A luta por um futuro mais igualitário pode e deve começar em âmbito local. O Projeto Mulheres do Amanhã fortalece igualdade de gênero e empoderamento feminino na comunidade do Aratu, em João Pessoa (PB), oferecendo capacitações e ações de combate à violência doméstica para mulheres em situação de vulnerabilidade.
Não há como pensar no desenvolvimento, em qualquer escala territorial, sem pensar no combate às desigualdades. Entre os vários tipos de desigualdades que permeiam nossa sociedade, a luta pela equidade de gênero é tão importante que compõe um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 para o desenvolvimento sustentável da ONU, mais precisamente o ODS 5 – Igualdade de Gênero.
A desigualdade de gênero se relaciona diretamente com as desigualdades econômicas, já que a pobreza afeta desproporcionalmente as mulheres. Isso acontece porque as oportunidades são desiguais e essa lacuna é ainda mais profunda nos países mais pobres. A diferença presente nas relações de poder e nas tomadas de decisão entre homens e mulheres são uma das maiores causas estruturais de instabilidades sociais e políticas que geram a pobreza. Assim, por mais que o tema da equidade de gênero tenha um ODS só seu, o tópico conversa com outros ODS como o 1 – Combate à pobreza, 10 – Combate às desigualdades, 17 – Paz e instituições eficazes, e outros, de forma mais transversal.
Progresso em passos lentos
No Relatório Global de Desigualdade de Gênero de 2022, feito pelo Fórum Econômico Mundial, entre as 146 nações que fazem parte, o Brasil ficou em 94º lugar no ranking. O relatório é construído a partir dos pilares: saúde e sobrevivência, grau de instrução, participação econômica e oportunidades e empoderamento político. Apesar de ser um progresso lento, o Brasil subiu duas posições ao comparar sua colocação em 2020, quando estava na 92º posição. Outra avaliação que demonstra o progresso lento do país foi a do Índice de Gênero dos ODS 2022, em que o Brasil alcançou a 78ª posição, uma a mais do que na edição anterior, em 2019. Contudo, é fato que precisamos acelerar muito em direção a igualdade de gênero se quisermos nos aproximar das metas da Agenda 2030.
Diante da necessidade de combater o preconceito e estimular o empoderamento de meninas e mulheres, projetos sociais tem desempenhado um papel imprescindível quando pensamos em ações locais. A partir da organização e articulação de um grupo, muitas mulheres em situação de vulnerabilidade se sentem fortalecidas para alçar voos mais altos.
Quando observamos agendas mundiais, como a Agenda 2030, tendemos a achar que nossas ações locais não são suficientes ou não contribuem efetivamente para a mudança de um quadro mais amplo. Contudo, é dentro do cenário possível, próximo a nós e ao alcance das nossas mãos, que começamos a mudança que queremos ver no mundo. Trazer cada tópico das metas dos ODS para um âmbito local é essencial para o sucesso dessa agenda e diversas iniciativas já estão acontecendo.
Projeto Mulheres do Amanhã
Vários projetos sociais que tem como foco mulheres em situação de vulnerabilidade já são desenvolvidos no Nordeste. Essas iniciativas buscam promover a igualdade de gênero através do fortalecimento da participação das mulheres nas decisões locais, oferta de capacitação para melhorar as suas condições socioeconômicas e ações de combate á violência doméstica.
O projeto Mulheres do Amanhã surgiu em 2018, em João Pessoa, na Paraíba, e foi criado por Yara Guimarães, fundadora e presidente atual da ONG. Tudo começou quando Yara se deparou com a realidade das mulheres da Comunidade do Aratu e teve o desejo de proporcionar melhores oportunidades para elas. O público-alvo das ações da ONG é a mulher que é mãe solo e chefe de família – um perfil comum em muitas comunidades brasileiras. O objetivo do projeto é promover o empoderamento feminino, oferecendo capacitações que acabam impulsionando essas mulheres para o mercado de trabalho, proporcionando ferramentas para uma melhor (re) colocação profissional.
O projeto tem como sede a própria casa de sua presidente, Yara, situada na comunidade do Aratu, no bairro de Mangabeira VIII, em João Pessoa-PB. Conta com parcerias com instituições públicas, como a Universidade Federal da Paraíba (UFPB), a Prefeitura de João Pessoa (PMJP) e o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI); e privadas, como a Faculdade Internacional da Paraíba (FPB), que já ofereceram cursos de capacitação.
O Mulheres do Amanhã também conta com a presença de assistente social e conselheira tutelar que acompanham o projeto de perto, dando suporte e apoio necessários. Outro papel importante desempenhado pela organização é de lutar pela organização fundiária na comunidade, através do diálogo com os entes federados, a fim de regularizar a situação dos moradores.
O comércio local é bastante incentivado pelas mulheres do projeto, fortalecendo uma Economia Solidária e fazendo com que os produtos circulem dentro da comunidade. Além dessa sensibilização sobre os produtos, também há a preocupação de priorizar a escolha por mão-de-obra de moradores locais.
Durante a pandemia, em parceria com projeto Flores em Vida, o Mulheres do Amanhã produziu sabão líquido para distribuir gratuitamente para os moradores da comunidade.
A comunidade conta com muitos agentes da reciclagem, o que faz com que o projeto também tenha a preocupação de orientar esses profissionais em relação ao uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs). Por meio de parceria com a UFPB e a Empresa Municipal de Limpeza Urbana (EMLUR), já ocorreu uma ação de doação de luvas e de protetores solares.
O projeto articula também doações de roupas, alimentos e materiais de higiene para pessoas da comunidade, sendo possível suprir um pouco das necessidades básicas.
“O projeto tem o intuito de promover o empoderamento feminino, em virtude disto sou extremamente grata, em poder contribuir com o crescimento delas. Destarte, o empoderamento é nossa mola motriz, o simples fato do apoio mútuo, nos faz acreditar em um futuro melhor. Ademais, sabemos que a educação é o que manda o mundo. Dito isto, contamos com diálogo aberto perante Município, Estado e Defensoria Pública, ocasião em que abrimos e ampliamos nossos horizontes, sempre através da qualificação, posto que, somos resistência e iremos sempre seguir adiante.”, diz Gerlane Belarmino, vice-presidente do Mulheres do Amanhã.
Alguns cursos já ofertados para as mulheres da comunidade do Aratu pelo projeto em parceria com outras instituições foram: curso de cuidadora de idosos, curso de fabricação de sabão ecológico, curso de fabricação de docinhos gourmet, oficina de penteados afro e curso de fabricação de bonecas. Ações para conscientização e promoção de saúde e bem-estar também são realizadas periodicamente em parceria com a prefeitura e outras instituições, como o Odontomóvel, disponibilizado pela Prefeitura sempre que é necessário para atender a comunidade.
Para conhecer mais sobre o projeto, acompanhe nas redes sociais.