A terceira reportagem da série especial em que o Portal Impacta Nordeste apresenta as empresas aceleradas na 1ª edição do programa Impulsio.ne Saúde traz a história da Z-Future, empresa que oferece consultoria em inovação estratégica baseada em soluções de nanotecnologia e prototipagem.
A união de ideias de dois amigos deu início a uma jornada de inovação em saúde para oferecer um novo produto ao mercado. O Mimetic é um curativo biomimético que acelera processos de cicatrização de feridas, reduz o risco de complicações, melhora a qualidade de vida dos pacientes e reduz o nível de degradação ambiental.
A origem do produto foi a pesquisa de Ligia Maria Manzine, bacharel em Química, mestra em Engenharia de Materiais e doutora em Nanociências e materiais avançados. “Ela começou a pesquisar o uso de nanopartículas na saúde. E um dos trabalhos utilizava uma membrana, que a inspirou a desenhar o Mimetic”, lembra Felipe Lordelo, fundador da Z-Future, empresa com sede em Salvador (BA) que oferece consultoria em inovação estratégica baseada em soluções de nanotecnologia e prototipagem.
O Mimetic se apresenta a um mercado global de produtos para a saúde que enfrentam um problema comum: lesões na pele que, se tratadas inadequadamente, podem piorar. Especialistas apontam diversos fatores complicadores do processo para a cicatrização de ferimentos, tais como o tempo de evolução, a extensão e profundidade da lesão e comorbidades como diabetes e hipertensão arterial. De acordo com a plataforma Medical Xpress, estima-se que 45 milhões de pessoas no mundo vivam com ferimentos crônicos que não respondem a terapias tradicionais de cicatrização. Um problema que pode levar o paciente a um agravamento do estado de saúde.
Dados do Ministério da Saúde analisados pela Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular (SBACV) mostram que 282.573 brasileiros sofreram amputação de membros inferiores entre 2012 e maio de 2023. Segundo o estudo, muitos casos foram motivados por ferimentos que não tiveram a cicatrização adequada. Entre os principais pacientes amputados no território brasileiro estão os que têm diabetes. E, de acordo com a SBACV, a maioria das feridas é suscetível a tratamentos precoces.
O curativo biomimético criado pela Z-Future busca acelerar o tempo de cicatrização para diminuir o risco de exposição a infecções visto em ferimentos que levam a piora no quadro de saúde. “O Mimetic tem uma estrutura muito similar à da pele e, por isso, um dos benefícios é contribuir de maneira mais eficaz no alívio da dor”, afirma Lordelo. Com base nos primeiros estudos e análises, a empresa intensificou o desenvolvimento do produto.
Entre 2010 e 2016, a pesquisadora Ligia Manzine publicou 30 artigos em revistas internacionais de nanotecnologia e medicina regenerativa. De 2017 a 2021, o Mimetic passou por testes físicos, químicos e biológicos da estrutura e recebeu recursos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ).
Durante os anos de 2022 e 2023, o curativo passou por testes clínicos submetidos a um comitê de ética. Foi a época em que a Z-Future recebeu recursos do Centelha e começou o desenvolvimento da linha de produção semiautomática do Mimetic. “Em 2023, a gente decidiu se inscrever no Impulsio.ne Saúde, mas ainda não enxergava na totalidade quais eram os impactos do nosso produto. Só percebemos isso durante o processo”, comenta o fundador da empresa.
Durante o demoday do Impulsio.ne, realizado em julho de 2023, Felipe Lordelo apontou que a solução apresentava o impacto social de melhorar a experiência do paciente, já que é uma aplicação única e isso acarreta menos idas às unidades de saúde, bem como um impacto ambiental, uma vez que o curativo é facilmente absorvido pela pele e reduz a quantidade de resíduos hospitalares.
“O Mimetic não está tratando apenas uma ferida. Ele pode evitar uma amputação, uma infecção generalizada que pode levar à morte. Ao diminuir a quantidade de vezes que esse paciente vai ao hospital trocar o curativo, melhora o estado psicológico e financeiro do paciente também, já que alguns precisam se deslocar por grandes distâncias para chegar a uma unidade de saúde”, aponta Lordelo.
O projeto foi selecionado para a fase de aceleração do Impulsio.ne e passou por seis meses de acompanhamento nos avanços de estruturação do negócio. Durante o primeiro trimestre, a Z-Future conseguiu evoluir no processo de testes clínicos e produzir um lote de 50 unidades do curativo, além de progredir nas interações com fornecedores e outros atores do mercado. No segundo trimestre de aceleração, a iniciativa conseguiu finalizar o desenvolvimento de um protótipo para dobrar a capacidade de produção do Mimetic e avançar na fase de testes com a seleção dos pacientes que vão receber o curativo no Hospital Bruno Born (HBB), situado no município de Lajeado, no Rio Grande do Sul.
Durante o Impulsio.ne, a Z-Future também identificou parcerias para realizar pesquisas sobre o curativo especializadas na saúde animal e avançou no desenvolvimento de estratégias de comunicação e marketing. Com o engajamento, motivação, planejamento demonstrado pela equipe da Z-Future, assim como o potencial do produto, a empresa foi premiada com investimento semente de R$ 10 mil pelo Impulsio.ne Saúde ao fim da jornada.
Outro destaque do processo de aceleração foi a estruturação da pesquisa clínica para iniciar os testes no formato exigido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Meses após fim do Impulsio.ne Saúde, o Mimetic foi selecionado pela Anvisa para participar de um projeto-piloto destinado a avaliar dispositivos médicos inovadores de interesse nos serviços de saúde no Brasil.
“Ficamos orgulhosos com essa conquista. Na seleção, apresentamos todos os projetos que participamos, inclusive o Impulsio.ne Saúde. Isso tudo traz uma contribuição enorme para o projeto. E acreditamos que até o fim de 2024 vamos estar com o produto no mercado”, espera Felipe Lordelo.
Nos próximos dois anos, a Z-Future pretende finalizar os testes clínicos, obter todas as aprovações de agências reguladoras e comercializar o curativo. Com isso, a empresa pode ampliar a estrutura de laboratório para desenvolver novos produtos e avançar na pesquisa e inovação voltada à saúde.
