Startups? Negócios de Impacto Positivo? Negócios Sociais? Porque um mercado tão inovador, com tanto potencial de impactar a vida das pessoas e tão correlato ao Serviço Social não tem o protagonismo dos profissionais desta área? Essa sempre foi a inquietação, das assistentes sociais Carolinna Amorim, Renata Fernandes e Rosangela Cruz, e, que mobilizou a ideia de um bate-papo, que tem o mesmo nome deste artigo, realizado em dezembro do ano passado.
As três, muito curiosas e conectadas com negócios sociais, queriam entender porque não haviam profissionais de serviço social neste mercado. Seria falta de interesse da profissão nesta área ou uma não ocupação por falta de conhecimento ou identificação? Essa inquietação surgiu visto que o trio de profissionais enxerga neste movimento uma enorme possibilidade de criar uma sociedade mais justa e um campo em potencial para a inserção desses profissionais, que geralmente tem sua atuação mais voltada para equipamentos públicos e terceiro setor, além de uma relativa autonomia na área privada.
O bate-papo aconteceu no Centro de Inovação de Impacto de Salvador, o Colabore. E, para contribuir com a discussão e tornar o papo mais plural, foram convidados experts em tecnologia, negócios sociais e empreendedorismo: Lucas Marinho, administrador e Gestor Executivo na Associação de Jovens Empreendedores da Bahia (AJE-BA); Rafael Fagundes, engenheiro eletricista, mestrando em Engenharia de Sistemas e Produtos, e membro do Raul Hacker Club; e Patricia Pastori, também assistente Social e co-fundadora da Startei – Empreendedorismo e Inovação.
A ideia do evento era tentar aproximar os assistentes sociais desse “novo” ecossistema e ampliar as reflexões sobre o tema. O papo discutiu questões políticas, econômicas, acadêmicas e sociais. Os participantes apresentaram posicionamento diversos, alguns com receio do negócio social ser uma traição aos teóricos que norteiam a profissão e, que devido à essa base teórica, essa atuação não seria possível ou limitada, indo contra o projeto ético-político da profissão. Outros vislumbraram uma nova área de atuação com mais modernidade, resolutividade e menos burocracia, garantindo sempre os princípios da profissão voltados à redução das desigualdades socioeconômicas e da questão social, ao mesmo tempo em que as discussões também se voltaram à formação profissional, sobre a importância de inserir essa pauta dentro da universidade e construir arcabouço teórico e metodológico sobre essa possibilidade de atuação.
A reflexão sobre a formação acadêmica se estendeu, pois foi unanimidade entre os participantes de que a formação desse profissional é voltada à perspectiva da problematização da questão social em si e não da proposição de soluções mais inovadoras e de alternativas de mercado para a resolução desses problemas, reduzindo-se apenas às soluções que já existem há décadas. O Serviço Social possui uma história de transformação evolutiva, com várias fases de reconceituação da profissão, passando de uma atuação católica e assistencialista, para uma atuação empoderadora e de garantia de direitos. Agora, é necessário um novo momento de reconceituação da profissão, sob a perspectiva de uma nova prática, adentrando também o cenário da sustentabilidade, que empresas e negócios sociais já estão vivenciando.
Os Assistentes Sociais são profissionais cujo embasamento sociopolítico e arcabouço teórico-metodológico possibilitam o entendimento da dinâmica das relações sociais, assim como tem um olhar diferenciado para as problemáticas sociais que são o objeto central dos negócios de impacto e do empreendedorismo social. Sendo assim, esses profissionais podem contribuir muito para a formação desses novos negócios, seja no âmbito do impacto social positivo (setor 2.5) ou do negócio social, encontrando soluções para essas questões ao entenderem a raiz do seu problema.
Depois de duas horas de diálogo, quando o bate-papo foi encerrado, a sensação era a de que a inquietação inicial das assistentes sociais era compartilhada por todos os presentes, afinal é a curiosidade e a inquietação desses profissionais que pode mudar esse cenário, ao provocar renovações na academia e no sistema em si. Esse é só o começo de uma mudança em que não só o governo, a filantropia e as organizações sociais vão resolver as problemáticas socioeconômicas, mas também a sociedade civil organizada e profissionais engajados com a mudança desse paradigma. A inovação social é sim um caminho e os assistentes sociais estão preparados para construir essas soluções.
Carolinna Amorim é Assistente Social, especialista em comunicação e mobilização social, gestão sustentável e responsabilidade social corporativa. Atualmente, é empreendedora social e membro da Comunidade B Bahia com a Wheel – Movimentando Pessoas e está como Analista Social na Humana Povo para Povo Brasil, entidade que executa programas e projetos voltados para o desenvolvimento social por meio de tecnologias sociais aplicadas.