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Projeto no interior do RN revela jovens talentos do atletismo

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Mais de mil crianças já passaram pelo projeto localizado em Cerro Corá (RN) e idealizado por um apaixonado pelo esporte.

O esporte possui inúmeros benefícios para a qualidade de vida do ser humano. Na fase escolar, a prática esportiva é essencial, sendo um importante aliado na preparação de crianças para a vida em sociedade, trabalhando a cooperação, a socialização, o exercício da disciplina, o senso de responsabilidade, dentre outros benefícios. 

Mesmo com tantas vantagens, infelizmente no Brasil há poucos incentivos a prática esportiva nas escolas. O investimento financeiro realizado pelo Governo Federal é direcionado em grande parte para atletas de alto rendimento, já para a formação da base, há pouco apoio ou incentivo. Estados e municípios também não fazem sua parte. O que encontramos são quadras sucateadas, espaços que poderiam estar servindo para treinos, sendo utilizado como depósitos, e as crianças e jovens que poderiam estar se dedicando a algum esporte, estão nas ruas. 

É com essa realidade, que em Cerro Corá, município do Rio Grande do Norte, o professor de educação física, Edilson Oliveira, treina cerca de 50 crianças e jovens, no projeto Saltando para Vencer na Associação Esportiva e Sócio Cultural Cerrocoraense (AESC).  

Jovens do projeto Associação Esportiva e Sócio Cultural Cerrocoraense (AESC) (Foto: arquivo pessoal)

“Nosso projeto de iniciação a prática do atletismo começou ainda nos anos 90, quando eu estudava na cidade vizinha, Currais Novos, e lá fui assistir uma competição escolar entre cidades da região. Me apaixonei pela modalidade, ali tive a ideia de ser treinador e pensei que quando voltasse para  a minha cidade colocaria a ideia em prática. E assim o fiz, tivemos os primeiros passos sempre com crianças das escolas públicas”, relembra Edilson.

Por falta de apoio o projeto parou em 1998 e só retornou em 2007. “Esta volta veio com mais entusiasmo, mesmo sendo um trabalho voluntário, onde não temos nenhum tipo de apoio financeiro, trabalhamos com muita garra e amor. Aos poucos fomos conseguindo alguns materiais de treinamento, ainda longe de ser o ideal, mas enfrentamos as dificuldades sempre de cabeça erguida”.

Celeiro de campeões, apesar do pouco apoio

Mesmo com todas as dificuldades e falta de apoio, nesses 20 anos de projeto, cerca de mil crianças já foram treinadas por Edilson e alguns talentos revelados, inclusive um título de campeão mundial, em 2015, na prova dos 110 metros com barreira, com o Pedro Hyaggo, de 16 anos. O professor conta que o atleta nunca havia treinado numa barreira oficial, ele praticava em barreiras improvisadas de cano de PVC. Pedro venceu uma seletiva nacional realizada em Recife (PE) e disputou o mundial escolar na China, trazendo a medalha de ouro para o Brasil. 

Outras conquistas do grupo de atletas liderados por Edilson são: Daniele Duarte, campeã brasileira escolar em 2010 no arremesso do peso; Euricharles Fernandes, medalha de bronze em 2015 no salto triplo no Campeonato Brasileiro Sub-16 e prata no brasileiro Sub-20, em 2017; José Victor, bronze nos 5 km da marcha atlética no Campeonato Brasileiro Sub-16, em 2016; Regiclacia Silva, campeã brasileira no salto triplo, em 2020, no Sub-20; Rayane Costa e Hawan Oliveira campeões na Copa Brasil de Marcha Atlética no Sub-16, em 2021, nas provas de 5 km e 10 km, respectivamente. 

Adrea Sebastian – Campeonato Estadual Sub-18

“Mesmo com tantos resultados expressivos ainda não temos um apoio por parte do poder público. O único apoio que recebemos é o transporte para conduzir nossos atletas para as competições. Alguns amigos comerciantes de Cerro Corá nos ajudam fazendo vaquinhas para participar de eventos nacionais, principalmente para a compra de passagens aéreas. Lutamos com determinação e nunca deixamos que as dificuldades desanimem. O que mais nos encoraja é saber que estamos dando oportunidade a muitas crianças carentes que podiam estar no mundo das drogas, e o esporte, através do atletismo, as fazem sonharem com dias melhores”.

O esporte aliado aos estudos

O projeto conta, atualmente, com cerca de 50 crianças entre 10 e 17 anos. É feito um acompanhamento escolar, observando a frequência, notas e comportamento. Também são realizadas reuniões periódicas com os familiares e através de campanha com amigos e comerciantes da cidade, é feita uma distribuição de cestas básicas para as famílias mais carentes. 

A Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt) contemplou o projeto com um financiamento, através da Caixa Econômica Federal, no valor mil reais mensais, dinheiro exclusivo para alimentação dos atletas em competições.

Os treinos são realizados de segunda a sexta-feira com os atletas de alto rendimento e os demais treinam três vezes por semana. Na maioria das vezes os treinos são realizados no campo de futebol localizado no centro da cidade, em avenidas e também há treinos adaptados para estradas de barro. 

No próximo mês de agosto, cinco atletas irão competir no Campeonato Brasileiro Sub-18, que será realizado em Bragança Paulista (SP). São eles: Josefa Rayane da Costa Silva, 16 anos, 5 km na marcha atlética; Hawan de Oliveira Rodrigues, 16 anos, 10 km na marcha atlética; Adrea Sebastian do Nascimento Silva, 17 anos, 200 e 400 metros rasos; Wesley Mesquita Ferreira, 17 anos, saltos triplo e distância e Lara Yasmin de Oliveira Borges, 15 anos, 5 km na marcha atlética.

Dentre os destaques desse grupo, está a atleta Rayane Costa que já possui duas medalhas de campeã brasileira nos 3 km de marcha atlética e uma medalha de prata nos 5 km na categoria Sub-18. Ela também foi convocada para a seleção brasileira Sub-18 e participou do Campeonato Sul-Americano de Marcha Atlética que aconteceu no início deste ano, no Peru.

Outro destaque fica por conta de Weslley Mesquita na prova do salto triplo. Em março passado, o atleta foi vice-campeão brasileiro na seletiva para a Gymnaziadas, uma das principais competições esportivas do mundo, realizada em Aracaju (SE), ele saltou 14,50 metros ficando a apenas 2 cm do 1º colocado. 

“O que me deixa mais feliz é ver essas crianças sendo preparadas para serem cidadãos de bem. É o que sempre digo a elas você pode não ser um grande atleta, mas pode ser um grande cidadão. A gente vê tanta coisa ruim perto delas, principalmente as drogas, tanta gente que chega oferecendo. Mas elas não querem, pois estão com a cabeça ocupada”, finaliza.

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