Opinião

O que é “negócio”, o que é “impacto”?

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Não vamos nos iludir. Nem tudo o que se rotula como “negócio de impacto” carrega consigo o mesmo nível de comprometimento com essas duas variáveis – do “negócio” e do “impacto”.

Quanto mais empreendedores de negócios de impacto a gente conhece, mais vai ficando claro que, embora se vinculem de forma quase identitária a esse movimento, há diferentes centros de gravidade nessas iniciativas.

Ora mais no “business” – acesso a mercado, modelo de negócio e de receita etc. –, ora mais no “impacto” – base da pirâmide, métricas etc. –, a necessidade óbvia de cada “negócio de impacto” equilibrar essas duas dimensões não necessariamente resultará num mesmo peso delas ao longo da sua história.

Para ONGs que estão modelando soluções de mercado, a tendência é que pesem mais a mão na dose de “negócio”, pensando maneiras de incorporar a dimensão “econômica” e “de mercado” no viés de “impacto” que já tanto entregam. Mas, mesmo nessa última dimensão, sem dúvida há espaço para refinar aspectos de métricas/mensuração.

Para startups que estejam “saindo do armário”(abordado em meu artigo anterior) será necessária uma boa energia em formas de tornar “impacto” parte do seu “core”, em vez de encará-lo como mera externalidade positiva.

Para os negócios de impacto que já nasceram com essa “veia”, ao longo das distintas fases de sua vida haverá diferentes ênfases em uma ou outra dimensão, com a sempre desejável boa calibragem entre ambas.

O papo está muito bom, mas como isso se dá no mundo real?

Vale resgatar três dados preocupantes trazidos pela segunda edição do Mapa da Pipe Social:

  • 43% dos negócios de impacto declaram não possuir faturamento (“Onde está a dimensão de ‘negócio’?”);
  • 42% dos negócios ainda não definiram indicadores de impacto e 38% definiram indicadores, mas ainda não medem (“Qual o extrato da dimensão de ‘impacto’?”).

Como podemos ver, no mundo real há um considerável distanciamento entre a intencionalidade de se manejar as duas dimensões – de negócio e de impacto – e o que ocorre no “chão da fábrica” do setor.

Sem dúvida, mais uma boa discussão para o campo.

Para os que buscam receita de bolo ou algo do tipo “seus problemas acabaram”, infelizmente a notícia não é boa. Transpiração faz parte do jogo.

Fabio Deboni é engenheiro agrônomo e mestre em recursos florestais pela ESALQ/USP. É gerente-executivo do Instituto Sabin e membro do Conselho do GIFE. Tem participado ativamente do engajamento de institutos e fundações no campo das finanças sociais e negócios de impacto. É escritor de diversos artigos e está lançando seu novo livro – Impacto na Encruzilhada – disponível aqui: https://mymag.com.br/projeto/encruzilhada/