Opinião

Sobre o julho das pretas: Levanta as mina!

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Quem procura, acha?!

A cientista que habita em mim pensa que sim! Que pra tudo nessa vida, ainda mais com internet, basta fazer bem a procura. Então esse lance de “não acho que existe”, “não conheço”, “nunca vi”, “não tem…” é MUITO raro.

Então, quando me dizem que não existem pessoas pretas com capacidade e competência para ocupar espaços ou que está difícil recrutar pessoas x ou y eu tenho, normalmente, três reações: 😑 🙄 😳

Depois de respirar eu lembro que nem todo mundo vive minhas bolhas e que, estando no “main stream”, como diz o meme: É raro, mas acontece muito. Especialmente quando nos referimos a procurar líderes com posição de destaque em grupos historicamente minorizados.

Então pensei em dar eco a uma matéria do Mundo Negro que publicou recentemente uma lista de 25 mulheres pretas que estão liderando o mercado corporativo. Elas representam algo como 1% das lideranças corporativas no Brasil e são as mais afetadas pelas desigualdades salariais (leia mais). Mas elas existem! E precisamos apoiá-las, para que essa porcentagem só aumente e por que é uma realidade muito dura! Dúvida? Leia aqui.

Dessa lista, eu tenho acompanhado de perto:

Selma Moreira é muito inspiradora em como conduz transformação em todos os ambientes em que passa com criatividade, fomentando conexões…

Grazi Mendes (Ela / Ella / She / Her) tem vida bem ativa aqui no LN e compartilha coisas bem interessantes, sobre o que ela faz e sobre o tema de D&I.

Geórgia Barbosa também é bem ativa e tenho observado o trabalho de impacto dela com o Afroricas…

Conheci outras interessantes na lista, então recomendo a leitura.  Mas, quero adicionar algumas mulheres da minha rede que são incríveis e não apareceram lá:

Carla Caroline é pura inspiração em como conduz o time e as pautas e, como leva sua carreira.

Lisiane Lemos é incansável sobre a promoção de espaço para pessoas pretas e sobre usar as redes pra promover discussões nesse sentido.

Camila Torres Cesar é uma grande profissional no campo da justiça, atua em muitas frentes para ampliar a diversidade nos espaços e tem feito treinamentos muito relevantes pra pauta de D&I no ambiente corporativo.

Nina da Hora é essencial para quem quer pensar criticamente nessa era de IA e também tem interesse nos campos de conselho de orgs.

Ah! mas esse cenário é só no setor corporativo… É não, minha jóia! Sabemos que no terceiro setor, por exemplo, por volta de 65% das pessoas empregadas no terceiro setor são mulheres, mas elas sofrem de problemas bem semelhantes aos que são identificadas no mundo corporativo (leia mais). Essa pesquisa também é ótima para entender essas disparidades no setor.

É fim de julho das pretas, mas sempre valerá lembrar!

E pra você que diz, que tá difícil… O que pode estar acontecendo?

  1. Você não está dedicando tempo e à busca. Nem tudo está fácil ou no mesmo idioma do investigador, por exemplo. Viva a IA nesse campo, mas lembre que ela só responde o que você pergunta (e essa resposta é cheia de vieses) e que existe racismo algorítmico.
  2. Você não dedicou atenção a coisas relacionáveis. Às vezes está pesquisando apenas coisas muito específicas, procurando respostas exatas e a vida não é ciência exata. Como anda a capacidade de fazer relações aí?
  3. Ou você não fez perguntas às conexões, por que não tem uma bolha/rede suficientemente grande ou não manja de como ativar sua rede.
  4. Você não está trazendo pessoas diversas para dentro dos seus ambientes de trabalho direta ou indiretamente.

Então, se a gente não tá achando, não é que não existe… é que quem está em situação de privilégio (desde saber ler a ter possibilidade de recrutamento e contratação) não está fazendo tudo que pode.

A nós pretas ou pessoas em grupo historicamente minorizado, como diz a música da MC Carol que dá nome a esse texto “levanta as mina”.

Resista, insista, seja estrategista. Não vamos nos esconder, a gente existe.

A gente tá vivendo uma maratona. E, como o futebol feminino tem nos mostrado (vejam essa propaganda), um dia vão ter que nos aceitar, vão sentar e nos assistir. Levanta e anda.

E tu que não é mina ou mona, pensa no que você pode fazer hoje pra contribuir para que essa realidade mude, quem você pode levantar?

Raiana Lira. Mulher preta e nordestina. Consultora de negócios para gestão centrada na pessoa e impacto social positivo. Educadora e facilitadora de processos para que pessoas possam resolver problemas de maneira inovadora, através do desenvolvimento de habilidades e descobrimento de suas potências. Cientista e professora universitária por 12 anos. Desde 2015 no campo do empreendedorismo com propósito para construir um mundo com mais justiça social e ambiental. Nas horas vagas poeta e aprendiz de várias artes. Acredito na potência do sonho e da vontade de transformar!