras tarefas domésticas, negligenciando completamente a importância crucial e o impacto econômico dessas atividades, bem como seu papel central na sustentação da vida social e no bem-estar geral.
O trabalho não remunerado de meninas e mulheres relacionado à economia do cuidado representa uma contribuição de pelo menos US$ 10,8 trilhões por ano à economia global, segundo a pesquisa Tempo de Cuidar, da Oxfam (2020). É mais que o triplo do valor da indústria de tecnologia do mundo. Ou seja, se as mulheres pararem, o mundo para. Se nós mulheres fôssemos um país, seríamos o quarto PIB global. Esses dados dão uma dimensão de como os impactos da responsabilidade concentrada do trabalho de cuidado nas mãos de mulheres e meninas aprofundam as desigualdades de gênero e econômica.
Como mudar isso? O empreendedorismo é uma das vias. Apoiar mulheres empreendedoras, por meio do programa Efeito Furacão, da Be.Labs, e reconhecer a vitalidade de suas contribuições para a economia me permitiu imergir profundamente na trajetória única dessas mulheres e observar na prática o peso das desigualdades. Esse mergulho revela a necessidade crucial de apoio para que mulheres possam empreender. É fundamental fornecer suporte não apenas em termos de ferramentas relacionadas ao empreendedorismo, mas principalmente para o fato de serem mulheres no universo empreendedor.
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Todos dos anos, estudamos os impactos do Efeito Furacão na vida das mulheres em uma pesquisa para compreender com profundidade os efeitos que a formação tem em suas vidas e seus empreendimentos, contribuindo ainda mais para o impulsionamento do empreendedorismo feminino, a criação de estratégias empresariais e políticas públicas que incentivem e promovam visibilidade e oportunidades para essas mulheres.
O acompanhamento dos resultados das turmas realizadas até 2024 nos dão uma dimensão do impacto do Efeito Furacão na vida das participantes. Um ponto recorrente é a transformação da mentalidade: a melhora na autoestima impulsiona os negócios, com 85,7% das mulheres se sentindo mais preparadas para a gestão de seus negócios. Outro fator de impacto é o aprimoramento da gestão financeira, o que tem um resultado direto no crescimento dos negócios: após o Efeito Furacão, 21,7% mais mulheres passaram a separar as contas pessoais das empresariais; 50,5% delas observaram um aumento no faturamento mensal. A precificação assertiva também figura entre os principais impactos. A capacitação em marketing conduz a um aumento nas vendas e à atração de clientes, com 95,5% ampliando o uso de canais de venda, com destaque para redes sociais e WhatsApp. O conceito de sororidade ganha espaço, com a valorização das potencialidades do negócio e da própria mulher, bem como o fortalecimento da autoestima, elementos-chave para impulsionar os empreendimentos.
Esses dados evidenciam a importância de promover o acesso à educação e à capacitação especializada para mulheres. As respostas obtidas com a pesquisa serviram de combustível para continuarmos a missão de ampliar o acesso à formação. Essas mulheres estão mais confiantes em seu potencial empreendedor e mais bem preparadas para enfrentar os desafios do mercado e do dia a dia.
Com isso, fortalecemos não apenas as mulheres, mas também famílias inteiras e comunidades, contribuindo para toda uma cadeia produtiva essencial para o futuro dos negócios e das pessoas. A sociedade toda se beneficia e esse é o nosso propósito. Pensar nessa jornada feminina significa capacitar, aumentar o poder econômico e acolher mulheres empreendedoras, para avançarem com seus negócios e realizarem seus sonhos.

Marcela Fujiy é empreendedora, fundadora e CEO da aceleradora de negócios Be.Labs