Como você faz a Gestão do Conhecimento da organização que lidera, da área que coordena ou das iniciativas que implementa?
Algumas ocasiões forçadamente impulsionam uma rápida avaliação que pode redirecionar radicalmente a forma como os líderes ou gestores das organizações e iniciativas lidam com as questões sobre Gestão do Conhecimento: um pedido de demissão, as aposentadorias voluntárias e/ou por tempo de serviço, os casos de morte, catástrofes naturais, duplicação de esforços, concentração de conhecimentos críticos em poucos profissionais, perda de qualidade e efetividade das ações.
Indubitavelmente, o conhecimento é um dos principais ativos das organizações e, por isso, precisa ser cuidado e zelado. Segundo Valle (2015) os ativos intangíveis (conhecimento individual, competências, talentos, métodos, processos, inovação, patentes, modelos de negócio e de gestão, relacionamentos, reputação, marca) são as principais fontes de desempenho e diferenciação no Século 21, constatação que exige a reinvenção da gestão de negócios e organizações na Economia do Conhecimento.
Valle (2015) alerta para a necessidade de destinar atenção e recursos para os intangíveis das organizações, especialmente para o conhecimento, qual considera “o fabuloso tesouro desperdiçado pelas empresas e organizações”, já que este impacta diretamente na dinâmica e nos resultados dos negócios e na diferenciação da organização.
Nessa mudança de paradigma é fundamental olhar para os integrantes das organizações como agentes de mudanças que, em diferentes níveis hierárquicos e inseridos na Economia do Conhecimento, estão envolvidos na produção e refinamento de dados, nas informações que consequentemente geram conhecimentos, que potencializam diferenciam as organizações onde atuam no mercado, que agregam valor aos produtos, que ampliam o faturamento dos negócios, que fortalecem a cultura e a identidade das organizações.
O conhecimento representa a soma das experiências de uma pessoa e/ou organização e só existe na mente humana. Para que a informação se transforme em conhecimento, a intervenção ativa de seres humanos é condição sine qua non (…) o conhecimento só existe na mente humana e na fronteira entre as mentes. (Alvarenga Neto, 2008, p. 19)
Sistematizar experiências, consolidar relatórios, tabular dados, realizar mentorias, contabilizar horas aulas de treinamentos, não se constituem práticas de GC se não tiverem sua intencionalidade clara e articulada a estratégia das organizações para efetivar entregas de qualidade a acionistas, integrantes e sociedade de modo geral.
Como bem lembra Fukunaga (2017), o fato de a Gestão do Conhecimento está cada vez mais em evidência em diferentes contextos organizacionais (nas esferas públicas, privadas e nas organizações da sociedade civil e do Terceiro Setor), não quer dizer que este campo se constitua uma novidade, pelo contrário, ele é resultado de um processo sócio histórico onde seus movimentos de emancipação[1], com registros a partir da década de 1950, foram basilares para consolidar esse campo que hoje é reconhecido como estratégico para dinâmica de crescimento, desenvolvimento das organizações, e perpetuação dos seus legados.
No Brasil, por exemplo, temos a Sociedade Brasileira de Gestão de Conhecimento (SBGC), fundada no ano 2000, que tem a missão de disseminar conceitos e práticas de GC para a sociedade, contribuindo para o aumento da efetividade das organizações e para o desenvolvimento do país e das pessoas.
Conforme afirma Longo (2014, p. 28) é fundamental criar condições para armazenar, sistematizar, reter e disponibilizar conhecimentos já explicitados para quem deles necessita, e criar os ambientes adequados para que novos conhecimentos geradores de valor agregado sejam criados nas organizações.
Nota-se, porém, que assim como em muitas pautas, em se tratando da Gestão do Conhecimento, para além do campo discursivo, é fundamental que as práticas se efetivem. Esse é um campo que merece mais atenção e priorização nas agendas das lideranças e das suas equipes, já que configura uma confluência entre pessoas, processos, tecnologias, cultura organizacional.
As práticas de Gestão do Conhecimento, a exemplo das sistematizações de Boas Práticas e Lições Aprendidas, a organização de Comunidades de Aprendizagem, o Mapeamento de Conhecimentos Críticos, dentre outras, precisam ser aderentes a cultura organizacional, possuir uma intencionalidade estratégica, e ter com clareza os fluxos de criação, aplicação, retenção e transferência de conhecimentos das organizações, ou iniciativas.
Gestão do conhecimento, é compreender e perceber o contexto para uma abordagem de gestão intencional dos processos de identificar, mapear, compartilhar, disseminar, reter, proteger, experimentar, criar e aplicar conhecimento em produtos, serviços, processos, metodologias e ações de uma organização e/ou sociedade para geração sistêmica de memória, inteligência coletiva e colaborativa e inovação contínua, aumentando a capacidade de reestruturação e transformação de sua natureza, renovando persistentemente sua vantagem competitiva. Fonte: SBGC/CoPs-MGCi (2013)
As estratégias de Gestão do Conhecimento geralmente estão integradas em diferentes abordagens, descritas seguir, a partir de Saito (2019): (i) Inteligência e Inovação: busca e análise de informação para geração de insights, prospecção tecnológica e monitoramento de tendências; (ii) interação e colaboração: acesso e a troca de conhecimentos tácitos, a exemplo de reuniões, comunidades de prática, etc; (iii) aprendizagem e competência: treinamentos para fortalecer as capacidades dos integrantes das organizações; (iv) informação e conteúdo : acesso ao conhecimento explícito, aquele que está registrado ou é facilmente registrável em documentos, arquivos, planilhas, vídeos, sites, etc.
A Gestão do Conhecimento conquistou patamares estratégicos nas organizações impulsionadas pelas tecnologias digitais, pela globalização e pela mudança de mentalidade dos consumidores que, cada vez mais qualificados, exigem a agregação de valor aos produtos e serviços quais têm acesso.
Os desafios para os Geradores, Transformadores e Usuários de Conhecimentos, ainda são grandiosos, considerando as lacunas que precisam ser preenchidas para se chegar a um cenário em que a relevância que vem sendo conquistada pela Gestão do Conhecimento seja de fato coerente com o nível de apropriação dos conteúdos, com os investimentos em termos de infraestrutura e tecnologia que garantam a coleta, a geração, a retenção, aplicação e difusão do conhecimentos de maneira ética, com enfoque na utilidade, emancipadora, geradora de valor compartilhado, de benefícios sociais para o desenvolvimento de territórios e comunidades, e de retorno econômico-financeiro para as organizações e suas redes de investimentos e parcerias.
PARA SABER MAIS:
ALVARENGA NETO, R. C. D. Gestão de conhecimento em organizações: proposta de mapeamento conceitual integrativo. São Paulo: Saraiva, 2008.
FERRAZ, J. M.; SALES, J. Em Busca da Emancipação na Gestão do Conhecimento. Revista Pensamento Contemporâneo em Administração, v. 11, n. 2, p. 108-119, 2017.
FUKANAGA, F. Cultura organizacional como fator de influência no ciclo de gestão do conhecimento. 2015. 153 f. Dissertação (Mestrado em Administração) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2015.
FUKANAGA, F. O significado do conhecimento nas organizações. 2017. In: http://www.sbgc.org.br/uploads/6/5/7/6/65766379/2.o-significado-do-conhecimento-nas-organiza%C3%A7%C3%B5es-fukunaga-f-2017.pdf
LONGO, R. M. J. (et al). Gestão do Conhecimento: a mudança de paradigmas empresariais no século XXI. São Paulo Editora Senac São Paulo, 2014.
SAITO, A. Gestão do conhecimento: como fazer?
http://www.sbgc.org.br/blog/gestao-do-conhecimento-como-fazer3723430
SOCIEDADE BRASILEIRA DE GESTÃO DO CONHECIMENTO – SBGC. Conceito de Gestão do Conhecimento. In: http://www.sbgc.org.br/gestatildeo-do-conhecimento.html
VALLE, B. Os novos princípios da geração de valor na Economia do Conhecimento. In:
http://impaktconsult.com/blog/blog/principios-da-geracao-de-valor-na-economia-do-conhecimento
VALLE, B. Conhecimento é o negócio. In: http://impaktconsult.com/blog/blog/conhecimento-e-o-negocio
[1] Movimento da Informação e Inteligência Artificial, Movimento da Estratégia baseada em Conhecimento, e, Movimento da Criação do Conhecimento.
Fabricio Cruz é baiano com muito orgulho! Profissional do Desenvolvimento. Diretor da Atairu – Gestão e Inovação Social. Mestre em Desenvolvimento e Gestão Social (EAUFBA/PDGS). Especialista em Gestão de Projetos (ESALQ/USP) e em Inovação, Sustentabilidade e Gestão de Organizações da Sociedade Civil e do Terceiro Setor (UNIJORGE). Autor do livro “O futuro chegou! E agora? Avaliação participativa conectando percepções do impacto das tecnologias nas políticas públicas educacionais”.