OpiniãoSustentabilidade

Outras formas de praticar a Economia Circular 

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Embora a Economia Circular esteja ganhando cada vez mais espaço nos “corações e mentes” das pessoas, empresas e governos, muitas vezes as ações práticas ainda se restringem à reciclagem dos resíduos gerados.

Conteúdo em parceria com o Movimento Circular

Ainda que a reciclagem seja uma ação importante, principalmente pelo potencial de inclusão socioprodutiva dos catadores e catadoras, ela não é a única possibilidade. Na verdade, como costumo dizer aos alunos, na economia circular a reciclagem é “o que fazemos quando nada mais deu certo”. Ou seja, quando não fomos capazes de evitar que algo se torne resíduo, pelo projeto ou modelo de negócio, ou quando não pudemos reter o valor dos produtos mantendo sua integridade, por exemplo com o reparo ou reuso, reciclamos para resgatar o valor dos seus materiais – o que para muitas empresas ainda é a “porta de entrada” da economia circular.

Mas é preciso ir além, e para ajudar a desenvolver essa visão, gostaria de ilustrar a diversidade das possibilidades da economia circular.

  • Regenerar: Quando os impactos ambientais e a degradação já estão postos, a regeneração permite conservar e recuperar os ambientes e seus serviços ecossistêmicos. Um caso bem interessante é a polinização assistida, com a reintrodução de abelhas nativas em cultivos agrícolas, que tem um alto poder de simultaneamente favorecer a biodiversidade e aumentar a produtividade, substituindo inclusive o uso de produtos químicos. 
  • Reciclar: Por mais que a gente pense em ir além, não vamos deixar de falar da reciclagem. E mesmo que essa prática seja bem conhecida, para alguns materiais ainda existem muitos desafios – como é o caso das embalagens flexíveis e também das embalagens multicamadas. Imagine então quando estas duas características se juntam, quantos desafios temos para a reciclagem!
  • Reparar: Significa adotar práticas de consertar produtos para estender sua vida útil, ao invés de jogar fora e comprar outro. É uma tentativa de reter o valor, revertendo a “obsolescência programada” segundo a qual acaba sendo “mais barato comprar outro que consertar”.
  • Reutilizar: Propõe manter algo em ciclos de uso, seja com o mesmo usuário (como as embalagens com refil), seja com usuários diferentes (como as garrafas retornáveis). Várias empresas têm adotado soluções de reuso, tanto para produtos como para embalagens. 
  • Reduzir: Procura diminuir o consumo de recursos para satisfazer a necessidade das pessoas, por meio do projeto de produtos ou de modelos de negócio mais eficientes, como equipamentos que utilizam menos água ou energia.
  • Repensar: Propõe adotar novos modelos de produção e consumo, principalmente estendendo a vida útil dos produtos ou questionando sua posse, como no compartilhamento.
  • Recusar: Significa evitar a compra de produtos desnecessários, principalmente por meio de mudanças de atitudes e hábitos de consumo, o que depende de cada pessoa e seus valores. Um exemplo seria uma pessoa decidir usar uma mesma roupa por mais tempo, evitando a compra de um novo item. Mas essa atitude não vem sozinha, mas como resultado da construção de sólidos valores individuais de sustentabilidade, em geral a partir de um processo de educação ambiental transformadora – uma das principais causas defendidas pelo Movimento Circular, que dentre outras missões se propõe a fortalecer a conexão entre as pessoas, empresas, organizações e o poder público para a construção de uma sociedade mais circular! 

Mas o mais importante não é classificar ações, e sim entender a diversidade de possibilidades de que cada pessoa, empresa ou governo dispõe para evoluir na sua própria trajetória circular de forma contínua, melhorando sempre para juntos promovermos a transição para uma economia circular.

Flavio Ribeiro é embaixador do Movimento Circular, consultor e professor em Economia Circular, Mestre em Energia e Doutor em Ciências Ambientais. Conselheiro para Economia Circular do Pacto Global da ONU. Professor na Pós-Graduação em Direito Ambiental Internacional da Universidade Católica de Santos, na FIA Business School e na Trevisan Escola de Negócios.