Impacta Nordeste

Feirinha Verde: O evento que tem impulsionado a economia criativa e sustentável em Teresina

 Criada coletivamente, a feira reúne mais de 400 expositores e se tornou uma vitrine de sustentabilidade, cultura e renda para pequenos negócios locais.

*Foto de capa: Acervo Feirinha Verde (@viniciusnaam)

Na capital do Piauí, uma organização comunitária tem movimentado a economia criativa e impulsionado o mercado local, criando espaço para transformação de pequenos negócios em empreendimentos sustentáveis e de impacto. A Feirinha Verde nasceu como um gesto de coragem e união em plena pandemia, em junho de 2021, quando três empreendedores se reuniram na praça Centenária, no bairro Ininga, com uma proposta simples, mas poderosa: criar um espaço de circulação para produtos feitos à mão, onde o consumo consciente, o afeto e a colaboração fossem os protagonistas. Em poucas semanas, a semente plantada se transformou em um ecossistema dinâmico, conectando 15 feirantes em rede, e desde então, o que era uma iniciativa pontual se consolidou como uma plataforma de impacto social com impacto direto na economia local.

Hoje, a Feirinha Verde é uma das principais vitrines da economia criativa no estado, atuando como um catalisador de transformações. Dando voz e vez para empreendimentos autônomos e negócios criativos de base comunitária, que encontram ali espaço para testagem, visibilidade e crescimento. Com mais de 400 participantes ativos, distribuídos entre agroecologia, design artesanal, cosméticos naturais, jardinagem, brechós e produção literária, a feira ultrapassa o papel de mercado: é um território de lazer, aprendizagem coletiva, afetividade e articulação entre comunidade e agentes do ecossistema criativo e sustentável de Teresina.

Sediada atualmente no Espaço Rosa dos Ventos, na UFPI, e com mais de 90 edições realizadas, a Feirinha se tornou um hub cultural e econômico, onde o fazer manual e a inovação se entrelaçam. A força criativa da cidade, que ainda carece de espaços de visibilidade, ganha ali uma plataforma potente de reconhecimento e renda. A cada edição, a feira tem reafirmado seu compromisso com uma nova economia, inclusiva, circular e ancorada nos saberes locais, fortalecendo a cultura, a sustentabilidade e o protagonismo coletivo como caminho para o futuro.

Fotos: Acervo Feirinha Verde (@viniciusnaam e @hitalo_azevedo)

Um espaço onde o artesanato vira protagonista

A proposta da Feirinha vai muito além de uma feira de produtos. É um espaço de convivência, de fortalecimento de laços e de reconhecimento da cultura local e das identidades criativas piauienses. Os feirantes vendem o que produzem com as próprias mãos, e isso faz toda a diferença.

“Começamos sem nenhuma pretensão, apenas com a vontade de comercializarmos nossos próprios produtos e assim reduzir os custos com atravessadores. Mas com o tempo, vimos que esse movimento era muito maior. […]a Feirinha mudou a vida de muitos expositores e também o olhar do público sobre o valor do artesanal”, conta Irenildes Batista, uma das coordenadoras do projeto.

A curadoria é feita com cuidado. Sempre que há novas vagas, um formulário é disponibilizado no Instagram da feira, onde são avaliados critérios como autoria, processo de produção, impacto e criatividade. Tudo é feito com olhar atento à autenticidade, ao compromisso com a sustentabilidade e ao fortalecimento do fazer manual.

Trampolim para Negócios de Impacto

Além de fortalecer o fazer manual e artesanal, a Feirinha tem se consolidado como um espaço estratégico para o surgimento e fortalecimento de negócios de impacto, alinhados aos princípios da sustentabilidade e do impacto positivo. Atuando como um verdadeiro laboratório vivo de inovação social e econômica, o evento acaba se tornando, de forma orgânica, um ambiente onde empreendedores experimentam produtos, validam ideias e se conectam com um público aberto a novidades e ao consumo consciente.

A trajetória da Ájé Omi, marca piauiense de biocosméticos naturais, é um exemplo desse potencial. Com uma proposta que une saberes ancestrais, ciência e cuidado ambiental, a marca enxergou na Feirinha um ponto de partida importante para testar seus produtos, alcançar novos públicos e consolidar sua atuação como empreendimento de impacto.

Jaqueline Bezerra, fundadora da Ájé Omi, e o Governador do Estado do Piauí, Rafael Fonteles em cerimonia de reconhecimento pela premiação do Expo Favela Piauí 2023. (Foto: Divulgação Ájé Omi)

“A Feirinha Verde foi nosso primeiro laboratório vivo, onde pudemos testar produtos, ouvir as pessoas e crescer como negócio de impacto. Hoje, somos reconhecidos e premiados por programas […] que reforçam nosso compromisso com um futuro mais justo e regenerativo”, compartilha Jaqueline Bezerra, fundadora da marca.

A Ájé Omi também participou da pré-aceleração do programa Impulsio.ne Ecossistemas, uma iniciativa do Imp acta Nordeste para fortalecer negócios com propósito no Piauí e Maranhão, o que contribuiu ainda mais para o amadurecimento do seu modelo de negócio.

Casos como esse mostram como a feira também se tornou uma vitrine para negócios emergentes que unem inovação e propósito.

Transformações reais, histórias vivas

Indo mais a fundo, a feira tem proporcionado histórias de transformação. Muitos empreendedores que começaram com uma pequena barraca hoje vivem exclusivamente dos seus negócios, abriram lojas físicas, ganharam visibilidade em veículos de comunicação e ampliaram sua clientela.

É o caso de Lygia Ferreira, artesã que descobriu a Feirinha em 2021, quando produzia apenas coadores de pano. “Fui visitar a Feirinha e fiquei encantada. Me inscrevi e comecei a expor em março de 2022. Meu leque de produtos cresceu junto com a feira”, relata.

Hoje, ela afirma com orgulho: “A Feirinha Verde é meu principal canal de vendas. Sinto que cresço junto com ela. Tenho clientes fiéis, visibilidade e me sinto valorizada e acolhida. A Feirinha é democrática, incentiva o artesanal de qualidade e nos faz sentir parte de algo maior: uma família”.

Fotos: Acervo Feirinha Verde (@viniciusnaam e @hitalo_azevedo)

Muito além da praça: impacto, cultura e futuro

Cada edição da Feirinha Verde é uma experiência completa, que vai além da compra e venda de produtos. Oficinas, rodas de conversa, música ao vivo e atividades infantis fazem parte da programação, transformando o evento em um grande espaço de convivência, aprendizado e celebração da cultura local.

A organização também se articula com outras redes para ampliar as oportunidades dos feirantes: “Incentivamos os participantes a fazer cursos, especialmente no Sebrae, […] e intermediamos a presença deles em eventos externos, como shoppings, condomínios e ações de empresas privadas e públicas”, destacam. Essa articulação com o entorno amplia o potencial da Feirinha como plataforma de inovação social distribuída, onde o conhecimento circula e os negócios se retroalimentam com apoio mútuo.

Os planos para o futuro são muitos, e empolgantes. Tornar a Feirinha itinerante, levar o projeto para outros bairros e cidades do Piauí, abrir uma loja física e lançar um site para comercialização dos produtos estão entre os sonhos em construção. Tudo isso sem perder a alma do projeto: a coletividade, o cuidado com quem produz e o encantamento com quem consome de forma consciente.

Essa expansão da Feirinha Verde também reflete um movimento global onde cada vez mais, iniciativas locais de base comunitária, com DNA criativo e potencial de impacto social, vêm se consolidando como soluções relevantes para os desafios da nova economia.

Se esse movimento por transformação, impulsionado pela Feirinha Verde, inspirou você, saiba que você também pode ser parte dessa transformação. Clique aqui para conhecer mais sobre o projeto e descobrir como contribuir.

Hidelgann Araújo é um estrategista de comunicação e mobilizador do terceiro setor, premiado pelo Anthem Awards e com o selo de Direitos Humanos da Prefeitura de São Paulo. Sua paixão pela criatividade e articulação de comunidades e histórias se traduz em uma trajetória que reflete a comunicação como uma ferramenta para gerar impacto social. Já colaborou com Canal Futura, Co.liga, Greenpeace, Politize!, SOMA+ e UNICEF, fortalecendo a sinergia do coletivo e valorizando a pluralidade como base para a inovação.

Hidelgann faz parte da Rede Impacta Nordeste.

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