Neojiba: Um case de sucesso de empreendedorismo social e economia criativa

Criada em 2007, a NEOJIBA muda a vida de jovens periféricos através da música clássica, aliando inovação, economia criativa e empreendedorismo social.

Estava em casa no último sábado, dia 5 de novembro, e por incrível que pareça chovia em Salvador. Então deitado no sofá, procurei filmes para assistir na Netflix. Me deparei com o documentário NEOJIBA — Música Que Transforma (2020) de Sérgio Machado e George Walker.

A obra cinematográfica acompanha a trajetória de Iure, estudante da NEOJIBA e morador do Bairro de Paripe, região periférica de Salvador, desde das audições até a turnê internacional na qual ele foi selecionado para participar. O filme ainda traz depoimentos de outros alunos e ex-alunos, colaboradores e do próprio fundador e diretor geral da NEOJIBA, o maestro Ricardo Castro.

O longa-metragem aborda de forma singela a transformação social de jovens moradores em comunidades carentes, a partir da música clássica. É a conexão sinérgica entre economia criativa, inovação e empreendedorismo social.

Onde o empreendedorismo social e a economia criativa se encontram

O empreendedorismo social é um tipo de empreendedorismo que na sua essência produz serviços e produtos que beneficiem a comunidade local ou a sociedade, com direcionamento aos problemas sociais que os indivíduos enfrentam. Tem como objetivo difundir a melhoria da condição de vida das pessoas na sociedade, através da criação do capital social, inclusão e emancipação social.

Além disso, é salutar que o empreendedorismo social tenha como elemento formativo a inovação. Afinal, resolver problemas sociais é uma tarefa complexa. Portanto é importante produzir ações inovadoras para transformar uma realidade local, nacional ou mundial.

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A NEOJIBA é uma organização social sem fins lucrativos, que visa primordialmente a transformação social por meio da música orquestral, ampliando o acesso a este tipo arte para um cenário mais diverso, incluindo inúmeros jovens moradores de bairros periféricos e com menor poder socioeconômico.

As iniciativas da NEOJIBA são permeadas por inovação, utilizando a economia criativa como propulsora de uma mudança social, convertendo o habitual comportamento elitista da música clássica, em uma atividade mais difusa e alcançável a todos tendo como fundo a economia criativa.

A metodologia da NEOJIBA

O organização, cujo nome é o acronimo de Núcleos Estaduais de Orquestras Juvenis e Infantis da Bahia, nasceu em 2007 e fez 15 anos este ano. Foi criada pelo regente Ricardo Castro e hoje está vinculado à Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e Desenvolvimento Social do Governo do Estado da Bahia. O projeto nasceu a partir de uma ideia inovadora de política pública, conectando os segmentos da Cultura, Educação e de Desenvolvimento Social.

Muito se deve a sua metodologia inspirada no El sistema, idealizado por José Antônio Abreu, na Venezuela, em 1975. A metodologia consiste na formação pedagógica e ética na infância e juventude, com formação de música clássica, aprendendo a tocar instrumentos que compõe a orquestra como também na capacitação para fabricação e reparo de instrumentos musicais.

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Os alunos participantes do NEOJIBA angariam, através da música clássica e da orquestra, noções de responsabilidade coletiva e individual, trabalho em equipe e respeito mútuo. Eles ainda são contemplados com acompanhamento social, escolar e de saúde.

A atuação da NEOJIBA

Em 15 anos de história, segundo dados da própria instituição, mais 10 mil crianças e adolescentes foram impactadas direta e indiretamente. A NEOJIBA está dividida em três núcleos:

Núcleo Central do NEOJIBA (NCN)

É responsável por coordenar as atividades dos núcleos em todo o estado da Bahia, acolhendo as áreas pedagógica, artística e de desenvolvimento social do projeto, além de gerir os principais grupos musicais em Salvador:

• Orquestra 2 de Julho
• Orquestra Castro Alves (OCA);
• Orquestra Pedagógica Experimental;
• Orquestra de Cordas Infantil;
• Coro Juvenil Coro Infanto-juvenil;
• Coro Comunitário.

Orquestra Juvenil da Bahia

No documentário eu fiquei admirado pela beleza, diversidade cultural e grandiosidade da Orquestra Juvenil da Bahia. A NEOJIBA, além de proporcionar uma grande experiência ao tocar em grandes palcos da Europa, todos os jovens participantes do projeto tornam-se protagonistas de suas próprias histórias e vivências.

A orquestra já se apresentou mais de 190 vezes e foi a primeira orquestra juvenil brasileira a tocar na Europa. A Orquestra já fez turnê em diversas cidades brasileiras e nações como Portugal, Reino Unido e França.

Núcleos de Prática Musical (NPM)

Este núcleo é o espaço de formação musical e convivência no NEOJIBA. São ofertadas aulas de prática orquestral, instrumental, canto coral e linguagem musical. No NPM são oferecidas ações para formação de jovens líderes e de intercâmbio cultural com outros artistas. Eles são sediados em 9 bairros de Salvador e três cidades da Bahia: Simões Filho, Jequié e Lauro de Freitas.

Núcleos Territoriais do NEOJIBA

A principal função desse núcleo é a propagação de atividades relacionados ao NEOJIBA nos macro territórios de identidade da Bahia, apoiando continuamente projetos musicais e prática musical coletiva. Os primeiros núcleos estão nas cidades de Feira de Santana, Vitória da Conquista e Teixeira de Freitas.

A sede da NEOJIBA

Outro aspecto de impacto e transformação social é a sua sede. Localizada no bairro da Liberdade, segundo bairro com a maior população negra de Salvador. Fornece à comunidade infraestrutura, cultura e lazer. O espaço é aberto à visitação e, nos fins de semana, grupos culturais da região podem utilizar a estrutura para apresentações, além dos próprios grupos musicais da NEOJIBA.

Além de todo o impacto positivo nos jovens por meio das formações, a NEOJIBA torna-se uma oportunidade de inserção no mercado para jovens músicos que passam a angariar funções como professores, tutores e orientadores musicais. Uma espécie de bola de neve do bem. A NEOJIBA é muito mais que uma orquestra ou um projeto, mas sobretudo é um importante instrumento de transformação e impacto social.