Programas têm potencial para tornar o Estado pioneiro em energia verde e na geração solar distribuída.
Foto: Comitiva do Ceará visita usina de hidrogênio verde na Espanha (Divulgação)
Os últimos dois anos têm demonstrado porque os negócios podem ser um motor essencial do desenvolvimento sustentável e da prosperidade humana. Uma luz vermelha acendeu no ambiente empresarial, o papel do setor tem sido desafiado de modo acelerado.
O foco que era puramente a maximização do valor para o acionista, agora está na sustentabilidade dos negócios. A gestão de questões ambientais, sociais e de governança (ESG) passou de uma área de nicho, que ficava nos departamentos de conformidade das empresas para uma prioridade estratégica e central.
Essa mudança é apoiada por evidências de que a sustentabilidade está se tornando imprescindível para o sucesso das empresas, e de que aquelas que gerenciam bem as questões ESG estão em melhor posição para prosperar financeiramente, especialmente a longo prazo.
Porém, há um passivo enorme de desigualdades sociais e ambientais no mundo. As Nações Unidas estimam que o investimento necessário para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) até 2030 é de cerca de US$ 4,5 trilhões por ano.
Comparado com os níveis atuais de investimento, há uma lacuna de investimento anual em torno de US$ 3,1 trilhões em setores críticos para os ODS. Este valor representa apenas 1,1% dos ativos sob gestão no mercado global de capitais.
É essencial repensar os modelos e instrumentos de alocação de capital, estabelecendo um paradigma no qual o esforço orquestrado de investidores sociais, governos, multilaterais e investidores de capitais cria um ciclo virtuoso de investimentos orientados para o impacto, com assertividade e risco equilibrado.
O caminho é a integração estratégica de recursos sem fins lucrativos, recursos de fomento e desenvolvimento e capital privado em operações híbridas sob a mesma tese de impacto.
É nessa toada que tal tipo de investimento tem o potencial de fazer o estado do Ceará pioneiro em hidrogênio verde e na geração solar distribuída.
O estado aposta num ecossistema de desenvolvimento de energias do futuro. Sol, mar e vento estão disponíveis o ano inteiro – as primeiras usinas eólica e solar comercialmente viáveis do Brasil são cearenses.
É nesse ambiente que, atualmente, há 13 memorandos de entendimento para produção de hidrogênio verde no Complexo do Pecém, no Ceará. Aqui se fala de um pioneiro hub de hidrogênio verde na terra de José de Alencar.
Produzido quando uma corrente elétrica – preferencialmente de fonte de energia renovável – passa pela água, o hidrogênio verde é pouco poluente e pode ser usado para fornecer energia tanto para a indústria quanto para transportes. A visão de futuro do hidrogênio é que o seu uso alcance quase um quarto da redução de CO2 necessária em 2050, dados do Hydrogen Council.
Há desafios a serem cumpridos, tanto regulamentares quanto em ajustes que viabilizem o ganho de escala com segurança. Com base na viabilidade econômica, o estado usando seu capital de alavancagem desenvolve um projeto piloto para implementar a primeira usina de hidrogênio do Brasil, com início da operação prevista para dezembro de 2022. Numa operação híbrida, o recurso do poder público faz sentido para fomentar o ecossistema e sustentar o desenvolvimento da nova tecnologia, de forma a canalizar as vantagens competitivas apresentadas pelo Ceará.
Outra iniciativa com o potencial DNA do capital híbrido é o Renda do Sol. Trata-se de uma proposta estratégica para reduzir a pobreza entre os mais vulneráveis e residentes no estado do Ceará por meio da microgeração de energia. O ativo – a energia solar residencial – é o grande insumo que trará ao estado do Ceará vantagem competitiva frente os demais estados e não somente do ponto de vista do impacto econômico, como também social e ambiental.
A energia solar é, sim, extremamente importante para o desenvolvimento social e sustentável. A eficiência energética prevista no renda do Sol, principalmente no que tange à geração fotovoltaica, proporcionará uma economia para as famílias bem como geração de renda para as mesmas. Além disso, gerará um potencial de economia de CO2.
O Renda do Sol busca contribuir para o alcance dos ODS, além de ser estratégico para a economia do Ceará. Há alto valor para a sociedade, pois propõe: i. excelência em qualidade de vida e bem-estar em todas as dimensões; ii. elevar o padrão de vida da população, considerando itens fundamentais como saúde, educação, cultura, engajamento comunitário e meio ambiente; iii. redução radical da pobreza e das desigualdades em busca do desenvolvimento social; e, iv. reduzir expressivamente a pobreza e o desemprego na busca do ideal da erradicação da miséria, da elevação da renda per capita e da redução da desigualdade socioeconômica para o patamar dos melhores níveis do país.
O hub de energia verde e o Renda do Sol abrem o estado do Ceará para o novo mercado de capital, aquele que coloca em seu centro as pessoas. Os mais impactados serão aqueles com menos privilégios. Será preciso grande alocação de capital especialmente na área de infraestrutura e construção civil. A maior parte do capital para financiar esses projetos tem de vir do setor privado.
*Artigo reproduzido da Forbes Collab com autorização do autor.
Haroldo Rodrigues Jr. É sócio fundador da investidora in3 New B Capital S.A. Criador do Instituto Internacional de Inovação de Fortaleza – I3FOR e o Centro de Pesquisa em Mobilidade Elétrica – CPqMEL. Ex-Diretor de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação da Universidade de Fortaleza – UNIFOR. Ex- Presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Ceará – FUNCAP. Ex-Presidente da Agência Reguladora do Estado do Ceará – ARCE.