Impacta Nordeste

Fundo Nordeste Solidário capta recursos para investir em empreendimentos comunitários

O Fundo Nordeste Solidário apoia coletivos formais ou informais que atuam na região Nordeste e norte de Minas Gerais por meio de Fundos Rotativos

Você sabe o que significa um Fundo Solidário? Ele funciona como uma poupança coletiva e são duas as formas mais comuns para se iniciar um Fundo Rotativo Solidário (FRS). A primeira pode ser através de uma organização da sociedade civil que capta um recurso não reembolsável (doação, convênio, patrocínio) para financiar uma atividade produtiva ou um projeto comunitário. Os participantes se comprometem em destinar parte do retorno financeiro do projeto para um fundo rotativo local que será reinvestido para multiplicar o benefício para outros participantes. A doação inicial se torna um empréstimo com devolução voluntária. 

A segunda forma de se iniciar um Fundo pode ser através de um grupo de pessoas que se unem para criar um fundo rotativo com suas próprias contribuições, pagando uma pequena taxa mensal. Depois de atingir o valor da meta, os recursos são emprestados para os participantes. A gestão do Fundo Rotativo Solidário é sempre da própria comunidade que documenta as regras e critérios de funcionamento de acordo com um regimento interno. 

Um exemplo de um investimento coletivo é o Fundo Nordeste Solidário (FNES), um projeto da Rede Nordestina de Fundos Solidários para captar novos recursos não reembolsáveis e investi-los nos mais de 300 FRS da Região Nordeste e do norte de Minas Gerais. O FNES nasceu como fruto da política pública de apoio à economia solidária e como resposta ao abandono por parte do Governo Federal, a partir de 2018, das ações de financiamento e incentivo a essas atividades. Os FRS começaram a ganhar força nos anos 1990 quando a Cáritas Brasileira, a Pastoral da Criança e outras organizações da sociedade civil investiram em projetos produtivos comunitários direcionados à população mais vulnerável para combater a fome e a pobreza. 

Como funciona o Fundo Nordeste Solidário

Individualmente, as associações gestoras de FRS são pequenas demais para manter uma equipe dedicada à captação de recursos, portanto se juntaram para contratar uma pequena equipe de profissionais que captem recursos para os FRS da Rede. A captação obtenção de recursos de pessoas físicas acontece através da plataforma digital de doações Click do Bem. As primeiras duas campanhas beneficiaram nove FRS que investiram em empreendimentos produtivos envolvendo mais de 100 agricultoras, agricultores e artesãs.

Interessados podem doar para o Fundo Nordeste Solidário por meio da plataforma click do bem (Foto: Site)

Os empreendedores beneficiados se comprometem a devolver o recurso, em pequenas prestações, para seu FRS local. Dessa forma, a doação inicial para o FNES vai se multiplicando em cada território. Num prazo de cinco anos, o FNES espera chegar à meta de captar R$ 2 milhões e beneficiar 100 FRS por ano. 

Motivos para investir num Fundo Solidário

Com a atual crise econômica que assola o mundo, muitos brasileiros continuam sem acesso aos benefícios do desenvolvimento econômico. Nos municípios do interior do Nordeste, a maioria das famílias sobrevive da agricultura familiar, dos repasses de auxílios do Governo Federal ou de empregos informais. Iniciar seu próprio negócio pode ser uma opção viável para essas pessoas. 

Empreendimento comunitário que recebeu recurso do Fundo Nordeste Solidário (Foto: Divulgação).

O mapeamento dos FRS da região Nordeste revelou que eles são uma fonte muito importante de capital inicial para fomentar o empreendedorismo comunitário. Os FRS mapeados atuavam em 404 municípios e haviam financiado mais de 9 mil empreendimentos produtivos envolvendo mais de 70 mil pessoas.

De acordo com Bárbara Schmidt (foto de capa), presidente da Rede Vencer Juntos e membro da Coordenação da Rede Brasileira de Fundos Solidários, a grande maioria dos FRS atua em comunidades rurais do interior onde faltam empregos com carteira assinada e onde o capital de mercado não investe. Para a população mais vulnerável, iniciar um pequeno negócio com apoio de recursos do FRS pode ser o passo inicial para qualificar a empreendedora a ganhar acesso ao seu primeiro crédito. Mais da metade dos participantes de FRS e boa parte das lideranças são mulheres.

Natural de Dusseldorf, na Alemanha, Barbara Schmidt Rahmer, hoje com 63 anos, se mudou para fazer um intercâmbio nos Estados Unidos quando tinha 18 anos. A experiência que deveria durar dois anos, se estendeu quando Barbara ingressou na Universidade de Yale, onde se formou em Economia e Relações Internacionais. Depois foi trabalhar na Fundação Ford, no México, e em seguida no UNICEF. Barbara chegou ao Brasil no final dos anos 1980, quando veio trabalhar como assistente do representante do UNICEF. Depois de dois anos em Brasília, passou a trabalhar exclusivamente junto à Pastoral da Criança, como consultora, e atuou na implementação dos primeiros projetos de geração de renda da Pastoral no país. Após alguns anos na iniciativa privada, Barbara retomou o trabalho iniciado na década de 1990 e se tornou coordenadora dessa nova etapa, que se chamava Programa Vencer Juntos.

Hoje, o Fundo apoia coletivos formais ou informais que praticam a tecnologia social de FRS e participam da Rede Nordestina de Fundos Solidários. Para receber apoio, o grupo precisa se comprometer a realizar uma campanha local de captação de recursos e a ajudar na divulgação do Fundo Nordeste Solidário. 

O FNS atua nos estados da região Nordeste e norte de Minas Gerais. Nas primeiras duas campanhas de captação de recursos, o Fundo conseguiu repassar recursos para Fundos Rotativos na Bahia, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí e norte de Minas Gerais. Também existem outros FRS no Ceará que começaram a participar, mas ainda não receberam recursos. A grande maioria dos Fundos Solidários mapeados em 2012 atua em comunidades rurais do interior da Região Nordeste. 

“Atualmente, nosso foco está em captar os recursos para contratar uma equipe remunerada que obtenha recursos de pessoas e empresas e intensificar nossa comunicação nas redes sociais. Por enquanto, estamos recebendo o apoio da Plataforma Click do Bem, mas não conseguimos ainda contratar uma equipe e serviços de comunicação. Neste momento, estamos funcionando com a dedicação voluntária de participantes da nossa Rede. Temos sinalização de apoio financeiro de uma organização da Alemanha e estamos buscando outros investidores para ampliar e consolidar nossa base de doadores a partir do ano que vem”, disse Bárbara Schmidt.

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