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Por uma vida digna: Iniciativas trabalham para combater a pobreza menstrual

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O acesso à saúde contempla o direito à higiene pessoal, que inclui o direito a menstruar com dignidade, direito esse que é violado pela falta de itens básicos. Iniciativas como a ONG de Fortaleza (CE), Deixa Fluir, se dedicam diariamente ao fim da pobreza menstrual e à saúde reprodutiva.

O que se espera para ter uma vida digna é tudo o que é necessário à sobrevivência humana, como: acesso à saúde, condições de moradia, direito à educação e segurança alimentar. O acesso à saúde contempla o direito à higiene pessoal, que diz também sobre o direito a menstruar com dignidade, direito esse que é violado pela falta de itens básicos, como: absorvente, água, saneamento básico e também informações sobre a temática.

Desde 2014, a Organização das Nações Unidas (ONU) coloca o acesso à higiene menstrual como um direito que precisa ser tratado como uma questão de saúde pública e de direitos humanos. A falta de itens básicos durante o período menstrual reflete, por exemplo, no uso de produtos não indicados para absorver o sangue durante a menstruação, como: sacos plásticos, panos, roupas velhas, papel higiênico e, até mesmo, jornal ou miolo de pão.

Essa realidade de pobreza menstrual também se comprova através de pesquisa realizada pela Johnson & Johnson Consumer Health em parceria com os Institutos Kyra e Mosaiclab, entre os dias 23 de abril e 10 de maio de 2021, com 814 mulheres brasileiras que menstruam regularmente, entre 14 e 45 anos, representantes das classes C D, via painel online com complemento telefônico para classes mais baixas.

A pesquisa mostrou que 28% das mulheres de baixa renda são afetadas diretamente pela pobreza menstrual (cerca de 11,3 milhões de brasileiras) e 30% conhecem alguém que é afetado pelo problema. E, mais, 94% das mulheres de baixa renda não sabem o que é pobreza menstrual. Ou seja, não conseguem identificar quando vivem essa realidade.

Na tentativa de reverter essa situação, iniciativas têm trabalhado para combater a pobreza menstrual. Entre elas, em Fortaleza, existe a organização não-governamental (ONG), Deixa Fluir, que se dedica diariamente ao fim da pobreza menstrual e à saúde reprodutiva. 

Melina Coelho, diretora executiva do Deixa Fluir (Foto: Arquivo Deixa Fluir)

Deixa Fluir

Conforme relata a idealizadora e diretora executiva da iniciativa, Melina Coelho, o Deixa Fluir nasceu de uma curiosidade dela após conhecer um projeto de lei com a proposta de distribuir absorventes nas escolas. “Na época, em 2020, a deputada Tabata Amaral, que propôs a lei, foi bastante atacada. Eu, então, decidi que transformaria a indignação, ao ver esse ataque, em pesquisa. Escrevi alguns artigos acadêmicos na área mas senti que minha contribuição poderia ir além”.

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Foi, a partir de então, que Melina convidou algumas amigas para se unir a ela nesse movimento em combate à pobreza menstrual, convite que resultou em uma primeira ação alusiva ao dia da dignidade menstrual, em 28 de maio de 2021. Desde então, existe o Deixa Fluir, que atua na distribuição de absorventes e outros itens de higiene pessoal, como sabonete e papel higiênico, e também com rodas de conversa, palestras e difusão de conteúdos sobre o tema, especialmente nas redes sociais. “Nossa tentativa é de mudar a visão que a sociedade ainda tem sobre a pobreza menstrual, além de pressionar as autoridades públicas para adotar políticas que possam minimizar, ao máximo, a pobreza menstrual”.

No último mês de setembro, o Deixa Fluir distribuiu mais de 2000 absorventes, beneficiando mais de 170 pessoas, e as campanhas em prol de atender mais pessoas são recorrentes. Os interessados em contribuir podem deixar absorvente nos pontos de coleta, doar um valor para a compra de itens de higiene  através do PIX projeto.deixafluir@gmail.com e, ainda, compartilhar as campanhas e ações da iniciativa.

Os pontos de coleta do Deixa Fluir são: Eunice Salão de Beleza, OAB-CE, Clean Mega Store, J.R. Roupas de Dormir, Espaço Grão – Clínica, InkLoad – Tattoo Studio, Giovanna Vieira Centro de Beleza, Loja Bem Sem Gluten, Centro Acadêmico XII de Maio – Medicina UFC, Sala do Centro Acadêmico da Faculdade de Direito da UFC e Centro Acadêmico Fátima Serpa – Psicologia UFC. 

Ainda em relação à pobreza menstrual, Melina reconhece que muitos avanços de combate a essa realidade aconteceram de 2020, quando ela passou a acompanhar a temática de perto, até aqui. “Já temos várias leis que preveem a distribuição de absorventes”, diz Melina. Contudo, ela também reforça: “há muito a ser mudado na maneira como as pessoas vêem os corpos que menstruam. Essa é uma luta que passa por dar maior visibilidade às pessoas em condição de rua, às mulheres líderes de famílias, às periferias, à saúde ginecológica e aos direitos sexuais e reprodutivos”.

Mais iniciativas pelo fim da pobreza menstrual

Além de políticas públicas em combate a pobreza menstrual, como leis que aprovam a distribuição de absorventes nas escolas e universidades públicas, outras iniciativas se somam ao movimento pelo fim da pobreza menstrual. Em Fortaleza, podemos citar também a Sangue Nosso e o Coletivo Florescer, que estão no Instagram como: @sanguenosso e @coletivoflorescer. Em demais cidades do Brasil, há outras muitas iniciativas, entre elas: a menstRUA, de Manaus (AM); a Nosso Período, de São Paulo (SP); a Absorvendo Amor, que tem grupos de trabalho em São Paulo (SP) e no Rio de Janeiro (RJ); o Cuida Delas, em Juiz de Fora (MG); o Ativismo Menstrual, de São Luís (MA) e muitas outras.

Amélia Gomes, 28 anos, é jornalista com pós-graduação em Propaganda e Marketing. Atualmente, está assessora de comunicação no ÍRIS | Laboratório de Inovação e Dados do Governo do Ceará e voluntária na Diretoria de Comunicação do Projeto Deixa Fluir. Amélia é entusiasta de iniciativas que combatem a desigualdade e promovem impacto social positivo e, ainda, acredita que a escrita é capaz de abraçar as pessoas.

Amélia é uma das jovens selecionados no programa Impulsio.ne e faz parte da Rede de Jovens Lideranças de Impacto do Nordeste.