Em meu último artigo pro Impacta Nordeste, falei um pouco sobre a importância da avaliação de impacto para empreendimentos, projetos e programas cujos objetivos são a geração de algum benefício social ou ambiental ou a mitigação de impactos negativos em tais campos. Já neste artigo, que considero a “Parte 2” desse episódio chamado “avaliação de impacto”, traço um caminho distinto do que minha coluna se propõe. Ou seja, ao invés de um texto sobre Hard Skills, trago um misto de relato de experiências com um manifesto pela cultura de avaliação e uma reivindicação pelo acesso desse conhecimento para todes.
Nesse sentido, me recordo do início de minha carreira na área de projetos, momento no qual os questionamentos sobre esse campo eram muitos: “Como posso mensurar os benefícios que esse projeto está gerando?”; “Talvez os indicadores que estão sendo utilizados não deem conta do impacto real que esse programa gera…” ; “Já que avaliação de impacto é tão importante, por que poucas organizações e equipes implementam essa etapa em suas iniciativas?” . Mais tarde, quando me especializei em avaliação de impacto, algumas dessas indagações foram respondidas, mas também outras surgiram… e foi assim, que as críticas reflexivas dentro de um cenário mais econômico, social e ético se desenvolviam mais fortemente.
Comecei a observar que, no Brasil, conhecer, estudar e executar uma avaliação de impacto era um verdadeiro latifúndio de conhecimento. Observei que todas as organizações referência nessa temática estavam localizadas no Sudeste de nosso país. Iniciei um breve mapeamento de cursos (na época presenciais) sobre a temática e todos eram (e continuam) absurdamente caros para a realidade econômica de nosso país.
Posteriormente, após uma breve participação no acompanhamento de um processo de avaliativo, minha percepção foi a da essencialidade da presença de avaliadores de impacto que também sejam agentes locais. Ou seja, profissionais que conheçam os contextos social, histórico, econômico e ambiental do território no qual o projeto / programa / empreendimento atua e, além disso, que tenham alguma base de estudos etnográficos, para orientar a investigação através dos dados qualitativos que surgirão a partir dos relatos das pessoas envolvidas.
Por essa razão, tracei um objetivo profissional pautado em me tornar uma das referências nesse campo de atuação aqui no Nordeste, principalmente, para organizações de pequeno e médio porte. E o motivo é simples: infelizmente, o latifúndio de conhecimento brasileiro, que afasta e exclui algumas regiões do nosso país, não facilita o acesso às informações sobre a temática de avaliação. E da mesma forma que poucas pessoas podem estudar sobre o tema, outras poucas podem pagar pela execução dela, por tratar-se quase de um artigo de luxo nos setores 1, 2 , 2.5 e 3 de atividades.
Vale a pena ressaltar que uma avaliação de impacto ainda é uma realidade distante até para a maioria dos negócios sociais, por exemplo. E no caso de tais empreendimentos, friso que para serem denominados como tais, eles devem – obrigatoriamente – ser capazes de mensurar seus impactos com o apoio de uma equipe especializada no assunto. No entanto, toda essa concentração e baixa concorrência de mercado, torna essa etapa custosa, em termos de recursos financeiros.
Por isso, me questiono sobre a real concepção das organizações as quais detêm a concentração dessas ferramentas. Estariam elas reforçando a desigualdade ao dificultar esse “direito” das iniciativas? Estariam elas mantendo o ciclo de latifúndio de conhecimento e manutenção da bolha do setor?
Aqui, eu não me proponho a responder essas perguntas. Meu objetivo é fazê-los refletir sobre ações e discursos; direitos e acessos; desigualdades e promoção da educação a todes.
Assim, reforço meu compromisso ético com a disseminação dos princípios e execução da avaliação de impacto através de minha consultoria, que tem como objetivo fomentar a rede de pessoas e organizações (de pequeno, médio e grande porte) sensibilizadas com a temática no Nordeste. Além disso, mantenho o comprometimento em abrir os códigos dessa temática e através das facilitações e assessoria técnica.
Finalizo parabenizando e agradecendo às organizações e aos especialistas – que assim como eu – executam este serviço de maneira colaborativa, a fim de estimular a autonomia das organizações no processo de monitoramento e autoavaliação de resultados e do impacto gerado. Pois, não se trata apenas de propiciar um novo olhar para uma organização, mas também contribuir para a ampliação do capital político de uma iniciativa que está buscando contribuir com a melhoria do bem-estar de nossa sociedade.
Juliana Serafim é Mestra em Linguística (UFPE), Gerente de Projetos de Impacto e Inovação Social (PMD Pro/PM4NGOs), Especialista (e apaixonada) em Matriz de Indicadores, Planejamento Estratégico, Monitoramento e Avaliação de Impacto de Projetos e Negócios Socioambientais e Professora da Educação Básica. Já atuou como Consultora de organizações como a ONG The Nature Conservancy , da start-up Mete a Colher, do Núcleo de Gestão do Porto Digital e da ONG Somos Professores.