Precisamos de líderes que façam parte da mudança que a sociedade precisa, contribuindo para gerar resultados e impactos socioambientais positivos.
No universo corporativo, como líder, eu tinha uma forte orientação a resultados, ponto alto na minha Avaliação de Desempenho, e durante muito tempo a prioridade foi atender às expectativas da empresa, desenvolver um bom time, estar aderente aos processos e atingir as metas.
Lembro que há dez anos, como Gerente Administrativa em uma grande empresa, junto a equipe e com gestores parceiros, lançamos um programa para conscientização dos colaboradores chamando atenção para: desperdício de alimentos, uso consciente dos recursos, ações de bem-estar e consciência ambiental. Fizemos também ações de voluntariado na comunidade. O programa se chamava Vida Consciente e na ocasião, não fazia parte das diretrizes corporativas da empresa.
Ainda lembro da integração e do entusiasmo da equipe na criação das ações. Infelizmente muitas ações não puderam ser implantadas por falta de orçamento e apoio, pois não era prioridade naquele momento. Pensando agora, foi um projeto ousado e já alinhado aos ODS (que na verdade ainda eram 8 ODMs e não era pauta na empresa). Mesmo com restrições e muitas resistências, certamente trouxe impactos importantes, que talvez naquela época eu não tenha percebido.
Hoje, atuando como Consultora, com projetos alinhados a ESG e aos ODS, negócios de impacto socioambiental e com ações que fortaleçam principalmente a governança e as práticas sociais, reforço que o papel do líder é muito mais do que alcançar os resultados pensando apenas na empresa, suas estratégias e seus processos. Não vejo como existir líder exponencial ou líder de alto impacto sem conexão com as demandas da sociedade, e isso não deve ser pensado só para grandes empresas e a partir da alta gestão. Como na minha vivência, pode começar com pequenas ações junto às equipes. O fundamental é estar alinhado aos valores do negócio e ao compliance (não infringir os inegociáveis).
O papel da liderança, nos últimos anos, vem sendo exigido para além das suas salas, aquários e dos muros das organizações. Antes, é primordial olhar para dentro e arrumar a casa (realinhar estratégias, redesenhar processos e monitorar resultados), mas é de extrema importância olhar para o entorno e pensar em como reduzir as desigualdades, que são inúmeras. E além das desigualdades, é preciso fazer parte de uma mudança global, mesmo com ações simples e a princípio, de baixo impacto.
No Capitalismo Consciente, um dos pilares é a Liderança Consciente. Os líderes conscientes são responsáveis por criar valor para todos os seus stakeholders, cultivando uma cultura de confiança e cuidado, alinhado ao propósito maior. Na prática, para a implantação de ações ESG e geração de negócios de impacto, é preciso que as lideranças estejam preparadas para fomentar a cultura, reforçar os valores, contribuir com o desenvolvimento e benefícios de todas as partes interessadas, tendo com base o propósito que norteia os passos da organização.
Sem considerar todas as partes interessadas e sem uma visão sistêmica, a liderança continuará sendo a executora de resultados da organização, o que é importante para atender as diretrizes e gerar sustentabilidade, principalmente financeira. A minha provocação aqui é como ser líder além dos resultados, que já são desafiadores o suficiente no dia a dia da liderança, que geralmente está “apagando incêndio” e envolvida no operacional na maior parte do tempo.
A pesquisa Panorama Liderança 2023, da Amcham e Humanizadas, reflete como essas questões precisam evoluir. Apenas 27% dos respondentes consideram a Sustentabilidade e Responsabilidade Social como “ponto forte da liderança”, ficando em 8º lugar de 10 pontos relacionados. No índice sobre as “prioridades das lideranças na empresa” a questão relacionada diretamente a resultados (eficiência, produtividade) ocupa a 2ª posição e a que mais se aproxima sobre a geração de impacto positivo está na 8ª posição: promover sustentabilidade ambiental e social nas operações, sendo prioridade para apenas 34% das lideranças.
Quantos líderes você conhece que estão genuinamente comprometidos em: reduzir as desigualdades e promover a inclusão (ODS 10), promover a equidade de gênero (ODS 5), contribuir para erradicação da pobreza (ODS 1), promover a sustentabilidade nas comunidades e na produção interna (ODS 11 e 12)? Ou seja, quantos líderes você conhece que pensam em estratégias que estejam aderentes aos ODS? Que conseguem olhar além dos seus muros?
Essa reflexão diz muito do quanto nós líderes precisamos acordar para fazer parte da mudança que a sociedade precisa, contribuindo para gerar resultados e impactos socioambientais positivos.
Sigamos atentos e em busca da transformação organizacional e social! Vamos gerar impacto juntos?
Jana Ricarte é Administradora, Consultora Organizacional na Ricart Consultoria – Gestão, Processos & ESG, Especialista em Liderança Estratégica e em Consultoria em MPEs. Multiplicadora B, Colíder do Capitalismo Consciente Nordeste.