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Muda Meu Mundo, startup de impacto que conecta agricultores familiares ao varejo, conquista novos mercados

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Negócio de impacto cearense está expandindo sua atuação e tem levado a tecnologia e análise de dados para as produções agrícolas da agricultura familiar e de pequenos produtores. Startup cresceu mais de 300% no último ano.

Uma plataforma que conecta o pequeno produtor e o agricultor familiar com o varejo garantindo uma cadeia justa e com impacto positivo de ponta a ponta, gerando renda recorrente para o produtor e análises de ESG para o varejo. Essa é a Muda Meu Mundo, que surgiu em 2019, em Fortaleza, no Ceará. A startup cresceu e atualmente atende desde pequenos comerciantes a grandes redes de varejo.

Com um marketplace B2B que engaja pequenos produtores para comercializarem com o varejo ao mesmo tempo em que consegue gerar benefícios de impacto positivo (social e ambiental) para cada elo da cadeia, a Muda Meu Mundo traz soluções para diversos problemas da cadeia produtiva como: eliminar os atravessadores e centros de distribuição entre o produtor e o supermercado, trazendo assim preços mais vantajosos para os produtores, já que o produto sai da mão do produtor direto para o supermercado.

Produtor rural atendido pela Muda Meu Mundo. (Foto: Divulgação)

Também possibilita que o supermercado mostre ao cliente de onde vem sua comida por meio de um rastreio completo e humanizado de toda a cadeia; e por fim, a diminuição de 30% para 2% do desperdício de produtos já que, entre a colheita e a chegada ao supermercado, o alimento leva menos de 12h.

A startup é pioneira no desenvolvimento da cadeia de suprimentos de forma sustentável para o varejo, conectando agricultores com varejistas com eficiência e sustentabilidade, além de promover a capacitação e qualificação de agricultores familiares.

Conversamos com a Priscilla Veras, CEO e fundadora da Muda Meu Mundo, para entender o crescimento da empresa, como ela vê o desenvolvimento sustentável no setor agrícola brasileiro e quais são os planos de expansão do negócio.

Impacta Nordeste – Como surgiu a Muda Meu Mundo?

Priscilla Veras – A Muda Meu Mundo surgiu depois de algumas experiências minhas que me levaram a conhecer a parte rural do Brasil, de outros países da América do Sul e da América Central. Essas experiências fizeram me deparar com produtores que vivem em situação de extrema pobreza, que produzem sua comida, mas ao mesmo tempo não conseguem gerar uma renda porque vendem o produto por um preço muito baixo. E esse preço é muito discrepante entre o valor que o produtor vende e o que chega para a gente no supermercado. A Mundo Meu Mundo existe a partir dessa inquietação de entender o que é essa cadeia produtiva e como é que poderíamos conseguir resolver esse problema. Daí surgiu a iniciativa de trazer esse produtor para comercializar seu produto na cidade com um melhor preço.

IN – Qual o principal objetivo da MMM?

O principal objetivo da Muda Meu Mundo é simplificar uma relação complexa. É fazer com que qualquer produtor, seja ele um agricultor familiar ou um pequeno produtor, consiga se conectar e vender sem nenhuma dificuldade os seus produtos a grandes varejistas. E que também os varejistas não tenham nenhuma dificuldade para comercializar com esses pequenos produtores. 

IN – Como funciona a plataforma?

Nós somos um marketplace, B2B e white label. Então conseguimos conectar qualquer produtor rural com redes de supermercados, varejistas ou startups na mesma cidade. O funcionamento é muito simples, o produtor se cadastra, a partir desse cadastro entendemos quem ele é, com base nesse entendimento encontramos um match perfeito entre a qualidade do que ele produz e o preço que ele quer vender. Conseguimos fazer o produtor escoar seu produto para as redes de supermercados sem nenhum intermediário.

Priscilla Veras, CEO da Muda Meu Mundo. (Foto: Divulgação)

Do outro lado, das redes varejistas, também tem um processo simplificado. O supermercado se cadastra, a gente entende quem ele é e encontramos o match perfeito entre ele e o produtor. Entendemos qual é a necessidade dele de produtos, de quantidade, de qualidade, de preço. O supermercado faz um único pedido e recebe uma única entrega, com uma única nota fiscal, além de receber os dados da cadeia produtiva para que ele entenda todos os processos que acontecem na compra dele com transparência.

IN – Com quantos agricultores vocês trabalham no momento? E quantas redes de supermercados recebem os produtos?

Hoje atendemos 600 produtores e mais de 50 redes de supermercados. Quando eu falo uma rede, por exemplo, o Carrefour é uma rede com 200 e poucas lojas operando no estado de São Paulo. Então só para se ter uma ideia da dimensão temos 50 redes que recebem produtos direto de 600 produtores.

IN – Qual o diferencial de vocês? Qual impacto vocês buscam e o que já conseguiram alcançar?

Nosso diferencial é que hoje somos a melhor solução para o produtor comercializar seus produtos com a cidade, porque conseguimos entregar não apenas essa parte da comercialização em si, da conexão com o mercado, mas também a solução emissão de nota fiscal com um único clique, adiantamento de recebíveis, microcrédito, parceiros de logística local. Além disso tudo, temos outro grande diferencial que é a análise de dados com SID, com a qual fazemos todo processo de análise da cadeia produtiva, gerando valores, identificando os produtores e quais são os princípios de sustentabilidade desses produtores. Conseguimos classificar esses dados e entregá-los para os supermercados como desenvolvimento no processo de apoio ao produtor. 

IN – Como funciona a aplicação da análise de dados ESG na logística de fornecimento de alimentos?

A nossa análise de dados em SID não é só aplicada na logística. A gente analisa os dados de SID desde o momento em que o produtor entra na nossa base. Temos todas as informações de quando ele entra, quanto que ele ganha, o que ele produz, que impacto ambiental ele tem, quais são as áreas que ele tem na produção dele que são reflorestadas. Com essas informações e o processo comercial conseguimos fazer a análise desses dados e gerar relatórios de sustentabilidade. 

Agricultor atendido pela Muda Meu Mundo. (Foto: Divulgação)

Hoje a gente consegue entregar para o supermercado 15 indicadores de forma gratuita. Mas temos outros quase 100 indicadores que conseguimos gerar, mas que ainda não estamos fornecendo, mas que em breve vai virar um SAS de análise de cadeia produtiva. Nós estamos com muitos indicadores sendo coletados ao mesmo tempo para poder gerar transparência e o supermercado saber exatamente o que acontece em cada processo para que essa comida chegue até ele. 

IN – Recentemente vocês receberam o prêmio 100 Startups to Watch. Como se sentem com esse reconhecimento? O que esse prêmio representa para a MMM?

Sobre os 100 Startups to Watch foi incrível receber esse prêmio. É uma concretização muito legal de todo o nosso trabalho. Esse ano também fui eleita pela Forbes como uma das 10 mulheres mais inovadoras para o Agro no Brasil. Isso concretiza todo o nosso trabalho, de termos começado no Ceará, depois no Nordeste e termos um desenvolvimento grande e agora estarmos em processo de expansão para o Brasil. Hoje já atendemos em São Paulo, mas já temos produtores de Minas Gerais e do Rio Grande do Sul que estão nos procurando para comercializar conosco.

IN – Qual a opinião de vocês sobre o desenvolvimento sustentável no setor agrícola? Como os produtores e os clientes vêm reagindo a essa postura? Acha que estamos evoluindo para uma cadeia produtiva mais sustentável ou ainda temos muito para mudar?

Eu acho que o agro no Brasil tem a maior força de gerar sustentabilidade nas nossas terras, quando penso que 43% das terras do Brasil são terras agriculturáveis. Quanto mais sustentabilidade a gente traz nos processos produtivos, mais eles vão ter um impacto positivo na natureza. Isso é importante desde o grande agro ao pequeno agricultor, ao agricultor familiar ou ao grande exportador de soja. Todo mundo está começando a olhar para a sustentabilidade de uma forma muito importante, até porque as pessoas estão cobrando, os clientes estão cobrando. Ainda temos muita coisa para fazer, mas eu acho que esse é um caminho sem volta. Acho que os próximos anos vão ser muito positivos. Temos aumento de consumo de produtos biológicos e vamos ter muita parte de conservação, que chamamos de Agricultura de Baixo Carbono, que é a integração da lavoura, da pecuária e da floresta e assim conseguir fazer tudo isso acontecer no mesmo espaço, ganhando dinheiro, mas sem trazer um impacto ambiental negativo.

IN – Quais os planos para o futuro?
Nossa meta para os próximos anos é ousada. Queremos estar no Brasil inteiro. São três milhões de produtores no Brasil que a gente tem a meta de alcançar nos próximos cinco anos. Gerando renda, gerando desenvolvimento. Ao mesmo tempo em que já éramos essa conexão direta com o supermercado, também trabalhamos muito forte em tecnologia, mas a tecnologia na medida certa. A Muda Meu Mundo é high-tech e high touch. Nós conseguimos deixar a tecnologia muito boa, mas na medida certa para o nosso cliente, não importa se é um grande varejista ou se é um pequeno produtor. Conseguimos fazer tecnologia para todo mundo, da melhor forma que essas pessoas precisam. Então a gente quer estar no Brasil todo e também temos planos para ir para outros países da América do Sul e América Central.