“No coração do litoral sul da Paraíba, o Shopping Rural Sítio Tambaba redefine a economia solidária, transformando a união de produtores e artesãos locais em uma vitrine sustentável. Mais do que um espaço de comércio, o shopping é uma plataforma onde a colaboração comunitária impulsiona sonhos e sustenta uma nova dinâmica econômica na região.”
*Foto de capa: Shopping Rural (Gabriel Bandeira / Divulgação)
O primeiro Shopping Rural do Brasil está localizado no Assentamento Rural Tambaba, no litoral sul da Paraíba. Maria das Neves, conhecida como Nevinha, e sua mãe iniciaram o empreendimento com a loja Doces Tambaba, onde produziam compotas e doces utilizando as frutas colhidas no quintal de casa. O que começou de forma simples, com as duas vendendo os doces sob a sombra de um cajueiro às margens da BR, tornou-se uma história de sucesso que levou Nevinha a palestrar em diversas regiões do Brasil.
Sem saber ler ou escrever, Nevinha e Luiza aprenderam o empreendedorismo na prática e, com apenas R$50,00 emprestados e dois tipos de doce, começaram sua trajetória empreendedora movidas por determinação e coragem. A iniciativa, que começou em 2013, contou inicialmente com o apoio de bugueiros e guias turísticos locais para atrair visitantes. Posteriormente, com a força de uma rede de colaboração e o suporte do Sebrae/PB, se transformou em um negócio próspero, baseado no turismo de base comunitária e na economia solidária. Em 2023, o negócio de Nevinha esteve entre os 10 melhores empreendimentos oriundos da favela do Brasil, na Expo Favela nacional.
Um ponto de destaque é que as lojas foram concebidas a partir dos costumes locais, utilizando materiais típicos da região, como a taipa, e incorporando elementos culturais marcantes, como o crochê e a chita na decoração. Além disso, redes e bancos feitos de raiz de sucupira estão espalhados pelo espaço, reforçando ainda mais a identidade regional.
Com cerca de 10 lojas, o Shopping Rural envolve os moradores em todas as etapas do projeto, desde a produção até o atendimento aos visitantes. Essa integração promove um forte senso de pertencimento, valoriza a identidade local e incentiva a preservação cultural. Os turistas não apenas consomem os produtos regionais, mas também vivenciam uma experiência imersiva, que conecta as tradições nordestinas a práticas sustentáveis, características do turismo de base comunitária.
Atualmente, o espaço recebe, em períodos de alta temporada, cerca de 500 visitantes por dia, consolidando-se como uma parada obrigatória para quem explora as famosas praias do litoral sul da Paraíba.
Turismo de base comunitária
O turismo de base comunitária (TBC) é um modelo que coloca a comunidade local no comando do planejamento e execução das atividades turísticas, oferecendo aos visitantes uma vivência autêntica que os conecta profundamente com a cultura, as tradições e o dia a dia da região. Além de proporcionar uma experiência enriquecedora, essa modalidade promove um impacto social significativo, fortalecendo a autonomia e o protagonismo dos moradores.
Diferentemente do turismo convencional, que frequentemente contribui para a uniformização cultural, o turismo de base comunitária promove a valorização da identidade local ao permitir que a própria comunidade seja protagonista na apresentação de sua cultura. Esse modelo incentiva o orgulho pelas tradições e costumes, que são compartilhados de forma autêntica e se tornam um elemento central da experiência turística, contribuindo para sua preservação ao longo do tempo. Além disso, o TBC desempenha um papel importante na inclusão social e econômica de grupos historicamente marginalizados, como mulheres e comunidades indígenas, por exemplo, ampliando oportunidades e fortalecendo vínculos comunitários.
O Shopping Rural Sítio Tambaba exemplifica perfeitamente essa abordagem. A participação direta da comunidade traduz os valores do turismo de base comunitária em ações concretas, fortalecendo a identidade cultural e o senso de pertencimento.
Desenvolvimento local e economia solidária
Como um grande exemplo de sucesso, o shopping rural possui faturamento mensal de 100 mil reais por mês e gera renda para 52 famílias, mostrando o impacto socioeconômico positivo na região. É um exemplo concreto de como a economia solidária pode ser uma solução eficaz para o desenvolvimento local. Ao adotar princípios como autogestão, comércio justo, cooperação e gestão democrática e participativa, ele cria um modelo sustentável de geração de trabalho e renda, especialmente voltado para as populações mais vulneráveis. Esse enfoque não apenas fortalece a economia local, mas também promove a distribuição equitativa dos benefícios gerados coletivamente, ajudando a reduzir o desemprego e a desigualdade social.
A união entre o TBC e a economia solidária favorece a criação de uma rede forte e agregadora. Os diferentes atores da comunidade, como produtores, artesãos, guias turísticos e outros empreendedores locais, trabalham juntos, compartilhando conhecimentos e recursos. Essa rede de colaboração não apenas fortalece a economia local, mas também cria uma base de apoio mútuo, onde cada participante contribui para o sucesso coletivo.
O Shopping se distingue pelo destacado protagonismo feminino em sua gestão e operação. A iniciativa proporciona oportunidades para que mulheres da comunidade impulsionem seus empreendimentos, ao mesmo tempo em que fomenta a independência financeira e a liderança, consolidando o papel feminino como motor de mudança social e econômica.
Desenvolvimento sustentável: o shopping rural e a Agenda 2030
Frequentemente, o desenvolvimento sustentável é visto como algo abstrato e distante da realidade dos pequenos negócios. No entanto, o Shopping Rural demonstra como é possível integrar de forma prática o modelo de negócios à Agenda 2030 da ONU. Ao analisarmos os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável dessa agenda global, fica claro como as práticas do shopping se alinham a esses objetivos, mostrando que a sustentabilidade pode ser um valor presente em qualquer tipo de empreendimento.
A integração dos moradores em todas as etapas do projeto, desde a produção até o atendimento aos turistas, está diretamente relacionada ao ODS 8 (Trabalho Decente e Crescimento Econômico), ao criar oportunidades de emprego e renda para a comunidade, com foco em inclusão social e equidade. A cooperação entre os participantes do projeto reflete o ODS 17 (Parcerias e Meios de Implementação) e o protagonismo feminino contempla o ODS 5 (Igualdade de gênero).
Além disso, o modelo de negócio adotado promove o ODS 12 (Consumo e Produção Responsáveis), ao incentivar uma produção que usa com responsabilidade os recursos naturais e culturais da região. O foco na identidade local e na preservação das tradições culturais também contribui para o ODS 11 (Cidades e Comunidades Sustentáveis), ao fortalecer o senso de pertencimento e a proteção do patrimônio cultural. A experiência imersiva proporcionada aos turistas, que conecta as tradições nordestinas com práticas sustentáveis, também está alinhada com o ODS 4 (Educação de Qualidade), ao promover a educação ambiental e cultural de maneira prática e acessível para os visitantes.
Dessa forma, o primeiro Shopping Rural do Brasil é um modelo não só de um empreendimento de sucesso em termos socioeconômicos, mas também serve como modelo de como as comunidades podem se apropriar da Agenda 2030, tornando-a uma realidade palpável e aplicável no cotidiano.
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